Francisco Louçã, Vital Moreira e João Rodrigues andam a discutir o que é ou não é o "ordoliberalismo".
A minha opinião (tomando como referência sobretudo o livro A Humane Economy, de Wilhelm Röpke) - o ordoliberalismo parece-me uma teoria que combina posições microeconómicas não muito diferentes das de economistas de centro-esquerda como Paul Samuelson, defendendo a intervenção do estado para combater as falhas de mercado (no caso dos ordoliberais, com uma grande ênfase na defesa da concorrência), com posições macroeconómicas à direita de Milton Friedman, defendendo entusiasticamente orçamentos equilibrados e uma politica monetária restritiva (pelo menos no caso de Röpke, com alguma simpatia pelo padrão-ouro). Talvez seja o mais parecido que existe com o "estatismo não-keynesiano" que falo aqui. E, realmente, a política da UE é capaz de andar perto disso - muitas vezes com aparentemente excessiva microregulação e ao mesmo tempo com politicas macroeconómicas bastante restritivas (o que parece contraditório se vermos numa perspetiva estatismo vs. liberalismo, mas já faz mais sentido numa perspetiva regras vs. flexibilidade).
Eu aliás diria que a visão económica dos ordoliberais não pode ser dissociada de uma visão social mais ampla (aliás, creio que um dos aspetos do ordoliberalismo é considerar que a economia não pode ser vista dissociada do conjunto da sociedade) - creio que a ideia dos ordoliberais é um mundo de pequenas e médias localidades e pequenas e médias empresas, com famílias coesas, trabalhadoras e poupadas (Röpke até criticava as compras a prestações), desconfiando simultaneamente do grande capital, do consumismo e do despesismo estatal.
Isto que vou sugerir agora já é uma hipótese altamente especulativa, mas talvez o ordoliberalismo possa ser considerado como sendo, pela direita, um dos herdeiros do romantismo alemão, sendo o outro, pela esquerda, os Verdes (diga-se que o tal livro de Röpke tem uma série de páginas que se tivessem sido escritas uns 20 anos depois quase que poderiam ser de um "verde", lamentando a destruição da natureza pela industrialização - embora provavelmente o "verde" não concluísse o lamento, como Röpke, escrevendo que o único sítio no mundo moderno em que se podia encontrar tranquilidade era numa igreja).
21/07/16
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1 comentários:
"...creio que a ideia dos ordoliberais é um mundo de pequenas e médias localidades e pequenas e médias empresas, com famílias coesas, trabalhadoras e poupadas (Röpke até criticava as compras a prestações), desconfiando simultaneamente do grande capital, do consumismo e do despesismo estatal"
Salazar?
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