O Eurogrupo aprovou o pagamento da segunda tranche do empréstimo concedido à Grécia em Agosto de 2015. São 10,3 mil milhões de euros que, em grande parte, assegurarão a possibilidade de efectuar a amortização das dívidas aos credores internacionais. Esta decisão foi precedida da cedência do FMI relativamente à exigência que tinha colocado sobre a mesa: apenas admitia participar no financiamento desde que fosse previamente discutido o alívio da dívida grega -que o FMI considera insustentável - e daí se tirassem imediatas conclusões. Quem se opôs a esta proposta não foi o Eurogrupo, foi a Alemanha. A Alemanha exerceu um poder de veto, que na realidade detêm. Como se escreve no The Guardian " But the debt relief plan was a far cry from the “upfront” and “unconditional” debt relief the IMF had demanded on Monday, when it warned that Greece would face an ever-growing bill to service its loans. Poul Thomsen, director of the IMF’s European programme, said the IMF had made “a major concession”. “We had argued that [debt relief measures] should be approved up front and [now] we have agreed that they should be made at the end of the programme period.”
The fund had been locked in a stand-off with Germany, which was adamant that debt relief could not be considered before the end of Greece’s current €86bn bailout programme in mid-2018."
Aqui radica a essência do conflito, os interesses soberanos da Alemanha, conflituam com os interesses dos restantes países e da generalidade dos cidadãos europeus. Na politica da UE todas as discussões e todos os pontos de vista são admissíveis mas no fim cumpre-se a vontade da Alemanha.
Na notícia do Expresso, coloca-se no centro da questão uma eventual divergência entre o Eurogrupo e o FMI. Não se trata disso. O Eurogrupo, através do fiel vassalo Dijsselbloem, apenas existe como uma expressão do interesse alemão. Dijsselbloem garante que todos pensam e agem a uma só voz: a do interesse alemão. Voluntariamente ou à força.
No caso grego Wolfgang Schäuble verá com um incontido prazer o Syriza a aplicar medidas de austeridade cada vez mais brutais, e a mobilizar contra si camadas cada vez mais amplas da população. O Syriza paga com língua de palmo as ousadias anti-austeritárias dos dias, longínquos, da conquista do poder. Que sejam os socialistas europeus, liderados pelos pró-austeritários Hollande e Dijsselbloem, a ajudar na concretização da obra, é apenas a cereja no topo do bolo.
PS - a fotografia do Expresso vale mais do que mil palavras. Centeno e o ministro Grego com uma cara de enterro, e uma expressão de impotência, e Schäuble com um sorriso indisfarçadamente sádico.
25/05/16
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3 comentários:
José Guinote: Admiro e louvo a sua ingenuidade, que sinto plena e com as melhores intenções, o que me parece insofismável. Só que, como Castoriadis dizia que a democracia representativa é a oligarquia pura e simples, esta Europa de Juncquer, Merkel e Hollande é uma máquina despótica ao serviço dos interesses mais inconfessáveis do capitalismo sem fronteiras. E muito dificilmente , ou por milagre expiatório das mais extravagantes das divindades imaginárias, a Europa se redimirá sem ser pela opção insurrecional, o que pode levar décadas a se tornar realidade. Salut e bom vento, seu admirador puro Niet
Meu caro Niet, agradeço o seu comentário. É verdade eu serei um incorrigível ingénuo, o que não abonará muito a favor da minha inteligência. Mas este mundo cruel ou melhor esta democracia tão desgraçadamente imperfeita seria ainda mais insuportável se, não alimentássemos a utópica ideia de a virmos mais tarde ou mais cedo a transformar, tornando-a não oligárquca, justa, socialista.Um grande abraço.
Carissimo: Eu sei que existem os matemáticos, como você, e os literatos, como eu...Recomendo-lhe a leitura de um gigante iconoclasta, post-trotskista - conselhista e autonomista- filósofo e economista: Castoriadis. As obras completas estão a ser republicadas em França, nas éditions du sandre.Existem muitos textos já traduzidos em inglês. Forte abraço. Niet
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