22/01/14

Diálogos ensurdecedores

Há polémicas que, não sendo propriamente diálogos de surdos, podem tornar-se diálogos cujos efeitos ensurdecedores entaipam a verdade das questões das quais partem. Assim, é curioso que nem o conservadorismo do Pedro Picoito o impeça de fazer sua uma concepção, contra os clássicos, da democracia que a limita a pouco mais que a instituição do princípio aristocrático da eleição dos representantes, despojando de prerrogativas governantes os cidadãos, nem a esquerda da qual se reclama o Luís M. Jorge o faça rejeitar, um tanto expeditivamente, a democracia directa, entendida como a participação em pé de igualdade do conjunto dos cidadãos no governo da cidade, considerando-"a mais demagógica excrescência da democracia representativa" — sem se dar ao trabalho de ponderar a ideia oposta, segundo a qual seria a democracia representativa que poderíamos dizer uma corrupção demagógica do princípio democrático. Resta-nos a esperança de vermos um destes dias o Filipe Nunes Vicente, que não me parece reivindicar qualquer dos títulos — conservador ou progressista — reclamados pelos seus companheiros num dos melhores blogues da esfera dos mesmos, precisar um pouco melhor os termos da questão que dicotomias que tais recalcam, pois que não aparentam ter outra utilidade para lá da de alimentarem esse recalcamento, e, entretanto, desfigurarem o recalcado, a saber: o exercício da cidadania governante como acção instituinte e instituição garante da democracia.

2 comentários:

FNV disse...

repto aceite, Miguel
abraço

Miguel Serras Pereira disse...

Abraço guardado e retribuído, Filipe. Reflexão aguardada…

msp