17/05/11

Campanha da AI contra os campos da morte norte-coreanos

A Amnistia Internacional tem em curso uma campanha exigindo, entre outras medidas, o encerramento do maior dos campos de concentração da Coreia do Norte. A correspondente petição pode ser subscrita aqui.
A título informativo, parece-me ainda útil deixar transcrito um documento da AI sobre os campos da morte e as "zonas de controle total" da ditadura.

A Amnistia Internacional publicou imagens por satélite e novos testemunhos que ilustram as horríveis condições na rede de campos para presos políticos na Coreia do Norte, que albergam cerca de 200 000 pessoas.

As imagens revelam a localização, o tamanho e as condições nestes campos. A Amnistia Internacional falou com várias pessoas, incluindo antigos prisioneiros do campo para presos políticos em Yodok assim como guardas noutros campos para presos políticos, para obter informação sobre a vida nos campos.

De acordo com antigos detidos no campo para presos políticos de Yodok, os prisioneiros são forçados a trabalhar em condições próximas da escravatura e são frequentemente sujeitos a tortura e a outros tratamentos cruéis, desumanos e degradantes. Todos os detidos em Yodok presenciaram execuções públicas.

“A Coreia do Norte não pode continuar a negar o inegável. Durante décadas as autoridades têm-se recusado a admitir a existência de grandes campos para presos políticos,” afirmou Sam Zarifi, Director da Amnistia Internacional para a Ásia-Pacífico.

“Estes são locais fora de vista do resto do mundo, onde quase todos os tipos de protecção de direitos humanos que o direito internacional tem tentado afirmar durante os últimos sessenta anos, são ignorados.”

“Enquanto a Coreia do Norte parece caminhar em direcção a um novo líder, Kim Jong-un e em direcção a um período de instabilidade política, a grande preocupação é que os campos para presos políticos parecem estar a crescer em dimensão.”

A Amnistia Internacional acredita que os campos estão em funcionamento desde os anos 50, contudo, apenas 3 pessoas terão escapado de zonas de controlo total e deixado a Coreia do Norte. Sabe-se que cerca de 30 pessoas foram libertadas da Zona Revolucionária no Campo para Presos Políticos de Yodok e deixado a Coreia do Norte. De acordo com o testemunho de um antigo detido na zona revolucionária do campo para prisioneiros políticos de Yodok, aproximadamente 40% dos prisioneiros morreram de subnutrição, entre 1999 e 2001.

As imagens de satélite mostram quatro dos seis campos a ocupar áreas extensas de terra e localizadas em vastos desertos nas províncias de Pyongan do Sul, Hamkyung do Sul e Hamkyung do Norte, e a produzir produtos variando desde pasta e doces de feijão de soja a carvão e cimento.

Uma comparação das últimas imagens de satélite desde 2001, indica um aumento significativo na escala dos campos.

Em apenas um dos campos, Kwanliso 15 em Yodok, crê-se que milhares de pessoas estão presas como “culpadas por associação” ou foram enviadas para os campos simplesmente devido a um dos seus parentes ter sido detido.

A maioria dos prisioneiros, incluindo algumas das pessoas ‘culpadas por associação’, estão presas em áreas conhecidas como “Zonas de Controlo Total”, de onde nunca serão libertadas.

Uma porção significativa das pessoas enviadas para os campos não sabem sequer de que crimes são acusadas.





A Amnistia Internacional falou com um dos antigos detidos do campo para prisioneiros políticos conhecido por Kwanliso 15 em Yodok.

Kim, um antigo prisioneiro, disse à Amnistia Internacional: “Toda a gente em Kwanliso testemunhou execuções. Enquanto estive em Kwanliso15 em Yodok, todos os que tentaram escapar foram apanhados. Foram interrogados durante 2 a 3 meses e mais tarde executados. “

Jeong Kyoungil foi preso pela primeira vez em 1999 e detido em Yodok de 2000 a 2003. A Amnistia Internacional entrevistou Jeong em Seoul em Abril de 2011.

“Um quarto com cerca de 50m² de tamanho, é o local onde os trinta ou quarenta prisioneiros dormem. Nós dormimos numa espécie de cama feita de um estrado de madeira com um cobertor para nos taparmos. O dia começa às 04.00h com um turno cedo, também denominado por ‘turno pré-refeição’, até às 07.00h. Depois o pequeno almoço das 07.00h às 08.00h mas a refeição é apenas 200g de papa de cereal pobremente preparada para cada refeição. Depois, há um turno matinal das 08.00h até às 12.00h e almoço até às 13.00h. Depois, trabalho novamente das 13.00h as 20.00h e jantar das 20.00h às 21.00h. Das 21.00h às 23.00h, é tempo para educação ideológica. Se não memorizássemos os dez códigos de ética não nos seria permitido dormir. Este é o horário diário. ”

“200g de papa de cereal pobremente preparada numa taça seria apenas dada se terminássemos as nossas tarefas diárias. Em caso contrário, não nos seria dada qualquer comida. A tarefa diária é arrancar as ervas que vão crescendo. Todos seriam encarregues de uma área de 1157m² de terra e apenas as pessoas que terminassem a sua tarefa teriam comida. Se terminasse apenas metade da tarefa, teria apenas metade da comida. “

“Acontecia frequentemente ver pessoas morrer – todos os dias. Francamente, ao contrário do que sucede numa sociedade normal, não nos sentíamos tristes, porque se trouxéssemos um cadáver e o enterrássemos, teríamos mais uma taça de comida. Eu costumava estar encarregue de enterrar os cadáveres. Assim que um oficial me ordenasse, eu reunia algumas pessoas e enterrava os seus corpos. Depois de receber comida extra pelo trabalho, sentíamo-nos bem em vez de nos sentirmos tristes. “

As autoridades Norte Coreanas são também conhecidas por usar uma ‘cela de tortura’ cúbica, onde é impossível ficar de pé ou deitarmo-nos. Os “prisioneiros disruptivos” são colocados nesta cela durante pelo menos uma semana, mas a Amnistia Internacional tem conhecimento de um caso de uma criança que permaneceu nesta cela durante oito meses.

Na maioria dos campos, não é disponibilizada qualquer roupa e os prisioneiros têm que enfrentar invernos rigorosos. É esperado que os prisioneiros trabalhem longas horas sendo regularmente obrigados a desempenhar trabalho manual rígido e frequentemente sem sentido.

Nos campos a comida é escassa. A Amnistia Internacional recebeu informações de várias pessoas que comem ratos ou que colhem grãos de cereais de desperdícios animais com o único propósito de sobreviverem, apesar dos riscos – qualquer pessoa apanhada arrisca-se a prisão em solitária ou a outras torturas.

“Centenas de milhares de pessoas vivem virtualmente sem direitos, tratados essencialmente como escravos, em algumas das piores circunstâncias que documentámos nos últimos cinquenta anos, “ afirmou Sam Zarifi.

“As condições nestes campos são desumanas e Kim Jong-il tem de fechá-los imediatamente. “

2 comentários:

P.A. Lerma disse...

os campos coreanos tal como os gulag's ou em maior escala os cambodjanos de Polpot

respondem a três grandes desígnios

reduzir os gastos alimentares com os potenciais inimigos do regime
(mais ou menos 98% da população)

dar o exemplo aos que ainda estão fora

produzir alguma coisa (por vezes muita como o arquipélago di gulag)
à custa de trabalhores bastante motivados a não morrer de fome

acabar com os campos jámé

tempus fugit à pressa disse...

aproximadamente 40% dos prisioneiros morreram de subnutrição, entre 1999 e 2001.

foram anos de fome para a população geral

surpreendente é o cuidado com a mão de obra escrava pois só ter morrido 40% da população prisional

em anos em que 20 milhões foram esfomeados com 15 por mil de mortalidade acrescida ou mais

tinham-se de esvaziar os campos para meter pessoal novo

que a fome tende a criar mais inimigos do estado e mais delatores