04/02/11

Ó do Rato, Esperem mais uns dias antes de mostrarem as mãos. A merda ainda não saiu! Continuem a lavar.

No primeiro dia eram todos nossos irmãos. No segundo dia um dos nossos irmãos caiu em desgraça e começou a dar mau aspecto termos o rapaz no retrato de família. No terceiro dia dissemos que já não éramos irmãos e empurrámos o tipo para fora da moldura, como quem não quer a coisa. No quarto dia? Ao quarto dia diremos que nunca fomos irmãos, que quem diz que fomos irmãos está do lado do nosso ex-irmão. E soltamos o nosso deputado independente João Galamba. Vai-te a eles, ide, e se for preciso faz aquele número de chamar filho-da-puta, olha, ao Mubarak, pode ser ao Mubarak, esse nosso ex-camarada com quem te..ivemos óptimas relações e que mas que afinal (afinal não! sempre soubemos!) é ditador sanguinário e asqueroso e mais não sei o quê.

Agora a sério, ó do Rato: é este o filme que que querem passar nos próximos tempos de antena? Se é, vão ter que apostar mais nos efeitos especiais. Isto que o João Galamba afirma neste post é poucochinho. A propósito do apoio do BE à revolução em curso no Egipto, diz Galamba: “O que é inaceitável é que um partido que resulta da fusão da UDP e o PSR tenha a ousadia de dar lições de democracia ao PS”. Ora, para ser curto e grosso, isto é conversa de merda. O PS era até há poucos dias um partido irmão (primo, se quiserem) do Partido de Mubarak, ponto final parágrafo. Digam que no oriente é tudo diferente, que política é política e princípios são princípios, que a democracia a norte é uma coisa e a sul é outra, o que quiserem. Mas a verdade é que estão a levar com uma "lição de democracia" (fórmula meio paradoxal, creio, mas, se o Galamba usa, devolvemos) no meio das trombas. E não, a lição não é dada pela UDP e pelo PSR, mas por quem se revolta nas ruas do Cairo. E vão levar com a mesma lição novamente se a revolta contra a ditadura chegar a países como a China ou como Angola, para não referir outros mais. Metam o rabinho entre as pernas à vontade, que não cabe. Em seu abono, espero apenas que, nos próximos dias, o Galamba alegue que tem dúvidas que o regime de Mubarak não seja uma democracia. Se não souber como se faz, o Bernardino Soares (que tanto foi massacrado por um certo episódio que a gente bem sabe qual foi) ensina-lhe com agrado, estou certo. Porque ou é isso ou então assume que os ditadores dos outros são piores do que os seus.

Já agora, é muito engraçada a tentativa do Galamba salvaguardar a Política XXI no meio das suas críticas ao BE. Na verdade, parte importante dos membros da Política XXI foi militante de um partido, o PCP, de quem o Galamba também não leva, seguramente, e como ele diz, "lições de democracia". Mas nesta omissão da Política XXI (de que a própria não tem muitas culpas, diga-se), já não se trata de conversa de merda e sim de passar a mão pelo pêlo do bicho. E, no entanto, se do ponto de vista do seu percurso político-ideológico, há alguma parte do BE que não pode levar as tais "lições de democracia" de que o Galamba fala em alusão ao apoio de um partido ao regime X ou ao regime Y, essa parte é justamente o PSR. Cujo trotsquismo (onde já vai...) tanto irrita o nosso deputado, mesmo que dele tenha apenas a ténue ideia de que foi qualquer coisa acabada em ismo e que também mete comunismo, terrorismo e autoritatismo. Um dia ainda dizem que o raio do Trotsky era estalinista, ao contrário do Mubarak que nunca foi da Internacional Socialista, claro está.

10 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

Zé neves, eu não gramo o Trotsky (como não gramo o Freud nem o Elie Wiesel, e nem vou enumerar o resto por que nunca mais saía daqui... e tudo por razões diferentes) mas, sobretudo, do que não gosto mesmo é de conversa de merda. Grande post!

Miguel Serras Pereira disse...

Resta acrescentar que, segundo o Esquerda.net: 'O voto, na sua parte resolutiva (que é o que realmente é votado), dizia: “A
 Assembleia
 da
 República,
 reunida
 em
 plenário,
 solidariza‐se
 com
 os
 protestos
 pacíficos
 do
 povo
 egípcio
 e
 com
 as
 suas
 exigências
 de
 fim
 imediato
 da
 ditadura
 e
 de
 marcação 
de 
eleições 
livres.”' (http://www.esquerda.net/artigo/ps-e-psd-rejeitam-voto-de-solidariedade-à-luta-do-povo-eg%C3%ADpcio).

Trando o despropósito de arrumar na mesma molhada o Freud e um gajo chamado E. Wiesel, só posso dizer como a impetuosa camarada Ana: "Grande post, meu!" (O "meu" é meu, ó meu, não sei se estás topar. Mas a ideia, essa, é da nossa admirada camarada comum)

Abrç

miguel (sp)

josé manuel faria disse...

Este título leva a pensar que o Gil Garcia ou o Pascoal tomaram da palavra no parlamento burguês!

josé manuel faria disse...

Quero dizer o título deste post. http://jugular.blogs.sapo.pt/2466156.html

Joana Lopes disse...

Grande post, Zé.

Ana Cristina Leonardo disse...

miguel, fico contente por partilhares da minha embirração com o "gajo chamado E. Wiesel". Já é qualquer coisa.

Alexandre Abreu disse...

Realmente... o que é que o Freud e o Wiesel têm em comum, para além de serem os dois judeus e terem sobrevivido aos nazis? E que diabo é que isso tem a ver com o Galamba e o Egipto?

José Barros disse...

Que banalidade... "não gramo o Trotsky, nem o Wiesel, nem o Freud"... Foi para escrever meia dúzia de banalidades, colocar umas canções, dar um "toque feminino" e publicitar livros que a própria traduziu que o Vias "contratou" esta Ana Cristina Leonardo?

Ana Cristina Leonardo disse...

alexandre abreu, é o que dá chegar tarde a uma piada, melhor dizendo, às caixas de comentários

josé barros, pronto, já percebi que não me grama (c'est la vie) mas o que é que tem contra um "toque feminino"? Tá mal.
(Vejo, contudo, que é um leitor atento; se souber francês, ficará certamente melhor serviço com o original - só que, no caso, o original, original é em árabe - ah! e só recomendo livros que li; é uma mania que eu cá tenho e ninguém me contratou para isso)

Alexandre Abreu disse...

Fair enough, como diria a Maria Filomena Mónica.