14/05/11
É óbvio
por
Pedro Viana
É óbvio que a redução da TSU (Taxa Social Única), sendo compensada por um aumento do IVA, tem o efeito equivalente à baixa de salários (...) para os trabalhadores, o impacto é idêntico – o que não perdem nos salários, vão pagar nos impostos sobre o consumo. Mais, na verdade o impacto não é idêntico, porque a redução indirecta do salário será percentualmente maior quanto menor fôr o salário, dado que a fracção do salário que é usado em consumo aumenta à medida que o salário diminui. Ou seja, as propostas de PS e PSD para compensarem a redução da TSU com o aumento de impostos sobre o consumo equivalem a um corte regressivo nos salários (percentualmente perde mais quem recebe menos), corte esse que em parte acabará nos bolsos dos acionistas das empresas mais protegidas da concorrência (estão a vê-las a diminuir os seus preços em resposta a um corte na TSU?!...). Parece-me que BE e PCP deviam esforçar-se mais para levar os eleitores a perceberem o que PS e PSD se propõem efectivamente fazer. Poderiam obter muitos votos se conseguissem tal.
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5 comentários:
Acho que se pode dizer ainda:
Pelo que tenho percebido os trabalhadores irão perder em dois momentos diferentes:
(1) enquanto trabalhadores activos pela simples diminuição do seu poder de compra através do aumento do IVA - como diz quem tem menos rendimentos tem menos possibilidade de poupar ou investir e gasta percentualmente mais o seu rendimento em consumo imediato.
(2) e enquanto pensionistas no futuro porque a baixa da TSU traduz uma diferença de contribuições para a segurança social, isto é, o contributo dos trabalhadores passará a ser percentualmente maior pelo que a segurança social como instrumento de uma política redistributiva de rendimentos, e visando um atenuar das desigualdades sociais também sai prejudicada.
A minha questão é mais básica:
para que serve a diminuição da TSU?
Alguém no seu perfeito juízo acredita que a poupança nesse imposto por parte de empresas irá ser canalizado para o aumento do emprego?
Não, não vai. Quanto muito, e se não for usado no enriquecimento do património dos próprios donos das empresas, irá usado para o abatimento (mais uma vez os bancos) das dívidas das empresas à banca. De recordar que, com a crise financeira a rebentar por tudo que é sítio (mesmo já em 2010) muitas empresas continuavam a recorrer a empréstimos bancários, não para investimento em produção mas para proveito próprio dos "empresários", como se não houvesse amanhã e sabendo que não iriam ter condições para cumprir esses pagamentos.
A este propósito (TSU), convém ler as condições impostas pelo "memorando" para o seu abaixamento, coisa que tem sido constantemente omitido pela troika da direita:
uma vez sem exemplo ;) sugiro que se leia este post de João Galamba no Jugular:
http://jugular.blogs.sapo.pt/2647494.html
Mas LAM isso que diz foi o que o Sérgio Sousa Pinto admitiu no último debate na RTP. Também ele concordou que a diminuição da TSU possa servir mais para aumentar lucros não tendo efeito final sobre a competitividade.
Um IVA mais alto sobre produtos não essenciais. Qual é o problema? É essa selecção que tem que ser feita. Os patés, os queijos importados, os perfumes, os frutos exóticos são essenciais? E porque se há-de pensar que os empresários vão embolsar esse valor em vez de investir? Toda a gente (toda a gente) neste país tem que perceber que estamos num ponto de viragem e que é agora ou nunca. Economistas, jornalistas, políticos têm a obrigação de largar as partidarites e começar a contribuir para a mudança de mentalidade. É um sentido de "colectivo" que neste momento faz falta.
Cara Avó Ofélia,
Não é aumentando o IVA sobre produtos consumidos apenas por uma muito pequena fracção da população que se consegue angariar o montante necessário para financiar qualquer redução substancial da TSU. Para que tal seja conseguido ter-se-á de aumentar o IVA ou sobre um muito grande número de produtos de consumo intermédio, o que basicamente requer aumentar a taxa alta do IVA, coisa que o PSD diz não querer fazer, ou então sobre um número mais reduzido de produtos de consumo quase universal (electricidade, água, leite, pão, vinho, etc), que é o que o PSD mais ou menos envergonhadamente admite fazer (o PS mantém-se calado, pois gosta de "supreender" após as eleições...). E é disto que estamos a falar, não sobre "queijos importados, os perfumes, os frutos exóticos".
Quanto aos empresários, parece que não conhece a nossa parasítica classe empresarial, que gosta de "investir" em quase-monopólios e negócios com o Estado. Tem uma tal aversão ao risco que acha mesmo que iria optar por investir num clima de depressão económica, em vez de colocar o dinheirinho poupado com o TSU a render em off-shores?
E não adianta apelar a qualquer sentido de colectivo quando o remédio que nos querem obrigar a engolir nada é mais do que uma brutal agressão à maioria da população, enquanto quem está no topo poucos sacrificios terá de fazer. Apelar aos "Economistas, jornalistas, políticos" de nada adianta. O poder não está nas suas mãos. Se quer apelar a alguém, faça-o aos donos de Portugal, aos detentores do poder económico. Apele ao seu "sentido de "colectivo"", e não se deixe abater quando se rirem na sua cara.
Cumprimentos,
Pedro Viana
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