08/07/10
Futebol de praia
por
Miguel Cardina
Qual ave de minerva que levanta voo ao crepúsculo, também este blogue se tem dedicado a esmifrar a temática futebolística agora que a peneira das eliminatórias nos deixou entregues à joeira final. Observo atentamente as evocações do carácter cooperativo da jogo, as análises centradas no relacionamento amoroso com a bola, a crítica à competição. Eu, que percebo tanto de futebol como de música clássica (e de certas áreas da filosofia, vá), acho que talvez fizesse sentido (des)complicar um bocado e diferenciar o futebol que se joga do que se vê jogar, a peladinha do espectáculo, a participação da representação. No meu caso, aborreço-me frequentemente diante do televisor (estádios é outra história, bem sei, mas é droga que não consumo) e sinto um frémito na espinha de cada vez que jogo à bola. Por incapacidade de comunhão mística com o outro que frui (ou compete), tenho alguma dificuldade em me abandonar às emoções arrebatadas dos torcedores. Penso sempre nisto como uma falha, mas a verdade é que já vi esta incapacidade ser transformada em gesto poético: foi no Portugal - Costa do Marfim, quando um conjunto de adeptos abandonou o écran gigante para... jogar futebol. Quase parecia um gesto político, não estivessem eles francamente divertidos. Neste domingo que vem, quando duas monarquias estiverem a disputar uma final arbitrada por um inglês, isso sim, é que seria uma atitude digna do centenário da república: ir jogar à bola. Na praia, de preferência.
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2 comentários:
Muito bom, Miguel! Be my guest...
Por acaso acho que ao Meco.
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