28/09/10

Os movimentos sociais à escala mais capilar

Quem frequente os comboios da linha de Cascais tem hoje motivo de susto nos jornais. Ao que parece, a anulação do concurso para a compra de 36 novas composições vem colocar os passageiros em risco.
«O porta-voz da Comissão de Utentes da Linha de Cascais, Filipe Ferreira, considerou que com a anulação do concurso, "o Governo está a pôr em causa a segurança dos utentes".» Isto porque «a segurança continua a ser esquecida. É óbvio que a linha necessita de novo material circulante e, mais uma vez, é o 'utilizador-pagador' que é prejudicado"». Vai daí, a atenta comissão «repudia completamente mais uma tomada de posição que, com a desculpa da crise, vem piorar o serviço do contribuinte e dos portugueses".»
Francamente, não consigo entender o óbvio de tal necessidade. E ainda menos entendo a invocação da segurança, a não ser num quadro de terrorismo verbal; numa manobra que visa apenas atacar o governo apondo-lhe o labéu de criminalmente irresponsável. Por fim, ignoro também como é que a degradação do serviço prestado na linha de Cascais será consequência inevitável do adiamento daquela compra.
Mas, no fundo, até entendo bem. Em dias de agitação social, ver os noticiários da TV na companhia de um militante comunista de longa data traz sempre uma diversão acrescida: a cada representante dos utentes disto e daquilo, lá surge mais uma identificação de um camarada.
Ignoro se aquele Filipe Ferreira é o mesmo que foi candidato da CDU à junta da Parede há uns anos. Nem isso é muito importante. Revelador é a ligeireza com que se brande a segurança de dezenas de milhares de pessoas como ferramenta em mais uma ofensiva contra a austeridade nas empresas estatais. Um evento microscópico destes não encerrará por certo grandes complexidades ideológicas para escalpelizar. Mas em termos tácticos, revela bem a instrumentalização sem vergonha que rege a acção de alguns destes organismos – em detrimento da sua credibilidade e dos objectivos bem concretos que deveriam tentar alcançar.
No fundo, ficamos todos a perder quando uma comissão de utentes, o Mayday ou seja lá que movimento for se reduz à corrida atrás de microfones e de câmaras para fazer coro com partidos políticos.

8 comentários:

Nuno Ramos de Almeida disse...

Luís,
Para além da tua embirração com os senhores do PCP, fiquei sem saber se esse material circulante, que era para ser comprado, era preciso ou se era uma mera compra decorativa.
Não percebi se o tal Filipe Ferreira que mora na Parede está proibido por ti de usar (ser utente) dos comboios, por ser do PCP. E sobretudo, tendo tu opiniões tão definitivas sobre assuntos que vão da couve de bruxelas até ao material dos comboios, pq não fazes uma comissão verdadeiramente independente para a defesa das couves de bruxelas.

Luis Rainha disse...

Não sabes tu se era necessário, não sei eu e não sabe o senhor; se sabe, não explica nada a ninguém.
O FF, seja do PCP ou não, pode ser utente ou "representante" do que lhe aprouver. Parece-me mal é que invoque a segurança, sem explicar porquê, para proceder ao que aparenta ser uma mera manobra de ataque à austeridade governamental.
Já agora, os comboios até nem parecem nada decrépitos.

Nuno Ramos de Almeida disse...

Luís,
Toma uma posição do presidente de Cascais sobre aquilo que tu "não sabes o necessário", mas opinas e aquilo que o senhor dos utentes, que tem o pecado de ser do PCP opinou. Será que o Capucho está a soldo do PCP? Mistério.
"O presidente da Câmara de Cascais,
António Capucho, considera que
a anulação do concurso para a aquisição
de 36 novos comboios para a
Linha de Cascais, anunciada pela CP,
é um “problema muito grave”.
A situação “é de grande gravidade
e mostra bem como o país está
a funcionar”, afi rmou o autarca, na
reunião da Assembleia Municipal
realizada anteontem, em Cascais.
Perante a anulação do investimento
de 370 milhões de euros – dos quais
180 milhões estavam destinados à remodelação
da Linha de Cascais –, António
Capucho mostrou-se indignado
com o facto de a decisão não ter sido
comunicada à autarquia. “Andam a
brincar connosco com investimentos
megalómanos que nem se vão realizar”,
criticou, referindo-se ao TGV.
“Promete-se a Cascais a renovação da
linha, que tem mesmo de acontecer
por uma questão de segurança, e afi -
nal foi tudo suspenso sem sequer se
informar a câmara”, reclamou.
A CP excluiu as quatro empresas
candidatas ao fornecimento de 49
novos comboios (36 para a Linha de
Cascais) depois de ter concluído que
“as propostas dos quatro concorrentes
não cumpriam todos os requisitos”."
A mim parece-me que o teu post é uma mera mostra de embirração Nada impede as pessoas de formarem associações, isso respeita o preceito constitucional da liberdade de associação. A formação de uma associação de utentes é livre e eles falam do que lhes apetece. Se não gostas deles, pq têm um gajo do PCP, e queres formar a associação anti-PCP favorável a que não renovem o material circulante da linha de Cascais (AAPCPFNRMCLC) és livre de fazer.
Agora posts como este é que me parecem sinceramente bacocos para tua inteligência.

Luis Rainha disse...

Ninguém proibiu ninguém de fazer o que quiser. Mesmo formar associações de representatividade invisível.
E já disse que nem sei se o homem é do PC ou não.
O que está em causa é agitar o papão da segurança sem o mínimo farrapo de sustentação para tal.
Os comboios estão longe de estar podres, não lembro de acidentes naquela linha imputáveis ao material.
Agora ir buscar o Capucho como suposto exemplo de aval imparcial ao alarmismo da tal associação.. não vejo a inteligência disso.

Anónimo disse...

Aqueles comboios estão mais que podres. O bom aspecto é apenas estético. Por baixo disso têm 50 anos; algumas estruturas datam mesmo de 1926!

Avariam com frequência e ocasionalmente há serviços suprimidos porque não há comboios suficientes disponíveis.
Já houve algumas falhas estruturais que, felizmente, não tiveram consequências e passaram despercebidas fora da CP.

Não temo pela minha segurança quando os uso. Mas no futuro imediato, vai começar a haver cada vez menos serviços ali, pois vai-se tornar impossível manter em funcionamento comboios suficientes.

Luis Rainha disse...

Não nego, claro, que as composições sejam antigas. A actualização não as transformou em material novo.
Mas olhe que uso essa linha todos os dias, de há uns anos a esta parte, e não tenho apanhado com avarias em número alarmante.
Mas ao escrever que não teme pela sua segurança, dá razão ao meu ponto principal: brandir a insegurança neste caso só se entende como manobra de terrorismo verbal.

Filipe Moura disse...

Lamento profundamente o desinvestimento na renovação do material da CP, mas não é a Linha de Cascais que tem razões de queixa. Considero o serviço na Linha de Cascais excelente (uso-a algumas vezes no verão, todos os anos). Por muito velhas que sejam as composições é exagero falar-se em insegurança. Já viram a Linha do Oeste? Más infraestruturas, carruagens antigas, serviço péssimo.

Ah, o Capucho, esse anjinho que há anos anda a propor a privatização da Linha de Cascais (e que certamente se anda a fazer a ela)! Nuno, para defenderes o PCP agora até vais buscar o Capucho! Propões a AAPCPFNRMCLC. De facto a Associação-Tudo-Menos-o-PS-até-pode-ser-o-PSD já existe. Até tem um site: 5dias.net. Abraços.

Luis Rainha disse...

Filipe,
Olha que às vezes os moinhos são só moinhos.