03/07/18

Os Tribunais em defesa do Urbanismo e da Cidade.

O Público notícia uma decisão do Tribunal Central Administrativo do Sul que impede a construção de um Projecto de Souto Moura para a Praça das Floes em Lisboa. O argumento utilizado pelo Tribunal é o que resulta de estarmos perante um conjunto classificado -  a Praça das Flores - no qual se deve dar prioridade à reabilitação do edificado existente.
Depois de ter sido recusado o "Mono do Rato" é novamente a Justiça que assume a defesa do património urbano como um valor cultural a preservar.
Uma segunda derrota para o vereador do urbanismo, Manuel Salgado, e para Fernando Medina, mas, pelos dados disponíveis - aqui e aqui - uma vitória para a cidade.
Há pouca gente a reflectir sobre o papel da arquitectura e dos grandes arquitectos no processo de edificação/destruição das cidades, que a coberto da renovação urbana, disfarçada de reabilitação, alteram radicalmente a imagem das cidades destruindo parte do seu património histórico e urbano, servindo as dinâmicas próprias da promoção imobiliária internacional.
Destacamos uma afirmação atribuída a um director do pelouro do Urbanismo da autarquia lisboeta. Segundo esse técnico podemos ter sobre a cidade, e sobre uma qualquer intervenção urbanística, "vários olhares e todos eles válidos". Pois podemos, mas, como sabemos, nem todos eles cumprem a lei e, sobretudo, nem todos eles são capazes de, por si só, alterarem a forma como os responsáveis municipais olham para a lei e resolvem aplicá-la. Os promotores com mais recursos sabem disso. Também há uma geografia urbana da desigualdade que se constroi com o apoio dos arquitectos do regime.

2 comentários:

joão viegas disse...

Ola caro José Guinote,

"O arquitecto acrescenta que “também o material de ensombramento, lâminas de alumínio e tela de rolo exterior se propõe diferenciado para garantir uma inserção com a escala da rua”. Exteriormente, para lá do vidro a toda a largura da fachada e do alumínio, os materiais mais visíveis serão os perfis de ferro que revestirão a estrutura de betão armado e que tentam “recuperar as varandas metálicas do século XIX”

Livra !!! E' continuar o combate.

Sem grande esperança no entanto, pelo menos quanto a mim, porque por muito que a arquitectura seja importante, o fundamental para preservar o espaço urbano tradicional seria manter povo (sim esse mesmo, que cheira mal, que diz asneiras, que cospe no chão e que fica mal para turista ver) nas areas centrais da cidade. E, muito infelizmente, esta batalha ja esta praticamente perdida.

Abraço

José Guinote disse...

Meu caro João Viegas o discurso do arquitecto Souto Moura justificativo da sua proposta é bem sinttizado pelo "diferenciamento" das lâminas de aluminio, cuja força terá estado na origem, acho eu, da reutilização de um projecto já construído no Porto. Haverá esse lado cultural e revolucionário de, mimetizando a arquitectura, estarmos a promover uma osmose entre Lisboa e o Porto. Uma pobreza franciscana. Isso não interessa nada, no entanto. Tivesse o Manuel Joaquim, arquitecto anónimo da cidade, a ousadia de propor projecto semelhante para o mesmo local e todos aqueles que defendem o grande "artista-arquitecto" saíriam à rua dispostos a apedrejar quem ousava querer destruir esse património cultural essa parte da história da cidade, etc,etc. Se fosse um engenheiro civil que tivesse produzido coisa igual, tomado de amores pelo exemplo construído no Porto, haveria estrondosas manifestações sobre a necessidade de preservar o espaço urbano e a relação ancestral que os edificios estabelecem com o espaço público.

Bom, mas o essencial é mesmo o despovoamento da cidade e a sua gentrificação. Essa urgência de "hiegenizar" os centros históricos - mantendo as fachadas e renovando os interiores redivididos em arquitectónicas intervenções de gesso cartonado - assoberbados pelo alojamento local que aloja apenas os que chegam de parte distante e incerta e "convida" os locais a irem ver os filhos para a Damaia ou para Loures, ou para o raio que os parta desde que desapareçam e deixem de ser um obstáculo à economia colaborativa que, mais uma vez, nos traz o progresso.