23/01/14

Compreender para onde vamos - I

Nestes últimos dias foram publicados alguns textos muito interessantes, e que se complementam no modo como abordam a época em que vivemos, e os caminhos que se nos apresentam.

No Passa Palavra, o texto "A periferia europeia como laboratório político", escrito por Ricardo Campos, descreve com grande minúcia a actual estratégia de apropriação pelas classes dominantes duma parcela cada vez maior da mais-valia criada no continente europeu. Foi também publicado na revista online ROAR. Igualmente nesta revista, o texto "Crises of Imagination, Crises of Power", por Max Haiven, descreve os diferentes modos como o capitalismo tem tentado cercear a imaginação colectiva. Uma das consequências tem sido a manifesta incapacidade para implementar na prática modos de organização comuns a uma escala passível de ter impacto no sistema vigente. Isto constitui um problema muito sério, dado que, independentemente de acreditarmos que o sistema capitalista entrará em colapso por si só, ou com a nossa ajuda, a mera prefiguração das características que desejamos vir a encontrar no sistema que substituirá o capitalismo não será de todo suficiente para assegurar tal. A análise histórica demonstra que, na ausência dum colapso catastrófico, todos os sistemas que emergem de processos de mudança (mesmo que passíveis de serem caracterizados, superficialmente, como revolucionários) assentam em estruturas pré-existentes com amplo alcance social (sendo as mais comuns, e óbvias, as estruturas de cariz estatal). Sem a concretização no terreno, e posterior difusão, de estruturas organizacionais que sejam realmente capazes de substituir as presentemente utilizadas pelas classes dominantes, e de ser percepcionadas como tal por uma fracção muito significativa da população, a resolução de qualquer distúrbio suficientemente grave para colocar em causa o actual sistema irá assentar numa tentativa de reconfiguração das estruturas já existentes. Assim será feito pela oligarquia que as controla, e exigido pelo resto da população que nada verá como alternativa credível.

"(…)the radical imagination and the ability to dream of and build towards different social horizons beyond the fog of capitalist unreason, depends on doing differently; on creating alternatives spaces, times and modes of reproducing ourselves, our communities and our world. This is a process of ‘commoning,’ of building living alternatives not in the sense of future utopias, but in the sense of radical models and zones to reproduce our relationships and our lives based on shared values."

Um dos melhores exemplos desta dialéctica entre teoria e prática, pode ser encontrada nos territórios zapatistas. Apesar do contexto bastante distinto daquele que encontramos em muitas outras regiões do globo, nomeadamente nos territórios mais industrializados, a experiência emancipatória vivida em Chiapas tem servido de modelo para a construção de alternativas concretas ao sistema capitalista vigente.

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