20/05/11

O debate entre Louçã e Portas

Esta notícia é muito infeliz. Para não dizer incompetente. A discussão em torno da pobreza que marcou o debate entre Francisco Louçã e Paulo Portas terá sido em parte esse tal debate acerca do mais legítimo defensor dos pobres. Mas ver apenas isto nesse debate roça a má-fé. Porque na verdade este debate teve um dos poucos momentos político-ideológicos sérios nestes debates eleitorais. Simplificando: um debate entre uma visão contra a pobreza assente no princípio da solidariedade (Louçã) e uma outra assente no princípio tanto da caridade como do policiamento (Portas). Com efeito, a exigência de Portas de uma maior vigilância (nome por nome, porta à porta, disse ele) dos beneficiários do rendimento social, aliada à proposta da entrega de vales de alimentação em lugar de dinheiro, junta um pouco das estratégias de racionamento típicas dos Estados planificadores (com uns pós de crítica moralista do dinheiro e do consumo) com as de controlo policial da individualidade de cada um. Isto para os pobres, claro. Para ricos, especulação financeira a rodos e elogio do individualismo.

3 comentários:

Justiniano disse...

Caro Zé Neves, esta sua tirada, diga-se, não fica muito longe do pináculo da má fé - "e uma outra assente no princípio tanto da caridade como do policiamento (Portas)." Não será mais correcto descrever doutrinariamente os pontos por socio-destributivo contra individual comutativo!!?? Assim de boa fé!!

Anónimo disse...

Para que lado irá cair o Zé Neves. Ou tratasse de puro exercício de equilibrismo?

Sangarro

Zé Neves disse...

justiniano,
não sei que má-fé descortina aqui. acho importante sublinhar o duplo carácter da política social subjacente às propostas de Portas e da direita: por um lado a exigência de um Estado cada vez mais vigilante (controlar ao máximo o quotidiano de um desempregado, por exemplo) e por outro apelando à caridade (o vale de comida em vez do dinheiro, o peixe em vez da cana (embora aqui a questão seja mais complicada, sem dúvida), etc.)

sangarro,
está-se mesmo a ver que eu defendo o portas.