Hoje, no Público, João Ferrão reflecte sobre a crescente desvalorização dos saberes sobre territórios e paisagens.
Trata-se de uma breve reflexão sobre as dinâmicas instaladas na sociedade portuguesa que, naturalmente, tem consequências imediatas e futuras. As primeiras manifestam-se quando em cada ano os alunos fazem as suas opções de acesso ao ensino superior. As formações que se relacionam com as ciências que estudam os territórios e a sua sustentabilidade e desenvolvimento são cada vez menos procuradas. Há cursos com cada vez menos procura e há formações que são pura e simplesmente abandonadas pelas próprias faculdades. Neste mesmo dia o Público dá conta do encerramento da formação em Arquitectura Paisagísta na Universidade de Évora.
A mais longo prazo fenómenos como os do incêndio florestal de Pedrogão serão recorrentes e a incapacidade para prevenir e evitar essas tragédias cada vez maior. Os esquecidos continuarão a ser vitimas desse esquecimento que não é uma fatalidade, como todos já sabemos, tratando-se de uma escolha política.
O artigo é um alerta, marcado por uma indisfarçável tristeza do seu autor. Saliento a seguinte passagem: "(...)A administração pública perdeu a áurea de um setor profissional que atraía os melhores, tendo sido substituída pelo brilho do mundo das empresas e por uma cultura de ação mais instrumental e com retorno financeiro e reputacional mais imediato. As políticas públicas e o planeamento perderam reconhecimento e relevância a favor das dinâmicas de mercado. (...)"
É essa a síntese certeira que permite melhor compreender a nossa realidade. Há uma vitória do Mercado e a consolidação da sua estratégia. Na relação entre o Estado e o Mercado, o Mercado vence em toda a linha e a estratégia do Estado mínimo impõe-se com estrondo. O Estado usa os seus recursos - e sobretudo aqueles de que abdica - para aplicar a estratégia do Mercado que, paradoxalmente, o conduz à irrelevância e ao fracasso. Fracasso que pode ser medido pelo número crescente de "esquecidos". Naquilo que é estruturante, longe do barulho vazio da política do curtíssimo prazo, constrói-se uma nova ignorância. Que dita, e ditará, as suas regras. O neoliberalismo está de boa saúde e recomenda-se.
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