13/04/13

Uns revolucionários...

«A Embaixada, o PCP e as grevesNaturalmente, a Embaixada [dos EUA em Portugal] não fazia o seu juízo apenas a partir de impressões recolhidas numa conversa telefónica e observava atentamente o comportamento do PCP, ao tempo a mais importante força política no terreno, perante a efervescente realidade social do país.

E também aí recolhia indícios que achava abonatórios. Assim, uma outra mensagem enviada ao Departamento de Estado pelo mesmo Scott em 23 de Maio, pouco mais de duas semanas antes da conversa com Cunhal, afirmava que "os esforços do PCP para parecer respeitável levam-no a tentar arrefecer a presente hiperactividade laboral".

Scott relata a este respeito a primeira conferência de imprensa do PCP na legalidade, referindo jocosamente o retrato traçado por Cunhal sobre a situação dos trabalhadores no tempo do fascismo - "uma recitação melancólica" de factos, seguida por uma "homilia" sobre a justeza das reivindicações operárias e, finalmente, por um ataque à extrema-esquerda, segundo Scott rotulada por Cunhal como o "inimigo fundamental".»

Interessante reportagem de António Louçã sobre as avaliações da Embaixada norte-americana em 1974 sobre o PS e o PCP e que pode ser lida aqui na íntegra.

4 comentários:

vítor dias disse...


Onde se lê Raquel Varela pode, pelos vistos, ler-se JVA:

«Afirma R. Varela : « O problema real do surto grevista de Maio e Junho para o PCP é que este escapava ao seu controle, punha em causa o Governo Provisório e engrossava as fileiras dos militantes da extrema-esquerda. O PCP teme que a agitação laboral ponha em causa a sua posição no Governo Provisório. »

Raquel Varela nunca perceberá que o que estava em causa não era o PCP perder as posições no Governo Provisório mas sim, por via de greves politicamente pouco ponderadas, não desiquilibrar desfavoravelmente a correlação de forças no plano político-governamental numa altura em Spínola era o Presidente da República e cedo começaria a fazer a campanha reaccionária que fez. É preciso não ter vivido os acontecimentos daquela época para não perceber que uma derrota no plano da esfera política-governativa e militar naqueles meses, levaria a num regime autoritário liderado por Spínola que, sem qualquer dúvida, esmagaria pela repressão todas as movimentações de trabalhadores.

Quanto a mim, usando palavras da época, o que o PCP fez e muito bem, e a maioria dos trabalhadores compreendeu, foi dar prioridade à «frente política» numa inteligente táctica que lhe permitiria mais tarde arrumar e derrotar Spínola e os seus comparsas (nem todos porque as ligações do PS ao spinolismo são outra história).»

(comentário antes colocado num post de Raquel Varela no «cinco dias»)

Miguel Serras Pereira disse...

Vítor Dias,
já que o tema o inspira, poderia citar também aquele que JVA cita, António Louçã, em vez de tentar amalgamar politicamente alvos polémicos - RV e JVA - cujas posições estão longe de serem as mesma,s e nalguns casos relevantes (a questão europeia, as concepções organizativas, etc.) são até absolutamente opostas.

Mas não é isso que importa agora. O que queria dizer é que, tendo vivido os acontecimentos dessa época, não compartilho a sua versão dos mesmos. Em primeiro lugar, muito haveria a dizer sobre o acerto da política de moderação adoptada pelo PCP. Mas, ainda que eu desse de barato o acerto "táctico" da moderação em causa, isso deixaria intacta a questão dos métodos antidemocráticos, de cariz policial, difamatórios e caceteiros que o PCP utilizava em vista dos seus fins. Ou, para moderar o meu vocabulário, direi: há a questão dos métodos caracterizadamente reaccionários a que o PCP recorria a fim de promover a sua ideia de "revolução". Ora, aqui, o problema é que os métodos antidemocráticos de promover a "revolução" são sempre contra-revolucionários por hierárquicos e classistas. Não foi propriamente por ser moderado e gradualista - embora tenha exagerado muito na denúncia dos excessos e no recurso a papões vários - mas pelos seus métodos de acção política, que o PCP foi contra-revolucionário na ocasião.

Cumprimentos

msp

Niet disse...

Vem a talhe de foice, com efeito, o problema da " depuração " operada no colectivo de postadores do Cinco Dias, o " maior " blogue político da blogosfera nacional até ao ano transacto. De um " grupo " heteroclito de mais de três dezenas e meia de articulistas,o Cinco Dias sobrevive hoje com o desempenho principal de vários publicistas "neo-trotskistas" da publicação " Rubra ", um veiculo ideológico não integrado nas grandes correntes internacionalistas da IV Internacional, que possui o partido gaulês, o Novo Partido Anticapitalista, fundado por Besançonet e Krivine como farol máximo. O atento Xatoo na altura da alteração-camuflada,silenciada sem pejo nem vergonha- ainda tentou apurar a "transmutação" militante/ideológica operada no C. Dias. Mas o seu comentário desapareceu sem resposta alguma.Como é possivel, hoje em 2013,assistir-se a um remake sinistro de golpaças à Jdanov & Vychinsky? Niet

zeca marreca disse...

Claro,

Deste texto se pode inferir que o PCP sempre foi o principal aliado do grande capital, e que tudo tem feito, ao longo da sua história para perpetuar o sistema capitalista e com isso gorar as espectativas dos trabalhadores, servindo apenas de válvula de escape, de enquadramento do descontentamento, de alienação contra a revolta...

Não existisse PCP e há decadas que os trabalhadores portugueses viveriam em melhores condições, teriam derrotado o grande capital e instituido em Portugal um paraíso baseado em cooperativas em auto-gestão que seria o epicentro de uma potêncial Europa (com euro) em que os valores laborais superariam e subordinariam os interesses do capital!

Era isto não era?