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Zatopek é um símbolo antigo e permanente da corrida contra os limites no desporto. Na sua prolongada fase pujante, ganhava, nas corridas de longa distância, tudo o que havia ganhar, numa espiral em que todos os records lhe pertenciam e ele em cada corrida ia batendo os seus próprios records, atingindo o pleno nuns Jogos Olímpicos em Helsínquia em que conquistou o ouro nas três modalidades de longa distância - 5.000 metros, 10.000 metros e Maratona (!), sendo-lhe aposta a alcunha significante de “locomotiva humana”. A sua figura a competir era inconfundível – estilo “escangalhado”, máscara de esforço sofrido, transmissão de noção de esforço muscular levado ao limite. Como os seus sucessos coincidiram com a construção da Checoslováquia socialista, sob regime de “democracia popular”, Zatopek foi erigido a um dos grandes símbolos da transformação comunista checoslovaca. Para mais, Zatopek era originário da classe operária e comunista. Assim, a propaganda do regime checoslovaca não só difundia intensamente o mito de Zatopek, apontando-o (pela imagem que transmitia de máxima aplicação na obtenção de resultados) como um stakhonovista modelo do esforço desportivo na longa distância, o símbolo do desportista comunista, cujos sucessos só eram entendíveis enquanto alcançados por um comunista (exemplar). No partido comunista, Zatopek ascendeu ao comité central. Como oficial, por cada sucesso foi sendo promovido de posto, até obter os galões de Coronel.
Com uma solenidade contida, com o respeito devido à tragédia humana, Echenoz, depois de nos fazer acompanhar, de forma viva, a pujança, o apogeu e à inevitável decadência desportiva de Zatopek imposta pelas leis da vida, como que se recolhe perante o desfecho da vida do famoso desportista checoslovaco, adoptando um registo literário com a secura da denúncia do absurdo da opressão. O caso não foi para menos. É que Zatopek, tendo-se oposto à invasão e ocupação soviética e outros exércitos do Pacto de Varsóvia da Checoslováquia em 1968, assumindo as suas obrigações de
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(*) – “Correr”, Jean Echenoz, Cavalo de Ferro Editores
2 comentários:
com que então agora tb. lemos os mesmos livros...
Ainda acabamos a almoçar juntos...
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