18/04/11

O poderoso tiro em cheio de Jerónimo de Sousa no seu próprio partido e a posição do BE perante a proposta de reunião da troika

1. Se a esta declaração de Jerónimo de Sousa, dando conta da recusa por parte do PCP de qualquer contacto ou conversações com a chamada troika — em termos que rejeitam, por igual e por princípio, o FMI, a UE e o BCE (e os rejeitam enquanto tais e não nesta ou naquela sua orientação, direcção ou "constituição" empírica) —, se a esta declaração, portanto, não se seguir outra, afirmando que o PCP vai abandonar a AR e o Parlamento Europeu, cortar quaisquer contactos com o governo e o PR, etc., etc., recusando, em suma, a luta no plano institucional existente e passando de imediato à preparação da tomada do poder, porque quaisquer contactos, conversações ou simples troca de palavras com o "inimigo" (não se sabe se de "classe,  se "nacional") equivalem a legitimá-lo, então, se não tirar estas — e outras consequências (por exemplo, no que se refere à linha sindical a adoptar) que se impõem — da tomada de posição de JS, será caso para dizer que o secretário-geral do PCP, para o melhor como para o pior, acaba de alvejar com um poderoso tiro em cheio o seu próprio partido.

2. Com efeito, a questão que aqui se põe não é tanto a da recusa da reunião concreta proposta, como a dos considerandos e razões que a fundamentam.  Assim, por exemplo, a recusa por parte do BE de uma proposta semelhante nada tem de comparável, apesar das aparências em contrário. Não conclui do actual regime da UE a maldade de princípio da federação, do mesmo modo que não exclui a existência de um banco central europeu enquanto tal, nem sequer a de um organismo de supervisão e regulação que agisse no espaço ocupado pelo FMI noutros termos, com outro mandato e objectivos diferentes. Digamos que, embora infelizmente não a assuma com a clareza desejável, a tomada de posição do BE não encerra a priori a perspectiva da democratização como via de uma alternativa às relações de poder existentes.

3. Outra questão é saber se a recusa da reunião foi a melhor opção no plano político imediato. Os islandeses recusaram as condições que o FMI queria impor-lhes, mas fizeram-no comunicando-lhe as suas posições e obrigando-o a recuar. Do mesmo modo, seria possível transformar a reunião recusada em ocasião de apresentação e posterior divulgação pública de uma plataforma de rejeição das condições da oligarquia e do actual modo de funcionamento da UE. Esta via, menos espectacular, não seria necessariamente menos radical.

7 comentários:

Pedro Viana disse...

Só vi o teu post depois de publicar o que estava a escrever. Não me parece que a posição do BE perante a troika seja tão diferente como isso da posição do PCP. É apenas postura da parte de ambos, sendo a diferença a linguagem mais temerária do PCP, cuja consequência é expôr-se mais ao ridículo da inação efectiva de que ambos partidos padecem. Infelizmente, estamos a assistir a uma anti-dinâmica entre BE e PCP, em que cada um dos partidos faz marcação cerrada ao outro, para ver quem adopta a posição mais conservadora e negativista. Que bom que seria ver os dois numa dinâmica positiva, em que cada um tentava supreender o outro, e a nós, através de propostas ousadas...

josé manuel faria disse...

"Do mesmo modo, seria possível transformar a reunião recusada em ocasião de apresentação e posterior divulgação pública de uma plataforma de rejeição das condições da oligarquia e do actual modo de funcionamento da UE. Esta via, menos espectacular, não seria necessariamente menos radical"

-Concordo.Há momentos em que a "radicalidade" passa por dizermos na cara do "inimigo" o que pensamos. É mais fácil ignorar do que enfrentar.

LAM disse...

Completamente de acordo, MSP.
Quanto mais não seja e como diz, tendo em vista conhecer de viva voz as posições de BCE, FMI e UE.
Em vez disso adivinham-se mais uns episódios em que PCP e BE vão encher comunicações especulando sobre agendas escondidas, que lhes chegarão via os partidos do regime.

A necessidade de delimitar territórios (esquecendo mais uma vez que a delimitação desses territórios funciona nos dois sentidos...), e o medo que os eleitores de PCP e BE não compreendessem que tinham estado "sentados à mesma mesa" (óh pecado!!)dos mandantes da desgraça - como se os eleitores e simpatizantes desses partidos padecessem de alguma espécie de menoridade intelectual, que não compreendessem a vantagem de conhecer e eventualmente debater opções, bem como a possibilidade para esclarecer junto dessas entidades que uma percentagem significativa, pelo menos a representada por esses partidos, estava contra os projectos que se desenham - leva a estas reacções muito pouco maduras.

Leão disse...

De facto esta terceiras ou quartas vias,vão dar ao mesmo; anticomunismo e defesa do arco dos partidos (cegos)pelo poder(ou pote),que há 35 anos desgovernam o País,governando(se) a mando dos seua amos;a grande burguesia cá da terra assessorada pelos mui patriotas cujos exoentes podem ser Durão Barroso,António Borges e Cavacal companhia!

Saúde e fraternidade

Daniel disse...

Não sejas burro, o PCP não disse que reunir com o FMI seja legitimá-lo, afirmou sim que reunir com o FMI é legitimar a sua intervenção.

Lê com atenção as palavras de Jerónimo de Sousa e poupavas-te escrever um parágrafo inútil.

Anónimo disse...

Lamento discordar mas penso que aos partidos, através da Comissão Permanente da Assembleia da República (art. 179º), apenas compete fazer o acompanhamento da actividade do governo, na qual se inclui esta negociação com a troika. Tudo o que exceder esses limites, nomeadamente um comprometimento relativamente a medidas que deverão ser sufragadas nas próximas eleições de 5 de Junho, é que significa excluir-se do campo institucional.

Anónimo disse...

Miguel Serras Pereira, também conhecido por ser "um "amigo de Israel" critica o PCP por não se ter sentado à mesa das "negociações" (quais negociações!?!?!) com o FMI... Acho que fica tudo dito.