O líder do Labour tem estado tolhido pelas suas próprias
contradições e fantasmas. O seu posicionamento na crise do Brexit - crise
imaginada e realizada por Cameron e Boris Johnson - tem sido muitas vezes
traduzido em complicados calculismos eleitorais que visam tentar ao mesmo tempo
manter as simpatias dos trabalhistas apoiantes do Brexit e daqueles - largamente maioritários
- que apoiaram a campanha por si liderada a favor do Remain. Tarefa impossível e pouco digna, diga-se.
As coisas não se passarão bem
assim. O que levará o Corbyn que defende para os britânicos uma política
radical "for the many not for the fews" a desistir de a defender na
Europa? Será que ele pensa que a Europa não precisa dessa mesma política? Ou
será que ele acha que pode concretizar essa política mais facilmente
isoladamente fora da alçada das instituições Europeias?
É aqui, nesta não confessada
convicção, que radicam todas as hesitações e fraquezas que o líder trabalhista
tem acumulado ao longo dos últimos penosos meses.
É essa a leitura que aqui é
feita e que eu em grande parte subscrevo. Na verdade Corbyn resolveu emular o
comportamento de muitos dos seus camaradas - que ele próprio criticara na
reunião dos socialistas europeus realizada em Praga em 2017 (ver aqui e aqui)- que uma vez
eleitos para as instituições europeias se limitam a aplicar a cartilha austeritária - imposta pela direita conservadora europeia - como se a orientação política e económica conferida à Europa resultasse de uma Constituição Europeia sufragada pelo povo europeu. Camaradas esses que em termos globais caminham para a extinção com as excepções de Portugal e do Reino Unido, cujo crescimento foi enorme antes do seu líder se deixar tolher pelas suas lamentáveis hesitações.
2 comentários:
Concordo plenamente,
A desconfiança de alguma Esquerda em relação ao projecto Europeu, e a consequente desertificação do terreno politico europeu, é fruto de um erro duplo, e fatal : falta de confiança na democracia + falta de aposta no realismo.
Regressamos, pois, às quimeras inexequiveis, que fazem com que a esquerda deixe cada vez mais de ser uma força politica, para assumir os contornos duma religião.
E' urgente inverter esta tragica tendência.
Um abraço
Meu caro João Viegas eu não faria melhor síntese do desnorte da esquerda em relação à Europa. Há uma intrínseca falta de confiança na democracia e uma incapacidade para lutar por uma sociedade mais justa. Depois sobra a retórica mais repetitiva sobre a inexorável e sempre cada vez mais próxima substituição do capitalismo. Prega-se a redenção futura abdicando-se de trabalhar agora para melhorar a vida das pessoas. Como na religião.
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