06/11/15

Re: Acabou a austeridade

José Manuel Fernandes pelos vistos está indignado por o suposto acordo PS/BE/PCP só repor os cortes salariais aos trabalhadores do estado que ganharão mais que 1500 euros:

"Mas a cereja em cima do bolo do fim da austeridade é a reposição, já em 2016 mesmo que faseada, dos cortes nos salários da administração pública. De toda ela? Não: só da que ganha mais de 1500 euros."

De novo, esta é daquelas situações em que hesito entre a parvoíce ou má-fé (mas neste caso inclino-me mais para a má-fé) - se atualmente só os trabalhadores do Estado que ganham mais que 1500 euros têm cortes (pelo menos nominais), como é que JMF queria que os cortes (não-existentes) a quem ganha menos que 1500 euros fossem repostos? De facto nos primeiros meses de 2014 os trabalhadores que ganhavam entre 600 e 1500 euros também foram sujeitos a cortes, mas esses cortes foram anulados pelo Tribunal Constitucional (graças, exatamente, à reclamação interposta por um grupo de deputados do BE, do PS e do PCP).

Ok, além dos cortes explícitos houve montes de outras medidas (congelamento das subidas de escalão, sobretaxa do IRS, etc.) que contam como cortes implícitos e essas afetaram também quem ganha menos que 1500 euros, mas ao que consta também está a ser negociado uma suavização (ou eventualmente mesmo o fim) dessas medidas (e, de qualquer maneira, pelo contexto do artigo do JMF, em que ele parágrafo a parágrafo vai abordando as várias medidas de austeridade, dá-me a ideia que na passagem em questão ele se está a referir mesmo ao corte explícito dos salários dos trabalhadores do Estado, não ao corte implícito que resulta do conjunto das medidas de austeridade).

Porque é que, neste caso (ao contrário deste) eu digo que suspeito de má-fé? Porque o artigo parece-me escrito de uma maneira destinada a dar a impressão que houve cortes aos salários de todos os trabalhadores do Estado mas que só se vai repor aos que ganham mais, mas mantendo a escapatória de, se for confrontado com o facto que só quem ganha mais que 1500 euros tem cortes, poder argumentar que com "cortes" se está a referir à austeridade em geral (ao contrário do João Marques de Almeida, que cometeu um erro tão sem escapatória possível que de certeza foi mesmo por engano).

Uma nota final - se se confirmarem os rumores de um aumento para 600 euros do salário mínimo [atualizado - afinal não se confirmam: o aumento será ao longo dos 4 anos], isso representará para muitos trabalhadores do Estado com baixos rendimentos um aumento salarial superior (em termos relativos) à reposição de 10% que vão ter os que ganham mais que 3.165 euros (p.ex., um Auxiliar de Acção Médica que ganhe 505 euros iria ter um aumento de 18,8% - 95 euros por mês).

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