Pense-se o que se pensar sobre a utilização mais frequente das “caixas de comentários” dos blogues, eles são curiosos e reveladores, em termos de sociologia cultural, sobre o estado do recalque político entre os incontinentes do insulto. Mas têm de ser considerados na sua escala e com o devido desconto porque, felizmente, não se podem extrapolar para todo o estado cívico da Nação. O recurso fácil ao anonimato (tout court ou pela multiplicação de pseudónimos) e a excitação do teclar fácil, rápido e fulminante, incrementam o funcionamento dos neurónios mais para os lados do ódio, do insulto, do preconceito, do estereótipo e da prosápia, enfim da preguiça e da degradação intelectual, que para o exercício do humor, do debate e do prazer do contraditório pela aferição com risco do fundamento das certezas de cada um. Mas sempre foi assim, disparar e ofender foi sempre mais fácil que rebater com argumentos, respeitando o adversário político. E o que a blogosfera acrescentou à ancestral atracção pela facilidade no panorama de uma culturalização recente e lenta foi a rapidez e a impunidade. Portanto, não é um drama, é uma evidência. Ou, se preferirem, uma “evolução tecnológica” no pior da nossa idiossincrasia, mas que é parte dela, sem dúvida.
Por exemplo, os comentários pendurados neste post são bons exemplos sobre as campaínhas tresloucadas que atormentam os cérebros dos blogo-tchekistas. Uma transcrição (não comentada nem classificada ou adjectivada) de um parágrafo de um artigo do “Avante” (um “artigo de opinião” subscrito por um alto dirigente do PCP), com link a facilitar o acesso ao texto integral, desencadeou uma cadeia de insultos (o menos grave) mas, espantosamente, a atribuição ao acto de transcrição de revelação e confirmação de um infernal anticomunismo. Ou seja, por péssima consciência decerto, citar o “Avante” é olhado, pelos mais genuínos (ou esquizofrénicos) vigilantes da ortodoxia partidária marxista-leninista, como uma expressão ignóbil de ódio ao PCP. Ao que chegámos. Razão alguma terá Jerónimo de Sousa quando, no mesmo número do “Avante” - pedindo eu, desde já, antecipada desculpa pela reincidência no crime de transcrição -, disse em entrevista:
“Persistem dificuldades e atrasos, designadamente na compreensão política sobre a situação financeira ou sobre a importância da imprensa do Partido.”
Destas palavras com a autoridade de virem do SG do PCP constata-se, pois, que não só há gente (demais) que fala e fala mas não paga as quotas como nem todos os que escrevem no "Avante" têm boa conta da importância do orgão. Por dificuldades e atrasos. Nem mais.
05/06/10
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1 comentários:
É assim uma espécie de marquesa de psiquiatra.
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