15/07/16

A Coerência tem um nome: Goldman Sachs.

Fiel aos seus princípios e aos seus valores a Goldman Sachs contratou Durão Barroso para ser o seu chairman. Este simples facto tem permitido um conjunto de reacções que tendem a evidenciar uma censura que vai do Bloco, em Portugal, ao senhor Hollande em França. Não fora a tradicional politica dos afectos do nosso Presidente, e uma militante defesa dos valores lusitanos emergentes na cena global, aqueles que se vão da lei da vida libertando, na versão pós-camoniana do PSD, e tinha sido a semana inteira toda a gente a malhar no pobre do Cherne, que, por esta altura, já estaria  com a sua cabeça robusta, a grande boca e a proeminente mandíbula, a fina serrilha da borda do propérculo, tudo escavacado, de tanta mocada, fundada, pasme-se, numa convergência  critica que resiste mesmo às fronteiras entre europeistas ditos bons e ditos maus.
Mas, julgo eu, a mais importante de todas as leituras a fazer é a seguinte, desculpem-me a imodéstia: a Goldman Sachs (doravante tratada por GS) é, no conjunto das grandes instituições financeiras globais, a mais coerente entre todas elas. Apenas à luz dessa coerência, irrevogável e inegociável, digamos assim,  podemos apreciar, em todo a sua plenitude, o sentido que faz a contratação do nosso patrício.

Durão Barroso chegou a Bruxelas e à presidência da Comissão Europeia, sem ter beneficiado de uma carta de recomendação da GS. Apesar desse handicap executou uma politica cujos resultados ultrapassaram as melhores expectativas daqueles que se lhe juntaram ou o precederam, enviados das madrassas globais. Para a veneranda instituição não existem dúvidas sobre os méritos de Durão. Ele é o homem. O The Special One, da austeridade.  A orientação que conferiu à politica europeia, e o lamaçal para o qual arrastou as ideias fundadoras da União Europeia, mostram a verdadeira capacidade e determinação de que é feito. A GS sabe muito bem que aldrabou as contas da Grécia e conduziu o povo grego para a beira do precipicio. Mas, sabe ainda melhor, que, sem o empurrão firme e implacável de Durão os gregos não teriam dado o passo em frente. E veja-se todo o sofrimento que essa pequena contribuição gerou. E os ensinamentos que daí se retiraram.

É dum homem assim, com esta visão e esta determinação, que a GS precisava. Alguém que possa agora internalizar novas prácticas, novos métodos de fazer mais rapidamente o sofrimento  chegar a mais pessoas e a mais lugares,  e tudo isso conjugado com mais lucros para a GS e os seus accionistas. Um pioneiro, um descobridor, que, em vez de ter transitado dos bancos da Universidade para a Madrassa Nova Iorquina da GS, como o lusitano Moedas e outros que tais aplicados discipulos, andou, pelo contrário, a completar estudos superiores na cultura chinesa, no velho MRPP, lutando pela pureza ideológica, pela preservação da linha vermelha, pela derrota de todos os revisionistas e social-fascistas. O mesmo que, depois de ter perdido os livros de Mao e de ter mesmo chegado a pensar que nunca os terá lido, prosseguiu incansável na procura da luz e a encontrou no PSD. E que, depois de ter pensado que essa luz já não o favorecia, abandonou essa incubadora de jovens talentos, muitos deles em trânsito para a madrassa que agora vai chefiar. E que arrancou determinado para Bruxelas para mandar na Europa e ajudar a escavacar um continente e todos os restantes. Um homem que ajudou a fazer a guerra e mostra resiliência a escapar a toda e qualquer denúncia. Um especialista "a estar" quando é a hora de colher  e "à invisibilidade" quando se trata de prestar contas. Um chefe, é isso que Durão é. Um verdadeiro chefe que trata de si o melhor que sabe, depois de ter toda a vida feito exactamente o mesmo: tratar de si e dos seus interesses.

A GS percebeu-o muito bem. Este homem é o homem que lhe faltava. Alguém cuja gula e ambição não conhece limites, capaz de reservar para si, e para os seus, tudo o que puder abocanhar. Alguém que acha que não devem existir limites ao sofrimento dos outros, já que isso resulta, como se sabe, da culpa dos próprios e da clássica incapacidade para distribuírem de uma forma justa a pequena parte que lhes resta a todos. Um homem que  nunca se cansa de combater as ineficiências do sector público e o peso excessivo do Estado na economia, incapaz até de distribuir justamente os restos que escapam às garras da GS.

Que outro homem poderia a GS escolher para continuar a Obra?

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