A direita, liderada por Paulo Portas, ataca, por estes dias, o Governo de António Costa, por "ter promovido o maior aumento de impostos" de que haverá memória. Os jornalistas fazem perguntas de conveniência e assumem uma moderada simpatia pela ideia. Alguns entre a criatividade e o disparate teorizam sobre a "austeridade de esquerda". A esquerda que suporta o Governo, particularmente o BE, desmentem com todas as forças a narrativa da direita, mas aproveitam todas as oportunidades para dizer, mais uma vez, que este Orçamento ficou [ainda] mais distante do seu, deles, Orçamento ideal. E vão deixando a critica à cedência socialista a essa chantagem europeia.
Há coisas simples que os Portugueses sabem, por mais que a bolha mediática diga o oposto. E por mais que alguns políticos resolvam parvejar.
Em primeiro lugar os portugueses sabem que, ao longo destes quatro anos de PSD e PP, foram vitimas de uma aumento de impostos, que um dos seus autores classificou, com inusitado rigor, de colossal. Pagaram mais de 3 mil milhões de euros a juntar ao muito que já pagavam. Os Portugueses sabem, em síntese, que recusaram ser governados pelos partidos que contra eles conduziram uma política de extorsão fiscal. E estão contentes. Acham que fizeram uma boa escolha.São portugueses com P grande.
Os portugueses sabem que o Orçamento preparado por António Costa era-lhes mais favorável que aquele que resultou das pressões de Bruxelas. Mesmo assim, sabem que este Orçamento é o primeiro que inverte a política que, ano após ano ao longo de quatro penosos anos, lhes retirava rendimentos. Os portugueses sabem que Bruxelas defende a austeridade, porque é através dela que exerce o seu poder. O poder antidemocrático de ignorar as decisões soberanas de cada povo e de destruir, a partir do seu centro, a bela ideia da Europa dos povos. Por isso os portugueses querem que os seus políticos se associem para mudar Bruxelas, conquistando o poder na Europa.
Os portugueses sabem que vão receber mais e pagar menos impostos este ano, porque foram devolvidos rendimentos que tinham sido congelados ou parcialmente suprimidos. Porque os impostos sobre o trabalho foram desagravados. Porque os reformados e os funcionários públicos vão ver os seus rendimentos devolvidos. Os portugueses sabem que no próximo ano a coisa irá melhorar e assim será até ao fim da legislatura. Isso, essa simples ideia, essa ideia de futuro, aterroriza a direita.
O Orçamento irrita muito Passos e Portas, deixa-os possessos, porque tributa mais os bancos e as empresas, tributa os combustíveis, aproveitando a baixa associada à diminuição do preço do crude. Consegue mais dinheiro, aquele que os amigos deles em Bruxelas exigiram, sem ir aos salários e às pensões dos portugueses. Portas e Passos gritaram em uníssono: isto não pode ser.
Irrita-os porque vai finalmente tributar os fundos imobiliários em sede de IMI -algo que eu defendo há dez anos, porque foi um injustiça visível desde sempre - e porque impede os bancos de retirar e vender a casa de família daqueles que, vitimas de desemprego, não podem honrar os seus compromissos. Eles nunca quiseram medidas dessas. Quem perde deve ser castigado, é a lógica dos neoconservadores lusitanos.
Os Portugueses sabem que aquilo que Passos e Portas, o PSD e o CDS, dizem é, apenas e só, fruto da maior e mais descarada falta de vergonha na cara, a que assistimos na política portuguesa. Falta de vergonha de quem acha , afinal, os portugueses gente sem memória, esquecidos deles e das patifarias que fizeram. Não os esquecemos e não os queremos nem por perto.
Os portugueses também sabem que o Orçamento podia ser melhor. Podia ter melhores medidas. E vão querer que essas medidas, mais tarde ou mais cedo, se concretizem. Os portugueses sabem que se todos ganharem melhor, a economia vai ficar mais saudável e todos vamos beneficiar. Com menos desigualdade, tudo melhora. Mesmo os inimigos confessos deste governo das esquerdas, ganharão. Por isso, os Portugueses querem que o Governo se comprometa com a questão da desigualdade. Porque um Governo que não seja firme e ambicioso no combate à desigualdade, não merece governar.
Por isso escusam o BE e o PCP de estarem, dia sim dia sim, a repetir que este Orçamento é pior do que antes de ter ido a Bruxelas, porque isso toda a gente sabe. Como toda a gente sabe, desde o primeiro dia, que este Orçamento é o do PS e não o do PCP ou do BE. Como toda a gente sabe que, na actual correlação de forças na Europa, todos os orçamentos têm que ir a Bruxelas. Mas, este regressou de Bruxelas, mantendo o essencial do acordo político que sustenta o Governo e isso é muito importante. Para os portugueses isso pode não fazer toda a diferença, mas faz muita diferença. Eles vão senti-lo ao final do mês e vão lembrar-se desta gente da direita, desmemoriada, sem carácter, que lhes fala de um país que há quatro anos não existia, porque no pais em que os portugueses viveram, um Governo, de uma crueldade impar, promoveu a maior extorsão fiscal da nossa história sobre aqueles que vivem do seu trabalho e das suas pensões.
Um Governo cruel, uma alcateia de lobos enfurecidos, que agora se pavoneia pelos passos perdidos, mal disfarçados sob as peles de cordeiros mansos.
10/02/16
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2 comentários:
A Direita nacional, retinta e insuportável, cretina e cabotina,não tem encontrado criticos politicos exemplares pela frente, tirando as farpas mais ou menos profundas emitidas semanalmente por Pacheco Pereira coabitando com prosas criticas do limbo irónico e satirico das colunas de opinião de um diário e de um semanário.Isso expressa. como é evidente,um déficite analitico tremendo que favorece o arrivismo e o desplante psicopático de personagens como Paulo Portas, a quem Alvaro Cunhal, esse mesmo que está a pensar, augurava um destacadissimo futuro politico...O PS de Costa tem, tarde e a más-horas, tentado ultrapassar o estado de completa inanidade teórica que Sócrates e Seguro lhe criaram durante anos a fio. Resta a saudável e pertinaz ousadia da novissima geração do Bloco, com Mariana Mortágua em plano de grande qualidade e audácia.Niet
Os cães de fila da austeridade já estão a ficar nervosos a relação de forças é-lhes desfavorável por isso apostam tudo no ajustamento fiscal e esperam que as concessões revertam a seu favor polarizando a agenda política desvirtuando-a até conseguir anulá-la tirando partido do agravamento da crise se necessário provocando o seu culminar artificial com o contributo dos sócios europeus e a mão dos mercados - é a política pura e dura que não pode deixar ninguém indiferente num combate que visa derrotar rápidamente e em força o governo-impedi-lo de governar é a etapa lógica que abre caminho para o seu afastamento e das forças políticas que o apoiam-fragilizar de todas as maneiras a base de apoio do governo passa também por desacreditar qualquer alternativa económica -e é por isso que as cedências são a melhor estratégia na senda do austeritarismo.
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