22/09/10

Não comecem a servir água nesses jantares, não...

Manuel Alegre já se imagina presidente «do país mais velho da Europa». Embalado por este lindo sonho, ilustrou de seguida a importância que concede a alguns pormenores de somenos, parvoíces que só atrapalham quem quer chegar longe. Do alto do seu palanque, o Poeta denunciou os meliantes que «colocam a ideologia e os interesses acima do interesse nacional. É algo muito estranho e nunca visto.»
A ideologia é assim vista como um adereço manhoso, comparável aos interesses e quiçá ao mesmo nível das preferências futebolísticas. É uma bagagem nefasta, algo a descartar de imediato, mal se adivinhe no horizonte o vulto grandioso do Interesse Nacional. O que nos vale é termos o Grande Bardo para nos avisar da chegada de semelhantes momentos.

1 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Certeiro e justiceiro camarada Luis,

nos meus tempos de jovem, quando o Salazar ou os seus propagandistas diziam e repetiam coisas destas - que eram o pão nosso de cada dia -, nós respondíamos que a invocação do interesse nacional era uma mistificação de classe e a sua representação uma representação ideológica.
Devo estar a ficar velho, mas continuo a pensar que o que distingue um democrata é pôr, não Portugal e os seus interesses (signifiquem estes o que significarem), mas a cidadania democrática em primeiro lugar. Qual é o conteúdo democrático ou emancipador da suposta condição de mais velho país da Europa? Quem define o "interesse nacional" ou que pode significar este para além da legitimação dos interesses oligárquicos ou de classe dos que governam a vida e o trabalho dos outros, o comum dos mortais que povoam a região, contra os interesses da livre e igualitária cidadania destes? Não há democratização, ou extensão da democracia, que não se faça também contra as fronteiras e prerrogativas da soberania nacional.

Abrç

miguel so