Hillary Clinton é uma das mais impopulares candidatas democratas da história americana. Há boas razões para essa impopularidade, desde a sua ligação/dependência aos/dos interesses que fazem lobbyng junto da Administração, aos comportamentos politicos menos defensáveis enquanto Secretária de Estado [caso dos emails], para culminar agora na forma como beneficiou do comportamento parcial, sectário, anti-estatutário, da máquina do Partido Democrata que agiu deliberadamente para afastar Bernie Sanders da hipótese de nomeação. Esse comportamento parcial, deliberadamente parcial, do Partido Democrata tem um nome: Debbie Wasserman, a até agora presidente do partido. Mas o nome que podemos ler por trás, se olharmos com atenção, é Hillary Clinton, a grande beneficiada com a actuação da, agora obrigada a demitir-se, presidente dos democratas.
Neste quadro muitos se interrogam sobre a razão que leva Bernie Sanders a apoiar Clinton. Pode-se discordar do tom, achá-lo exagerado, mas que sentido faria tomar outra atitude? Sanders utilizou o seu enorme capital politico para introduzir mudanças na máquina do partido democrata, particularmente para impedir que futuramente novas Wasserman possam mandar às malvas os "nossos valores e os nossos principios" e sacrificá-los sem dó nem piedade aos "nossos queridos interesses". Além disso acordou a futura eliminação dos anti-democráticos "super-delegados" que nem no conservador Partido Republicano existem. Mas, mais do que isso, obrigou Hillary Clinton a adoptar um programa politico para a sua candidatura que é o mais à esquerda da história do Partido Democrata. Subida do salário mínimo para 15 dólares/hora, sistema de ensino universal e gratuito, controlo do sistema financeiro, entre outras medidas. Todos os programas valem o que valem e na América, normalmente, valem pouco. Mas de nada valeria se Sanders tivesse adoptado a linha de alguns dos seus apoiantes. Aqueles que, incapazes de aceitar Clinton, acham mais valer votar em Trump "porque assim talvez as pessoas vejam a podridão disto tudo". Se Trump ganhar será certo que essa podridão será mais visível, mas sinceramente não será este um caso tipico em que a defesa do "quanto pior melhor" não faz nenhum sentido. Sanders não teve dúvidas e ainda bem. Falta saber se uma candidata tão impopular consegue derrotar o multimilionário xenófobo e hiper-nacionalista que dominou o Partido Republicano. Não vai ser fácil e os riscos são enormes.
26/07/16
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1 comentários:
Casal Clinton: basta procurar para achar algum malabarismo ético
Sabem aqueles políticos que confundem público e privado? A provável futura presidente americana é do tipo
VILMA GRYZINSKI
Como será o comportamento da presidente Hillary Clinton se sua eleição for espelhada pelo resultado das pesquisas?
Usamos a palavra comportamento, e não governo, com um objetivo específico: analisar sua postura ética e “presidencial”, no sentido de que a chefe da nação deve ter atitudes, mais do que corretas, à prova do crivo implacável a que é submetida a pessoa no cargo mais poderoso do mundo.
Como o comportamento futuro só pode ser especulado com base naquilo que aconteceu no passado, a ex-primeira-dama, ex-senadora e ex-secretária de Estado não será uma presidente acima de qualquer suspeita. Uma confusão que os brasileiros conhecem bem, a de políticos que usam o público para favorecer o privado, obscurece constantemente a imagem projetada por ela
Hillary e Bill Clinton às vezes parecem formar mais uma associação para atividades ilegítimas, embora não ilícitas, do que um casal que se verá na rara posição de dupla presidência, ambos como políticos eleitos por direito próprio. O único precedente, pouco entusiasmante, é o de Néstor e Cristina Kirchner, na Argentina.
O casal Clinton aperfeiçoou a arte de transformar preeminência política em dinheiro com espetacular eficiência. Sobrevivente de um impeachment, desprezado por uma parte da opinião pública e até suspenso da ordem dos advogados durante cinco anos pelas mentiras patéticas sobre seu caso com a estagiária Monica Lewinsky, Bill Clinton ressurgiu como estadista e milionário através do negócio de palestras e de consultoria, sempre em produtiva sinergia com sua fundação beneficente.
Nada de errado, mesmo que Clinton tenha levado o prestígio de ex-presidente a países governados por autocratas, ditadores e outras figuras pouco familiarizadas com procedimentos democráticos.
O problema está na porta giratória entre a Fundação Clinton e o governo americano, seja na posição dele como ex-presidente, seja na de Hillary quando era secretária de Estado. Uma reportagem do site Politico, que apóia Hillary sem disfarces, mostra como funcionários da equipe a que Bill Clinton tem direito como ex-presidente, pagos com dinheiro público, também trabalharam para a Fundação Clinton – uma indecência até pelos padrões de certos países tropicais...
[Veja, 1-09-16]
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