20/02/16

O Acordo errado.

Foi hoje muito noticiado o acordo conseguido entre a UE e o Reino Unido, que permite a Cameron defender a permanência da Inglaterra na União Europeia. Pelos vistos as cedências feitas a Cameron não são totais, impedindo uma drástica redução dos direitos sociais dos emigrantes, mesmo quando se trate de outros europeus. Era essa a intenção dos Conservadores britânicos, além de isenções especiais -ainda mais especiais do que as existentes -para a City londrina. Ver-se-á daqui a alguns dias o que Cameron conseguiu efectivamente.
António Costa terá mesmo declarado, satisfeito, que os filhos dos portugueses não sofrerão qualquer redução dos abonos que recebem actualmente. Veja-se só o nível de desvario da proposta de Cameron.
Tratando-se de uma negociação fundamental para o posicionamento dos sectores mais conservadores - que chantagearam com a saída da UE - importaria também saber qual o posicionamento das outras forças políticas. Para que o Reino Unido possa permanecer na UE é fundamental a posição do Labour, já que os Tories estão, apesar do acordo, fortemente divididos.
Causa por isso estranheza que a nossa imprensa ignore olimpicamente o que pensa o Labour sobre esta questão. Não é por falta de informação disponível. Hoje mesmo Jeremy Corbyn, o líder do Labour, tomou posição sobre o acordo e reforçou o seu empenho em defender a manutenção do Reino Unido na UE e a uma reforma que valorize a dimensão social da União e recupere o respeito pelo trabalho e a cidadania. Uma reforma necessária, segundo ele, por muitas e variadas razões. Razões diferentes das que levaram Cameron à mesa de negociações.
Considerando o acordo incidental para os verdadeiros desafios que as pessoas enfrentam no referendo - que se realizará em Junho - Corbyn acusa Cameron de ter negociado para as metas erradas, pelas razões erradas da forma errada.
Vale a pena ler a posição de Corbyn. Podemos perceber que os nossos jornalistas o ignorem. Ignoram habitualmente todos os que se afastam da lógica da TINA. Mas, faz uma verdadeira confusão que os socialistas europeus, com Costa entre eles, sejam incapazes de articular uma posição minimamente próxima da defendida pelo líder do Labour. Dir-se-ia que a sua proximidade com Cameron é total,  a menos de um ou outro detalhe de pormenor. Cada um trata de referir o que conseguiu para "os seus", sem serem capazes de articular uma posição política  minimamente compreensível. Que desgraça.

PS- na noticia que aqui linkei identifica-se a posição de Cameron à defesa da União Europeia. A cegueira, também deveria ter limites.

Adenda (21.02) - Enquanto por cá se continua a discutir esta questão a partir do umbigo de David Cameron, há quem veja o problema de outra persepctiva. [Aqui e aqui]

0 comentários: