22/09/10

Nem mais nem menos

A propósito do voto contra uma proposta do BE, condenando as deportações ordenadas por Sarkozy, por parte da maior parte dos parlamentares do PS:

Sarkozy é o melhor aliado do governo português em Bruxelas. Foi isto que levou a direcção da bancada socialista a chumbar o voto de protesto pela deportação dos ciganos apresentado pelo Bloco de Esquerda, o que provocou grande divisão na bancada, com o vice-presidente Sérgio Sousa Pinto a votar ao lado do BE.
Entre perder um aliado na mesa do Conselho Europeu e tomar uma decisão que deixou o presidente da comissão de Direitos, Liberdades e Garantias "combalido", a direcção parlamentar do PS optou pela segunda. "Às vezes têm de se fazer coisas chatas", assume um responsável socialista, sob anonimato. "São conveniências políticas que não podem ser sempre entendidas", afirma.

É por aqui que passam a diferença e a oposição irredutíveis entre os que subordinam a liberdade e a igualdade democráticas e os direitos de cidadania ao que consagram como "interesse nacional" e os que não reconhecem legitimidade a interesses políticos que primem sobre a exigência de democracia. Nem mais nem menos: ele há "conveniências políticas que não podem ser sempre entendidas" senão por aqueles que governam os outros e, nessa qualidade, definem os "interesses nacionais" a que todos se devem subordinar, calando a boca, é claro, e respeitando o superior entendimento e a liberdade de acção das autoridades competentes. Exactamente como, há dias, o candidato Francisco Lopes explicou a propósito de Cuba e do modo de acção dos seus dirigentes.

4 comentários:

LF disse...

Excelente bofetada de luva branca.

rafael disse...

Caro Miguel, vejo-me obrigado (pelo tempo e pelo tema) a repetir a minha resposta a post anterior:

Caro Miguel, a sua interpretaçao do sentido das palavras do Francisco Lopes é no minimo abusiva, para nao dizer mais. Perdoe-me que lhe diga, com toda a franqueza, que eu acho muito mais legitimo retirar das palavras do candidato presidencial do PCP a seguinte explanaçao:

«os dirigentes cubanos têm todo o direito de pensar em cada momento quais são as formas de organização do seu Estado e dar resposta aos interesses do povo» visto que estes dirigentes sao portadores da legitimidade democratica que lhes foi imbuida pelo recente acto eleitoral em Cuba e pelos debates francos e honestos que se têm vindo a desenvolver nos ultimos dois anos com largos sectores da populaçao e que, no actual momento, encontram-se na sua fase de conclusao.

Em suma e em sintese, onde o Miguel vê um dirigismo atroz que se substitui ao povo, eu vejo dirigentes honestamente preocupados em promover um amplo debate para conseguir com o apoio do povo um consenso nacional sobre a melhor forma de revitalizar a economia cubana. Dir-me-à que a minha visao é ideologica, e é, assim como a sua...

cumprimentos
rafael

PS: colocar no mesmo plano visoes tao distintas do mundo como a da rev. cubana e da extrema direita francesa, especialmente quando Fidel tem sido um dos maiores criticos da ilegalizáçao de seres humanos nos ultimos 10 ou 20 anos, parece-me um tiro completamente ao lado...

Niet disse...

Caro MS Pereira: A lógica infernal-hierárquica, despótica e desigualitária - do funcionamento do Estado, em si, gera este tipo de equívocas situações. E Portugal tem a agravante de ser um país dependente e periférico caracterizado, como sabemos, por pertencer aos PIGGS ou ao Club Méd...Hoje,também no Le Monde On Line, saiu um artigo do director do Centro de Estudos e Pesquisas Internacionais(CERI), Christian Lequesne, onde assinala preto no brancoque, Sarkozy, trata a U.E. como uma simples " organização intergovernamental"; e, frisa, que é " controlada pelos Grandes países que rejeitam receber quaisquer tipos de lições da parte de instituições europeias compostas de tecnocratas irresponsáveis !". O desassombro da análise não nos faz esquecer a temível deriva populista e neo-liberal- o salve-se quem puder total!-que Sarkozy e Merkel introduziram na política europeia, recheada de golpes de má-fé e de submissão à economia de mercado.Niet

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Rafael,

agradeço a sua franqueza, mas com igual medida dela digo-lhe que as nossas divergências permanecem no pé em que as deixámos nas caixas de comentários dos posts anteriores, dos últimos dias.
Espero que pelo menos não me acuse de unilateralismo na crítica: o alvo principal do post é desta vez o conjunto dos responsáveis pela direcção do PS.

Cordias saudações republicanas

msp