22/09/10

Os movimentos sociais e o BE

Andou pelo Spectrum - penso que já terá acalmado - uma discussão que não é da menor importância. Os termos da discussão saíram do eixo, é claro, e eu não pretendo voltar a colocar o debate nesses eixos, apenas dizer que é normal esse descambar e que não há que dramatizar a coisa e deixar escapar o essencial. Aliás, a exaltação e o descambar respectivo não deixam de sinalizar, em parte, que é essencial o que se discute e que é normal falarmos mais alto quando se discutem coisas que dizem respeita à vidinha diária de cada um. E a militância, diga-se, faz parte da vida quotidiana (nuns casos mais, noutros menos, é certo) quer dos escribas do spectrum e seus comentadores quer dos membros da juventude bloquista que replicaram aqueles.

A conclusão mais importante que retiro do debate é esta: 1) todos os militantes de todos os partidos têm tanto direito a participar em qualquer movimento, associação ou outra coisa qualquer que faça parte da sociedade civil (penso que ninguém colocou isso em causa); 2) os funcionários e dirigentes de um partido (e não estou a falar do dirigente da célula do BE de cabeceiras de cima ou do colectivo da faculdade xpto) têm todo o direito a participar activamente em movimentos, associações ou coisas do género, mas era bom que não o fizessem. E sobre isto lamento que não se tenha chegado a acordo. É que nem é preciso haver vontade de controleirismo (e na maior parte das vezes há) para que se perceba uma coisa tão simples como esta: um movimento dinamizado por funcionários de um partido terá sempre no funcionário (que tem a vantagem de ser pago para fazer política) um protagonista principal. Poderá ser que o protagonismo não seja no palco, mas nos bastidores, mas o problema não será menor por causa disso; por exemplo, o panfleto poderá não ter escarrapachado o nome do partido do funcionário, mas o grafismo acabará por falar nas entrelinhas.

O resto dos problemas - o Bloco ir buscar activistas aos movimentos e fazer deles funcionários - é a lei da vida e a esse respeito há que respeitar o mercado. Até porque o caminho inverso também é possível. Ou não conhecemos todos ex-dirigentes do BE (ou dos seus partidos fundadores) que abandonaram ou secundarizaram a actividade partidária em nome de um activismo de base? Já me lamentei, durante algum tempo, por ter feito parte de uma associação em que vários proeminentes activistas foram subitamente (na verdade, no quadro de um resultado eleitoral do BE surpreendentemente positivo) para funcionários daquele partido. Mas, sinceramente, hoje também vejo no horizonte a possibilidade de um movimento inverso.

24 comentários:

mariana avelãs disse...

zé,
A dicussão no Spectrum começou mal e descambou, e sim, chegou ao nível de pôr em causa a participação de militantes e até de insinuar militâncias e próximidades onde elas não existem (e se existissem seria um argumento baixo à mesma). Assim lava-se roupa suja e discute-se muito pouco do que interessa.
Quanto ao que dizes, suponho que o verbo "dever" encerra a questão: será sempre uma decisão individual - quer seja dos militantes, quer seja dos não militantes de não quererem trabalhar com pessoas de tipo x ou y. Impor isso como regra equivale, a meu ver, à tendência de os partidos proibirem ou incentivarem a participação em movimentos, grupos, associações, etc - em ambos os casos, e seja qual for o sentido da coisa, para mim é pura ingerência.
Continua a fazer-me muita confusão que a participação política e o meio de subsistência de alguém possa ser sequer alvo de discussão. Se calhar não é muito inteligente para o movimento, por exemplo, colocar um destacado dirigente partidário a falar por ele, mas isso não o/a impede de participar no processo. Partir do princípio de que toda a gente com responsabilidades partidárias, seja qual for o nível de notoriedade, é sempre alguém que irá agir em prol do partido, por convicção ou ingenuidade é, antes de mais, injusto. Foquemo-nos nos comportamentos de facto, em vez que os associarmos a priori a pessoas. Já trabalhei com militantes/funcionários/dirigentes que tinham um cuidado quase psicótico em não misturar coisas, e com gente que não sendo nada disso era do mais controleiro que existe.
Para mim, o que esta discussão toda revela é mais grave: mal estão (e estão) os movimentos se estão de tal maneira reféns do background de quem neles participa. Acredito que os movimentos só farão sentido e sobreviverão quando contarem com a participação de gente (incluindo militantes, dirigentes e simpatizantes mais conhecidos) de vários partidos aos quais o objectivo seja transversal, e muita gente que não milita em nada, seja qual for o motivo. Até porque o tipo de discussão no Spectrum faz-me pensar cada vez mais que a não partidização militante tem feito tanto pela dinâmica da coisa como a partidarite aguda.

Zé Neves disse...

mariana,

do que li, ninguém dos bloggers do spectrum colocou em causa a participação de militantes nos movimentos. e sim que a dinamização dos movimentos seja assumida por funcionários e ou dirigentes nacionais (membros de um secretariado ou de uma comissão política)de um partido. a tua posição parece-me algo ingénua e contraditória: dizes que há ver caso a caso e que depende; mas repara que ver caso a caso não dá em nada mais do que lavar roupa suja. O que eu sei, de experiência enquanto militante de um partido e activista numa ou duas associações, é suficiente para dizer isto: as críticas que o bloco aplica ao controleirismo e ao aproveitamento que o PCP faz dos movimentos sociais poderiam ser, com proveito para o próprio bloco (que julgo ser um partido que preza o sentido auto-crítico), aplicadas ao próprio bloco.

Dallas disse...

1. A discussão que foi realizada no spectrum não foi abstracta, não partiu do nada. De um lado e de outro estavam pessoas que protagonizaram a mesma iniciativa e cujas posições colidiram nessa mesma iniciativa.

2. Ao contrário do que possa parecer, a dita divisão não opôs membros do bloco de esquerda a comunistas sem partido. Tal como a questão da intromissão do partido no movimento (neste caso, o mayday) - que, repito, não foi imaginária, mas sim feita de casos concretos - não foi o único factor de cisão.

3. Mais do que as fotocópias tiradas na sede do bloco (sem que a assembleia se pudesse pronunciar sobre o assunto), a hegemonia do partido é visível na estratégia do movimento, isto é, no desenvolvimento de uma série de iniciativas que tomam os jovens (e apenas os jovens) como destinatários. Com honrosas excepções, grande parte da acção do mayday é festiva, alegre e com demasiadas cores. Não tem igualmente um fim à vista: ano após ano limita-se à denúncia, sem que disso saía nada. Tornou-se na parte lúdica da manifestação do 1º de Maio, não deixando de, ano após ano, percorrer sempre o mesmo percurso.

4. Nestes quatro anos, fui parte disto tudo. Este post é também auto-crítico.

mariana avelãs disse...

Temos leituras diferentes do que está lá escrito, mas não vou entrar por citações. Se há um padrão a tirar de tudo o que lá escrito (o que parecer ser o objectivo de misturar tantos casos concretos, uns mais factuais que outros), e isso significa que o be, como qualquer partido, tem sérios problemas com dinâmicas que não controle (ingénuo parece-me pressupor o contrário à partida), isso é assunto do be - que não me diz respeito, nem eu quero que diga. A mim interessa-me mais como é que os movimentos se podem defender disso, e o que estou a dizer é que se queres extrair um padrão a esse nível terias de ter em conta todos os casos em que a militância, a vários planos, não se fez notar na participação nos movimentos. E é claro que é difícil criar uma caso pela inacção, mas a minha experiência diz-me que é uma maioria muito discreta.
Para mim a diferença a ter em conta é a da participação mandatada e participação independente; como não é coisa que se contabilize, não consigo propor nada de concreto. Percebo perfeitamente o que dizes em relação a altos dirigentes, mas mantenho a minha aversão a condicionamentos de participação impostos pelos próprios movimentos (e suponho que não os estejas a propor). Para o que eu não tenho mesmo paciência é para militâncias/simpatias putativas, que reduzem toda a gente que comenta no Spectrum a discordar dos posts a militantes do bloco e no fundo defendem que o mundo se divide entre os que instrumentalizam, os que se deixam instrumentalizar e o que se recusam a participar.
E estou um bocadinho cansada de ver esta discussão a acabar por dominar todos as associações por que passei com um único resultado: a impossibilidade de agir sem estar dominada pela omnipresença da questão dos partidos. Pode ser ingénuo achar que a única forma de neutralizar tendências controleiras é garantir que os controleiros não são a maioria nos movimentos, mas é por isso que continuo a achar que estas discussões de balneário são sobretudo sintoma de falta de plantel. E que acusar do be de ser o único causador disso é, antes de mais, reconhecer-lhe uma capacidade de infiltração que só terá por incapacidade de mobilização dos movimentos… e enfiar a cabeça na areia.

João Romão disse...

Concluo daqui que "vir com esta sonsa pregação moral recomendar aos funcionários dos partidos que não participem em movimentos sociais é tão pretensioso como desnecessário: o pessoal há-de continuar, nessas e noutras lutas, como qualquer pessoa. Cá por mim, acho que "era bom" colocar as questões com honestidade nos momentos em que é preciso discuti-las".

O meu comentário completo a este post está aqui:
http://joaoromao.blogspot.com/2010/09/o-be-e-os-movimentos-sociais.html

Zé Neves disse...

joão romão,

de sonso não tenho nada, por isso talvez seja melhor teres calma antes de começares a dar ao teclado.

quando me referia a uma associaçaõ a que pertenci, não estava a falar do mayday. estava a falar da attac e coloquei aí e sempre todas as questões que me melindravam a esse respeito. todos os teus comentários sobre honestidade e desonestidade e mais uma outra série de comentários que roçam a falta de educação, deixo de fora deste comentário e atribu-os à precipitação da tua leitura.

quanto ao mais, espero sinceramente que não acredites no que escreves quando dizes quando afirmas que "nenhum funcionário do Bloco tem no seu tempo de trabalho qualquer função ou tarefa relacionada com o Mayday ou outros movimentos", para ver se conseguimos manter alguma lucidez nesta conversa e não pareceremos todos tontos.

quanto à mesa nacional do bloco não discutir a intervenção de militantes do bloco em movimentos sociais, é algo que não vejo com bons olhos. onde é que discutem, então, esses temas? Ou pior, não discutem de todo? O problema não é discutirem os movimetnos sociais e até acho que o bloco lhes deveria conceder maior importância. Mas conceder maior importÂncia. Do que discordo é do modo como o bloco lida com os movimentos sociais, não qeu lide com eles.

passa bem.

Niet disse...

Olá, Z.Neves: Como dizia o Trotsky na sua monumental biografia de Estaline, " as massas revolucionárias têm necessidade de que as coisas sejam ditas pelo seu nome". Ora, a narrativa presente do Z.Neves versa um enredo de fenómenos de burocratização política onde a manipulação e a pirâmide hierárquica de " comando " geram um mal-estar profundo e uma crescente desmobilização política.E que o Z. Neves cataloga como "controleirismo", sem esboçar uma reacção crítica; isso, o controleirismo é um dos piores e mais nefastos vícios para mim,resultado de um insâne processo de fazer política , antiquado e altamente equívoco ou letal para qualquer movimento de expressão transformador. Quem melhor do que Castoriadis analisou estes fenómenos de burocratização plutocrática dos partidos? O que ele nos diz,objectivamente? 1) " Nenhuma classe histórica pode ser negatividade pura e absoluta. Depois de cada crise revolucionária, o proletariado pode recair apenas em alguma coisa de " positivo "; como não podia recair em alguma coisa de sólido que continuaria a materializar e a manter sob uma forma instituída o objectivo revolucionário, recaiu fatalmente no " positivo " do capitalismo; como não podia recair na sua própria cultura, recaiu na cultura existente; como as normas, os valores, os fins que foram os seus nos momentos culminantes da sua actividade não têm literalmente sentido algum na vida corrente da sociedade capitalista, precisa de adoptar os desta sociedade "; 2) " A aceitação das normas burocráticas de organização é apenas a outra face da aceitação dos objectivos capitalistas da vida; implicam-se ambos reciprocamente na filosofia e apoiam-se um ao outro na realidade ". Salut! Niet

Abominal Ze César das Neves disse...

Como Joao romao conseguiu mostrar limpidamente nos seu escrito a essência do Zezito das neves: um tipo que so aparece nos movimentos sociais quando lhe cheira a palco ou quando ach a que pode vir a moldar a realidade deses movimentos àos seus objectivos pessoais. O sucesso dos movimentos sociais depende da expulsao desses intelectuai(ze)zitos domovimento que se acham donos da razao apesar da sua militancia ser quase igual a zero

João Romão disse...

zé neves
de sonso tens muito e de hipócrita ainda mais. não fiz leituras precipitadas nem me preocupa o teu julgamento sobre a minha educação. tu estavas a falar da attac, onde eu nunca estive, mas eu estava a falar do mayday, onde chegámos a coincidir, e da relação dos funcionários do bloco com os movimentos sociais. naturalmente que acredito em tudo o que escrevi.
percebo também, como orfão do estalinismo à procura de um lugar na multidão, que te seja difícil compreender que os orgãos de direcção do BE não definam estratégias de controle dos movimentos sociais. é a vida...

Ricardo Noronha disse...

Falta de plantel? Mariana, desculparás mas essa conclusão está viciada à partida. Se a questão fosse ir disputar maioria aritméticas nas assembleias o mayday acabaria naquele momento. Aliás, quando se levou um debate até às últimas consequências - acerca da necessidade ou não de um porta-voz e da conveniência do mesmo conceder entrevistas ao Esquerda.net- mais do que uma pessoa foi comparada ao Salazar, com o peregrino argumento de que ele também "era contra os partidos".
João, se a sonsice fosse um partido político, via-te destacadamente como um dos sócios fundadores. Mas é natural que tenhas acusado o toque. Este ano sentimos saudades do funcionário da Cultra destacado para acompanhar o movimento.

João Romão disse...

Ricardo Noronha, já estranhava que não te juntasses ao "coro-de-facto". como escrevi antes (mas admito que para ti isso seja irrelevante), nunca estive no mayday "destacado" ou a cumprir tarefas profissionais. aliás, mesmo na cultra tive uma ligação profissional curta, apesar de ter tido uma actividade como sócio relativamente longa. um bocadinho mais de informação e poupava-se muita discussão desnecessária.

Ricardo Noronha disse...

Caro João, "como orfão do estalinismo à procura de um lugar na multidão" desejo-te um futuro auspicioso do ponto de vista profissional. Estou certo de que vais fazendo por isso e bem se vê que gostas de contar histórias de embalar.
Sobre o que tu escreves, devolvo-te o comentário que fizeste em tempos a um texto escrito por um participante no mayday: «um bocado fraquinho».

João Romão disse...

Ó Ricardo, essa da orfandade não era pra ti... de resto, obrigado pelos auspícios, ainda que as minhas actividades profissionais andem agora um bocado longe destas que vieram à liça. coisas da precariedade e da globalização, é o que é.

Zé Neves disse...

joão romão,

neste momento, creio que a questão não é de hipocrisia ou falta dela, mas de desnorte da tua parte. compreenderás que, se eu estava a referir-me à attac e tu utilizas o que eu digo para falar da minha presença ou ausência no mayday, então o problema não é de hipocrisia ou não, mas de falta de capacidade tua para manter uma conversa minimamente racional.

em relação ao mayday, como dizes, a minha participação foi sempre muito parca, uma ou duas reuniões, embora registe a tua capacidade de dar conta do facto. quanto ao resto, espero apenas que não uses o mesmo tom caceterio nos debates internos do teu partido e dos movimentos em que participas.

as palavras, entretanto, existem para ser usadas com alguma precisão: disseste que a direcção do bloco não discutia a estratégia do bloco em relação a movimentos sociais, ao que eu disse que não acreditava nisso nem desajava. Não há mal nenhum em que o bloco discuta a sua estratégia em relação aos movimentos sociais, como mal não há em que haja militantes do bloco em movimentos sociais. pelo contrário. mal há em que o bloco tente controlar movimentos sociais ou que sejam funcinários seus a assumir a direcção oficial ou oficiosa desses movimentos.

quanto a ser órfão de estaline e à minha dinâmica militante, peço desculpa, mas não fazes a minha ideia do que estás a falar. podes, de qualquer dos modos, perguntar a vários dos teus camaradas de partido.

João Romão disse...

Zé Neves
Partes de uma discussão sobre o Mayday para a tua experiência na Attac e depois para a sugestão de que os funcionários do BE não devem participar em movimentos sociais. Eu uso o caso do Mayday, o único movimento em que estivemos ao mesmo tempo, para dizer que isso é um disparate, no tom que me parece adequado à argumentação que apresentas.
Saúde!

Zé Neves disse...

joão romão,

já agora, aproveito para perguntar o que move tanto ódio da tua parte em relação à minha pessoa. creio que a única vez que trabalhámos juntos em qualquer coisa de político, e falo da organização do congresso marx, não tens muitas razões de queixa ou da minha falta de trabalho ou da minha desonestidade. e na altura eu já era um órfão do estalinismo a caminho da multidão, como dizes de um modo demasiado deselegante para quem preze a lucidez.

João Romão disse...

não tenho qualquer tipo de ódio à tua pessoa, como terás reparado. estava a discutir uma posição concreta e acho que houve algum sarcasmo recíproco. também acho estranho que estejas tão sensibilizado com a minha linguagem considerando o padrão geral das discussões em blogues, que nem aprecio particularmente. esta intervenção foi bastante excepcional da minha parte e o exercício do meu direito de indignação perante o que tinhas escrito. mantenho tudo, já agora.

mariana avelãs disse...

Ricardo,
Não estou a falar de médias aritméticas, nem de assembleias, e muito menos do Mayday (onde nunca me terás visto); o que eu digo é uma evidência: se os movimentos sociais tivessem dinâmica própria, estas discussões surgiriam ciclicamente à mesma, mas não seriam o que mais tinta faz correr. E um partido com as dimensões do be não seria tido nem achado; e não haveria esta confusão hilariante de nunca sabermos muito bem de que é que estamos a falar em concreto, porque somos sempre os mesmos.
Terás de ver que isto se torna um "bocadinho" desmobilizador para quem não é nem contra nem a favor de partidos. Que é a única coisa que me interessa nesta discussão, sinceramente. com todo o meu optimismo pragmático e ingénuo, claro...

Dallas disse...

Uma questão porém: até que ponto é que a falta de dinâmica dos movimentos sociais não poderá estar relacionada com a tentativa de os tornar em meras correntes de ligação? Até que ponto é que isso não gera alguma desconfiança?

Obviamente que ninguém vai proibir ninguém de participar em iniciativas como a do mayday. Aliás, nunca ninguém propôs tal coisa. É apenas uma questão de bom-senso (por mais la palice que isto possa soar): se chegasses a uma assembleia com 20 a 30 pessoas, entre as quais estão três assessores parlamentares do PCP, mais uma mão-cheia de militantes, alguns dos quais são funcionários, quais as conclusões que tirarias da situação?

Zé Neves disse...

joão romão,
nós nunca estivemos ao mesmo tempo no mayday. eu fui a duas ou três reuniões e participei numa acção ou outra, nada mais do que isso. o meu post inicial procurava fazer uma discussão geral sobre a relação entre partidos e movimentos sociais, centrando-me no caso do Be, porque, sobre esse assunto, desisti de interpelar os camaradas do PCP. Que haja no BE quem não seja capaz de discutir o seu próprio partido sem enveredar por uma discussão de caso a caso, não compreendo. acho que traduz falta de debate político interno, sinceramente. quanto aos modos, não sou muito susceptível, como terás reparado, mas custa-me ver que usas para alguém que se situa à esquerda do PS, como é o meu caso, o mesmo tipo de adjectivação moralista (dizes que sou sonso, hipócrita, desonesto) que o Francisco Louçã por vezes usa em relação a figuras do PS, do PSD ou do PP. (E não que seja legítimo ele usar nesses casos).

passa bem.

mariana,

aqui não se trata de estar contra ou a favor dos partidos. nem a questão que colocas "se os movimentos sociais tivessem força, esta discussão não existia" me parece muito válida. Isto é, isso em parte é uma evidência. Em parte, não é. Dou-te o exemplo da ATTAC. Foi uma associação que ganhou alguma força e que a perdeu. Não apenas devido ao facto de ter existido um problema na relação com o BE (sublinho: não apenas, ou nem essencialmente por isso). Mas tal mostra que a força dos movimentos sociais não resolve o problema. Basta ver o caso do movimento sindical, onde há força e nem por isso há menos debate em torno de tentativas de controlo partidário.

bjs

mariana avelãs disse...

zn e dallas,

eu nunca disse que a questão não existiria (porra, levo com ela há décadas), só que não seria tão avassaladora. mais não fosse porque talvez não chegasses a uma assembleia e conhecesses toda a gente e o que faz na vida. é óbvio que sim, que a forma como os partidos lidam com os movimentos não é coisa mais apelativa, tal como não é passar a vida a impor limitações ao activismo por excesso de zelo. e não me agrada por aí além este discurso (meu) de crença num mundo cor-de-rosa, mas a verdade é que vais tendo exemplos no mundo sindical de formas de circunscrever a tendência de domínio partidário. com todas as tensões inerentes, mas assumindo que a participação política se pode fazer em plataformas paralelas, sem que haja necessariamente ingerência. e tb não estou a falar no vazio, mas de casos concretos (nomeadamente a attac).
bjs!

mariana avelãs disse...

talvez não fosse má ideia ler o que escrevo antes de publicar, mas eu não estou (obviamente) a sugerir que a attac seja um movimento sindical, mas que o modelo de participação inclusiva se devia aplicar à attac.

Dallas disse...

Mariana,

Se não fosse assim, eu não teria estado 4 anos na coisa. Continuo a dizer: não se faz justiça ao mayday reduzindo-o a "uma cena do bloco". Contudo, a verdade é que em 2009 os conflitos no interior culminaram num impasse inultrapassável. Alguns militantes do bloco de esquerda, na minha opinião, têm grandes culpas no cartório.

João Romão disse...

Zé, refiro o Mayday porque foi o único movimento em que nos cruzámos. parece-me legítimo, até porque é esse o pretexto que usas para discutir a relação do BE com os movimentos sociais. Sim, que me lembre, foste às duas primeiras reuniões e não voltaste a aparecer. Nunca percebi porquê e sinto-me agora mais esclarecido. Sim, parece-me uma sonsa pregação moral. Não, não acho que sejam "bons modos" vires dizer que devo abster-me de participar em movimentos sociais se for funcionário de um partido.
Passa bem também