13/07/16

O Golpe falhado - para já - no Labour.

O Comité Executivo Nacional (NEC) do Labour decidiu, esta tarde, que o actual líder se pode recandidatar à liderança enfrentando o desafio que lhe foi lançado pela deputada Angela Eagle.
Pelos relatos dos jornais britânicos viveram-se momentos de grande tensão já que tudo apontava no sentido de ser recusada a recandidatura de Corbyn. Eagler obteria assim uma fácil vitória na secretaria.
Imagine-se como a democracia partidária pode ser colocada em questão apenas pela obsessão da chegada ao poder. Recorde-se que a maioria dos deputados trabalhistas votaram uma moção de desconfiança no seu secretário geral, embora essa figura não seja estatutariamente considerada. Mas esse facto teve um enorme impacto politico, passando a suceder-se um conjunto de declarações que punham em causa a legitimidade politica de Corbyn. A mais "altruísta" destas declarações foi de Cameron, que no último debate entre ambos, declarou acintosamente qualquer coisa do estilo: ó homem, por favor vá-se embora.
Recorde-se que esta situação foi despoletada com o resultado do Brexit. A ala direita do Labour passou a difundir uma mensagem politica que atribuía a Corbyn a principal responsabilidade pelo resultado do referendo. Apesar das sucessivas declarações do líder trabalhista de que mais de 2/3 dos eleitores do Labour apoiaram o Remain, e do seu empenho na defesa da proposta de "Remain and Reform", que visava reformar a União Europeia, a propaganda continuou implacável.
Há duas razões politicas que justificam este comportamento do "partido parlamentar", essa aberração que não existe apenas no Labor e não existe apenas no Reino Unido. Por um lado o reforço da liderança de Corbyn significará, a curto prazo, o fim, ou a interrupção, da vida politica da esmagadora maioria destes deputados, quase todos ligados a Blair e a Brown. A impossível defesa do actual status - com a burocrática mudança de primeiro-ministro a ser tratada como um affaire dos Tories - vai levar, inevitavelmente, à antecipação das eleições gerais e à substituição dos Conservadores. Um horror para os inimigos confessos de Corbyn. Por outro lado a  revelação do Relatório Chilcot,  sobre a guerra no Iraque e o papel desempenhado pelo Governo de  Tony Blair, iria provocar  danos consideráveis na ala mais à direita do Labour, como se confirmou. Havia que controlar os danos, elegendo alguém com "outro estilo".  Esta ficção de que a diferença entre Corbyn e Eagle é fundamentalmente uma questão de estilo, não lembraria ao diabo. Angela apoiou a guerra do Iraque. Corbyn esteve sempre contra. Angela apoiou o bombardeamento da Siria. Corbyn esteve contra. Angela absteve-se nos cortes do Estado Social propostos por Cameron-Osborne. Corbyn votou contra. Apoiou o aumento brutal das propinas. Corbyn votou contra. Corbyn está contra o investimento no rearmamento do submarino nuclear. Angela apoia esse investimento. Como é que se pode falar de uma simples mudança de estilo? Mas, dando tudo isto de barato, veja-se como mudou o discurso do Labour com Corbyn. Como o combate à desigualdade, por uma economia mais justa, pelos direitos das pessoas, pelos direitos do trabalho, pela intervenção do Estado na economia, pelo reforço da democracia, contra a austeridade, contra o belicismo, passaram a estar  no primeiro plano do combate politico.
Quem não vai nesta cantiga das diferenças de estilo são os apoiantes do Labour, incluindo os sindicatos e mesmo diversos analistas.
Corbyn e o novo Labour são uma ameaça para os conservadores e, com a mesma intensidade, para os trabalhistas acantonados no "Partido Parlamentar" que, ao longo de décadas, mimetizaram o comportamento politico dos seus rivais, mostrando que eram capazes de fazer pior do que eles.







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