O escândalo atingiu tal dimensão que se torna inevitável começar a falar de prevenção e de ordenamento. Adivinho que virão aí, "abordagens integradas", "novas metodologias de actuação", uma "nova visão sobre a floresta" e o conjunto habitual de "lenga-lengas" que justificarão a legislação que permitirá definir a nova área de negócios, que emergirá desta catástrofe.
Qualquer cidadão percebe que a situação actual é o resultado de uma opção politica que tem merecido um amplo consenso no Governo da República Portuguesa. Qualquer cidadão medianamente informado percebe que para alterar a situação actual é necessário mudar de politica.
Para obter resultados é em primeiro lugar necessário mobilizar as competências técnicas e cientificas disponíveis. Infelizmente, na sociedade portuguesa, há muito que o Saber deixou de significar Poder. É necessário apostar no conhecimento e retirar protagonismo ao compadrio e ao tráfico de influências.
Em primeiro lugar o actual Governo deverá ter a coragem de vir a público reconhecer os erros cometidos ao longo das últimas décadas e assumir a necessidade de os corrigir. É necessário reconquistar a confiança dos cidadãos. Importa por isso que sejam tornados públicos os dados relativos às sucessivas decisões politicas que foram tomadas, os custos que elas envolveram e os seus principais beneficiários. Depois é necessário recuperar os serviços públicos que durante décadas mostraram como a prevenção é o único caminho viável.
Para começar o que aqui se escreve é bastante esclarecedor.
Há muito conhecimento disponível sobre a questão da floresta. O que não tem havido é capacidade politica para valorizar esse conhecimento.
NOTA. No meio deste combate desigual contra os incêndios emerge pelo seu heroísmo a figura do Bombeiro. Apesar dos avultados meios mobilizados para o combate, apesar dos ajustes directos para aquisição de meios, os Bombeiros prestam este serviço com base em salários próximos do salário mínimo e com graus de precariedade chocantes. Ninguém toma medidas para dignificar a sua actividade.
ACTUALIZAÇÃO (18.08.2016) - Sobre esta magna questão dos incêndios sucederam-se ao longo da última semana as mais esperadas e costumeiras declarações. No meio do fumo, que muitas vezes dificulta a compreensão dos factos, destaco duas pelo seu particular significado. A entrevista do Ministro da Agricultura, Capoula Santos, pela sua genuína defesa do status mais do que pelo carácter inovador das suas propostas. Defesa do status corporizada na sua frase de síntese "Não há sistema preventivo que valha nos incêndios". O artigo de opinião/ carta aberta do antigo Presidente do Instituto de Conservação da Natureza, o arquitecto paisagista, Henrique Pereira dos Santos. São antigos e fortes os laços que tecem a dura e combustível realidade.
3 comentários:
O fogo não apaga a memória da catástrofe política da desigualdade territorial e cultural embora nos reduza esse espaço de memória e se nos acomodamos acabará por nos conduzir a um lugar irreconhecível...
QUARTA-FEIRA, 17 DE AGOSTO DE 2016
Eucaliptal - 2, Portugal - 0
Publicado por Vital Moreira
Em janeiro deste ano o Governo anunciou na AR a revogação dentro de poucas semanas
da chamada "lei de liberalização do eucalipto" de 2013 - que foi um frete de Passos Coelho e Assunção Cristas à indústria de celulose e à CAP.
Todavia, passados todos este meses, não há notícia do diploma de revogação nem há nenhuma explicação pública para o atraso. O alegado partido os Verdes - que supostamente exigiu essa medida ao Governo - também não tuge nem muge sobre o assunto. É importante recordar esse compromisso quando a vaga de incêndios florestais levou vários responsáveis municipais a reclamar a limitação da expansão do eucalipto.
Pelos vistos, quanto a medidas políticas do anterior Governo há reversões e reversões, provando-se mais uma vez que as conquistas políticas da celulose e da CAP são irreversíveis. Para mal do País.
http://causa-nossa.blogspot.pt
O presidente da Câmara de Viana do Castelo apelou hoje ao Ministério da Agricultura para "impor limites à reflorestação de eucaliptos" depois de ter perdido 30% da área florestal do concelho nos incêndios da última semana.
Em comunicado, o autarca socialista José Maria Costa explicou que os fogos que fustigaram o concelho na semana passada consumiram "cerca de seis mil hectares de floresta" e que "perante situações excecionais, riscos excecionais, os incêndios excecionais, é urgente que haja medidas de exceção".
"É preciso que, de uma vez por todas, se aposte em espécies autóctones, mais resilientes ao fogo e com menos riscos para a população, para os bombeiros e para o ambiente", sustentou na nota hoje enviada.
No documento, o município explicou que o Plano Diretor Municipal (PDM) de Viana do Castelo "tem, no seu regulamento, regras orientadoras sobre o tipo de espécies arbóreas a utilizar em espaço florestal mas que não têm força impositiva", apelando ao Ministério da Agricultura para que lhes dê "força vinculativa".
A autarquia quer ainda que no "Programa de Reflorestação apresentado recentemente pelo Governo, a plantação de eucaliptos seja interditada".
A posição da Câmara da capital do Alto Minho surge na sequência de uma reunião do Gabinete Técnico Florestal para balanço dos prejuízos causados pelos incêndios.
"A velocidade de propagação dos incêndios dificultou o combate pelo facto da floresta predominante ser de eucaliptos, uma espécie altamente inflamável e cuja folhagem emite projeções a grandes distâncias e com muita intensidade, o que dificultou a defesa de pessoas e bens e permitiu o alastramento do incêndio a grandes áreas florestais", sustentou o município.
A orografia do concelho, "muito acidentada, com zonas clivosas a ultrapassar em muitos casos os 30%, associado a linhas de água" é outro dos argumentos apontados pela Câmara para sustentar o pedido feito ao Ministério da Agricultura para impor limites à "produção ou plantação de eucaliptos".
Diário Digital com Lusa
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