16/08/16

Erosão do consenso democrático?

Há dias, no Observador, João Carlos Espada falava sobre o que ele considerava ser a erosão do consenso democrático na América:
Em 1995, apenas 16% dos americanos nascidos na década de 1970 acreditavam que a democracia era um “mau sistema político” para o seu país. Em 2011, essa percentagem subia para 24% entre os “millenials” (nascidos depois de 1980, portanto em idades semelhantes aos do grupo anterior medido em 1995). (...)

No mesmo período, a percentagem de pessoas que acha melhor “ter especialistas, em vez de governos eleitos, a tomar decisões para o país” cresceu de 39 para uns surpreendentes (ou mesmo escandalosos) 49%.
João Carlos Espada continua o seu artigo:
Em qualquer caso, no imediato, o artigo parece ajudar a explicar o intrigante espectáculo até agora oferecido pela campanha presidencial norte-americana.

Como é possível que o Partido Republicano de Abraham Lincoln, Dwight Eisenhower e Ronald Reagan tenha deixado que massas ululantes nomeassem Donald Trump — que nunca foi um Republicano — como seu candidato presidencial? Como é possível que o Partido Democrata de Franklin D. Roosevelt, Harry S. Truman e John F. Kennedy tenha deixado que massas ululantes quase nomeassem Bernie Sanders — que nunca foi um Democrata — como seu candidato presidencial?

7 comentários:

Anónimo disse...

Oh. Miguel Madeira: Para quê dar a mão ao Espada dos inquietos e atávicos "neo-cons" à portuguesa? Como o assumem Cheney, Bush e os verdadeiros neo-cons yankees, a candidatura de Trump teve o grande e máximo mérito de ter congregado contra si todo o "sistema" democrático à americana...Em Portugal, a direita e seus pares tem vergonha de se assumir...Niet

Miguel Madeira disse...

O meu ponto é sobretudo uma análise comparativa entra as duas passagens do texto de JCE

José Guinote disse...

A comparação do Espada, evidenciada pelo Miguel Madeira, padece de algumas deturpações. Espada quer colocar no mesmo plano Trump e Sanders, como duas mal-formações extremistas do sistema democrático. Trata-se de uma tentativa de legitimar Trump à custa de Sanders, apresentando-os como consequência da degradação do mesmo sistema. Os democratas que apoiaram Sanders - ao contrário dos sectores ultra-conservadores do Partido Republicano, sectores neo-conservadores e libertarianos - são pessoas que aspiram à melhoria da qualidade da democracia, ao reforço do modelo social com a universalização do sistema de ensino e do sistema de saúde, com a garantia de uma segurança social pública. Pessoas que aspiram à redução e ao combate às desigualdades, ao controlo do sistema financeiro. O recurso ao termo "massas ululantes" por Espada, faz todo o sentido. O homem fica louco sempre que alguém defende um módico de justiça social assegurada através da acção do Estado. Imagina logo massas ululantes a colocarem em perigo os seus estimados direitos, liberdades e garantias. Falta-lhe apenas a coragem intelectual para afirmar de plena voz que, por isso mesmo, prefere o voto em Trump.
Trump defronta Clintom apoiada por Sanders. Há um reforçado consenso democrático em torno de Clinton e Sanders é um seu importante construtor, como refere Niet. Trump é um extremismo polarizador do pior da direita ultrareaccionária e sem reflexo do outro lado do espectro politico.

Anónimo disse...

Magnifico comentário de José Guinote que, com uma maravilhosa mas acutilante modéstia,coloca as questões essenciais. Claro, eu segui a campanha eleitoral norte-americana e, no manancial de news e análises das ultimas semanas, sobressai agora , cada vez de forma mais perigosa e ameaçadora, o deliberado propósito de Trump e dos seus apoiantes em " formarem " milicias armadas para tentarem condicionar os resultados do duelo presidencial de Novembro próximo. Formadas estão, essas milicias paramilitares,resta apurar o número , que nos " mentideros " da politica yankee se alvitra poderem atingir mais de 15oo grupos...Como é que, o Procurador Geral USA irá reagir, é mais um suspense tenebroso com que teremos que lidar...Niet

Miguel Madeira disse...

O que me chamou a atenção neste artigo foi como o autor passa em poucas linhas de «No mesmo período, a percentagem de pessoas que acha melhor “ter especialistas, em vez de governos eleitos, a tomar decisões para o país” cresceu de 39 para uns surpreendentes (ou mesmo escandalosos) 49%» para «Como é possível que o Partido (...) de (...) tenha deixado que massas ululantes...»

Ana Cristina Leonardo disse...

Os neocon apoiam Clinton e Espada é tonto.

Anónimo disse...

¿Por qué seguimos votando a los mismos? Así es la neurociencia del voto

A pesar de las campañas y los escándalos de corrupción, los partidos mantienen sus porcentajes de voto y, en algún caso, los aumentan

"Ahora que vivimos tiempos interesantes en España (siguiendo la maldición china) es bueno preguntarnos si hemos tomado las decisiones correctas y plantearnos si el sistema que seguimos para tomarlas es el más adecuado o no. Una de las lecciones que hemos aprendido es que, a pesar de las campañas, a pesar de los escándalos de corrupción, los partidos mantienen sus porcentajes de voto y, en algún caso, los aumentan. ¿Cuál es la causa de esa persistencia en nuestra decisión por unos u otros partidos?

Los estudios recientes en neurociencia confirman que estamos decididos a mantener nuestras opiniones ante los hechos que las ponen en duda, preferimos nuestros preconceptos y esto nos da satisfacción y seguridad. Ignoramos lo que nos dicen otras partes del cerebro y preferimos la seguridad cuando las decisiones son tan complejas; nuestras emociones están por encima de las razones. Y la recomendación de los expertos es reunir toda la información posible, pero tomarnos nuestro tiempo para madurarla y decidir sin hacer tanto caso a nuestra parte racional."

El País, 19 de Agosto