15/02/11

Um Harold Bloom especialista em chispalhada


«Por esta altura o leitor já entendeu a mecânica da história, já percebeu a intenção do narrador em transformar este relato numa monumental entremeada, sacrificada na grelha dos sentimentos mais ou menos comezinhos. A uma tira de carne sucede-se uma de gordura, e assim sucessivamente, pelo que é legítimo perguntar se não valerá a pena centrar as atenções na chicha de Vanessa, João e Lucas, dispensando-se a matéria gorda. E eu permito-me discordar, é da banha que se extraem os sabores mais intensos, é dela que caem os pingos que acicatam o lume, qualquer visita a uma feira ou a um arraial de sindicalistas de camisa escancarada e horror à metrossexualidade permitirá comprová-lo, não almejo a novidade mas o respeito pelo molde, gostar do courato, do desperdício é também uma forma de ser canónico, se um dia se cruzar com um Harold Bloom especialista em chispalhada, pergunte-lhe».
Pedro Vieira, o Irmão Lúcia, escreveu um romance. Ao que parece é sobre um talho em Massamá e um amor improvável, entre manchas de gordura e carne da alcatra, apeadeiros e subúrbios esquálidos. E salsicha. Muitas salsicha. A literatura nunca mais será a mesma.

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