18/04/11

Não verter lágrimas pela soberania

Ai, ai, ai, ai ai, que nos vão à soberania! Atendendo ao que se passa, não é um grito de alerta impertinente, por certo que não, mas será um erro grave da esquerda juntar-se ao coro nacionalista do centro e da direita. FMI, Comissão Europeia, Merkel, como queiram, representam, de modos diversos, a assunção de que a ilusão democrática contida no quadro da soberania nacional já conheceu dias melhores. Isto merece uma, duas, três, muitas respostas, mas que a esquerda se levante em nome dessa ilusão democrática e não em nome da soberania nacional. “Defender Portugal” é o slogan do PS, não é o nosso. Esse slogan deve ser desmascarado mas não apenas dizendo que a prática de quem lhe dá voz trai o seu próprio conteúdo. Se for apenas isto, estamos a jogar no terreno do próprio PS. O slogan do PS deve ser repudiado porque é mau na boca de quem quer que seja. E é mau porque, sob a abstracção da portugalidade, elimina as fracturas internas do país, exportando a conflituosidade para um inimigo externo que, subitamente, se torna tão homogéneo como esse "portugueses" em que cabem tanto o Belmiro como o Zé Povinho (sim, isto chegou a um ponto que dicotomia nós/eles que caracteriza o entendimento populista é cientificamente mil vezes superior ao discurso das carradas de economistas e politólogos que nos aparecem na tv a dizer que "os portugueses consumiram muito...") . As fracturas internas devem hoje, mais do que nunca, ser expostas. Existem, por certo, diferenças entre países, relações desiguais de força, até características político-ideológicas diversas de espaço para espaço. Mas o espaço que não é plano a nível global também não é plano a nível nacional ou local. De nada vale geopolitizar apressadamente o que se está a passar. O mapa da política não pode ser feito com base nos conhecimentos economicistas de um Medina Carreira somados à peritagem geopolítica de um Nuno Rogeiro. E não vale a pena pintar os dois bichos de vermelho. O mundo não é plano, mas o capitalismo é global. O anticapitalismo também é. Ou não o será.

3 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Grande Zé Neves!

Pois, olha, se queres saber, vou ainda mais longe: oxalá uma outra UE ou federação semelhante condicionasse o auxílio à região portuguesa, estando-se nas tintas para a "nossa" soberania nacional, a posições "islandesas" (ou, do mal o menos, ao que se depreende que seja a posição dos social-democratas finlandeses).

Grande abraço para ti

miguel (sp)

Luis Rainha disse...

Muito bom, Zé!

Ana Cristina Leonardo disse...

eu cá sou pela união ibérica (nunca deviam ter defenestrado o outro)