06/06/18

O Costismo em busca da maioria absoluta.

A crise entre o Governo e os partidos que o viabilizam à sua esquerda, parece ter sido provocada pelo ministo da educação com as suas insensatas declarações sobre a contagem do tempo real de serviço  dos professores com efeitos na actualização da remuneração. Falso. As declarações de um ministro como Tiago Brandão Rodrigues, um ministro fraco que em várias ocasiões mostrou essa sua fraqueza, só podiam ser realizadas com conhecimento prévio, e prévia autorização, do primeiro-ministro.

O primeiro-ministro sabe que esta posição defendida pelo ministro é uma posição que roça a chantagem política, no quadro dos acordos estabelecidos e aprovados durante a preparação do Orçamento de 2018. Sabe que uma posição negocial do tipo ou sim ou sopas, é inaceitável para toda a gente. Então porque prossegue António Costa este caminho?

A resposta é relativamente simples: António Costa está convencido da inevitabilidade de uma vitória do PS com uma maioria absoluta. Acha que antecipar as eleições aumenta o potencial de concretização desse objectivo e utiliza o orçamento de 2019 como o momento para provocar a rotura na Geringonça. Costa recorreu à Geringonça não porque seja um crítico da terceira-via, ou do neoliberalismo, mas porque tinha necessidade dela para chegar a primeiro-ministro. De outra forma não se percebia que no quadro do último congresso não tenha tido uma palavra para os seus parceiros no suporte do Governo ou para a política de alianças.

A rotura com os professores terá custos políticos para o PS mas o crescimento desejado por Costa é feito à custa do centro direita, sobretudo à custa do PSD. Basta ver a forma crítica como os comentadores de direita, desde sempre criticos da Geringonça, olham para as reinivindicações dos professores. Há margem na sociedade para compensar eleitoralmente as perdas de votos com os professores, acha Costa. Até porque essas perdas muitas delas iniciaram-se com Maria de Lurdes Rodrigues e esses votos nunca mais foram recuperados.

Costa está, por outro lado, preso ao compromisso que estabeleceu com Mário Centeno e com a sua política muito identificada com a austeridade ditada pelos organismos europeus. Uma austeridade inteligente, inclusiva, passe a contrdição em que a desigual distribuição da riqueza se faz sem choques traumáticos, garantindo mínimos de sobrevivência aos desafortunados. Essa política apenas poder bem sucedida - na verdade nunca o será, porque a cada novo abanão a  sólida virtude mostra a sua enorme fragilidade - no quadro da promoção de uma desigualdade estrutural. A reposição dos salários dos professores podia ser encarada como um passo em sentido contrário, como um passo na reposição de um direito salarial que o Estado considerou ter o direito a confiscar durante mais de dez anos. Costa já escolheu: com ele o PS não vai por aí.

Argumenta-se com o aumento da despesa pública em 600 milhões de euros, feitas a actualizações salariais dos professores.  Ao mesmo tempo que se ignora que, a ser assim, os professores financiaram com 5 a 6 mil milhões de euros dos seus rendimentos o esforço de equilíbrio das contas públicas. Imagine-se como seria a vida dos portugueses se o Governo optasse pelo mesmo critério na sua relação com o sector financeiro. Pedir aos bancos que pagassem até ao último cêntimo o esforço de quase 20 mil milhões de euros que os portugueses fizeram para compensar as suas tremendas vigarices. Não há dinheiro seria a resposta escutada. Por outro lado o Governo ignora que a actualização dos salários baseada na contagem integral do tempo de serviços deixa de provocar efeitos à medida que as professores - uma classe muito envelhecida - se reformam e que novos professores integram o mercado de trabalho. Por isso essa conversa dos 600 milhões é apenas um alibi para justificar um objectivo político amadurecido: provocar a rotura da Geringonça.

3 comentários:

Anónimo disse...

"O chefe do Governo voltou esta quarta-feira a insistir que mais de 45 mil professores vão ter a carreira descongelada este ano" Citação do ECO - Economia Online


"O primeiro-ministro defendeu que existem outras carreiras na Função Pública e investimentos que estiveram parados durante anos e que precisam de ser descongelados, afastando assim mais uma vez a possibilidade de contar o tempo de serviço passado dos professores para efeitos de progressão na carreira." Citação do jornal ECO - Economia Online

Tenho o maior respeito pelos professores. No entanto, concordo com António Costa, porque não foi apenas a carreira de docentes que esteve congelada. Foram centenas. A descongelar uma, terá de fazer o mesmo para todas as outras. O Procedimento é igual para todos os trabalhadores. A base da progressão na carreira são os anos de serviço. A meu ver, trata-se de uma questão de justiça. Desta forma, considero injusto reivindicarem um direito que não afeta apenas os professores. Nada mais.


Maria Martins

José Guinote disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Guinote disse...

Carísima Maria Martins lido o seu comentário percebe-se que concorda com António Costa. A sua concordância resultará do carácter "injusto" da luta dos professores. Estes estão a lutar pelos seus direitos e a caríssima entende - e acha que António Costa partilha do seu entendimento - que isso é muito injusto, já que toda a função pública merece o mesmo tratamento.[Qualquer reinvindicação, de qualquer sindicato representativo de uma determinada classe profissional, seria, por definição, sempre injusta]. Sendo assim espero que consiga convencer António Costa a apresentar uma contraproposta em que todos os trabalhadores da função pública vejam a contagem do seu tempo de serviço actualizada e os seus salários actualizados em função dessa contagem. Ainda que o período de "ajustamento" seja prolongado até ao final da próxima legislatura, julgo que os professores não estarão contra essa proposta. Falta apenas convencer António Costa. Contamos com a sua colaboração.