14/02/11

Basicamente acho que é isto: quem lhe comeu a carne que nos roa os ossos

Os egípcios encheram a Praça Tahrir até Mubarak partir para as termas. Os italianos, num processo de imitação a que Berlusconi chamou «subversivo», saíram para a rua este fim-de-semana. Em Portugal discutem-se “moções de censura”.
O BE avançou com uma, em nome, diz o partido de Louçã, da “violação de contrato, perda de palavra, da quebra de confiança” (tudo coisas um bocado antigas, digo eu, mas sem com isto pretender comparar-me com o QI da malta citada no post abaixo).
O Portas, eterno líder do CDS, emergiu logo para dizer que a moção de censura do BE pode ser um favor a Sócrates.
No PSD, enquanto Passos Coelho cavaquisticamente “não comenta”, alguns militantes do Partido, como, por exemplo, Marques Mendes, afirmam mais ou menos o mesmo do que Portas: a moção de censura é um frete monumental ao primeiro-ministro.
O PCP, como habitualmente, reflecte em segredo numa moção de censura que seja minha, minha e só minha.
Quanto ao próprio Sócrates, eterno líder do PS, diz que a moção de censura do BE só serve os interesses da direita, transmitindo mensagens erradas aos mercados (os mercados tornaram-se assim numa espécie de papão omnipresente e omnipotente, pior do que "o homem do saco" da minha infância ….).
Nenhuma novidade, portanto, no reino da fantochada. Ou apenas uma: depois do Simplex, dos painéis solares diurnos e nocturnos, dos moinhos de vento e do Magalhães, parece que finalmente vamos ser salvos pelos carros eléctricos e os árabes que metam o petróleo naquele sítio
A acreditar no Teixeira dos Santos — e como não acreditar? — é o delírio!

11 comentários:

Anónimo disse...

Estimada senhora:

Permita-lhe que lhe diga que um pouco mais de rigor e de bom senso mal não lhe faria.

Leio no seu post que «O PCP, como habitualmente, reflecte em segredo numa moção de censura que seja minha, minha e só minha.»

Acontece porém que, seguindo o link que fornece, não se encontra nada que delimite a posição do PCP a um « minha, minha e só minha».

Quanto ao «segredo», suponho que se estará a alinhar por aquelas santas almas (jornalistas) que em tempos idos defendiam que as reuniões do Comité Central do PCP deviam ser abertas à comunicação social, o que, como se calculará, muito ajudaria à livre expressão e franqueza de opiniões dos membros daquele órgão.

Entretanto, informo-a de que pelo menos o Comité Central deverá ter mais de 160 membros, o que é bastante mais do que a Comissão Política do BE e muitíssimo mais que Francisco Louçã sózinho.

Ana Cristina Leonardo disse...

Passei a estimada senhora. Não sei se foi um avanço.

joão viegas disse...

ahahahahah, muito bom.

Eu concordo com tudo, e mais digo que o que de melhor se devia ter feito para Socrates não estar hoje a rir parece mesmo que era... não fazer a dita moção de censura, ou isto não esta mais do que obvio ?

Começo a achar uma certa piada ao Socrates, o homem que percebeu que, em Portugal, não existe brilho mais duradoiro do que o que se alimenta da mediocridade dos adversarios...

Ana Cristina Leonardo disse...

joão viegas, qd os adversários são medíocres, basta ser mediano. ou xico-esperto. se isto fosse normal, quero eu dizer, o país, ninguém levaria a sério um primeiro-ministro que gosta muito de andar de metro.
Para ser mais clara: nunca deviam ter defenestrado o miguel de vasconcelos.

Anónimo disse...

Sim, o «estimada senhora» é um «avanço» no sentido inocente da palavra.

O que me falta encontrar é o meio termo.

É que se fossemos conhecidos ou amigos eu diria simplesmente mas com gosto «ai, mulher».

Ana Cristina Leonardo disse...

Ó Vítor Dias, francamente!
É que já não nem me lembrava desse outro sentido da palavra...
Mas agora teve graça. E isso é indiscutivelmente um avanço.

joão viegas disse...

Bom, meus amigos, eu vejo aqui três palavras que podem estar em causa : "estimada", "senhora" e "avanço".

Sou advogado, mas so com muita relutância aceitaria defender a inocência de qualquer delas.

Como julgo estarmos entre pessoas de esquerda, o que implica cidadania e respeito, sendo que o humor é a forma mais subtil e sentida de respeito que conheço, sugiro que recorram à palavra "progresso".

Mas isso se calhar sou eu, que não gosto muito de futebol...

Miguel Serras Pereira disse...

Caro João,
mas como é que o Vítor Dias não há-de protestar e, vamos lá, não poderá fazer sequer outra coisa, perante uma sugestão dessas, substituir "progresso" a "avanço", que abre caminho aos que o acusam de sectarismo por não propor aos seus camaradas de Partido que substituam, no seu jornal, o título de "Avante!" pelo de "O Progresso"?
Nem eu próprio, que sou um simples democrata, posso deixar de me sentir objecto de uma tentativa de manipulação quando você me propõe que, em vez de avançar decididamente, para saudar uma senhora ou camarada que estime, eu me limite a progredir nesse intuito.
E, depois, caro João, já pensou na exasperação mortal que as estimadas hostes femininas justificadamente sentiriam perante a eventual generalização do gradualismo extremista da sua proposta?

Abrç

msp

joão viegas disse...

Caro Miguel,

Tem razão, escapou-me esse pormenor. E' o que da viver-se num pais em que o jornal do partido ainda carrega o nome que tinha no tempo de Jaurès, antes da cisão portanto, que remete para o conceito mais pacifico (mas nem por isso mais inocuo) de "humanidade" .

No que diz respeito às nossas camaradas, não sei. Parece-me que elas não são assim tão insensiveis ao progresso e que por vezes preferem-no à precipitação, particularmente quando ela pode significar um imediato retrocesso. Mas admito estar errado e não queria passar por falar em vez delas. E' que até o humanismo tem limites...

Honni soit qui mal y pense, claro !

Miguel Serras Pereira disse...

De acordo, caro João. Mas, para nos certificarmos da solidez dos seus (do acordo) fundamentos, talvez um avanço da nossa camarada Ana permitisse algum progresso avante.
Vamos esperar?

Ana Cristina Leonardo disse...

Caríssimos

eu vejo aqui três palavras que podem estar em causa : "estimada", "senhora" e "avanço".
Sou advogado, mas so com muita relutância aceitaria defender a inocência de qualquer delas.

Bom, é conhecido o cinismo dos advogados, daí que não me surpreenda a relutância
:-)


já pensou na exasperação mortal que as estimadas hostes femininas justificadamente sentiriam perante a eventual generalização do gradualismo extremista da sua proposta?

O gradualismo lembrou-me um provérbio: grão a grão, enche a galinha o papo

Parece-me que elas não são assim tão insensiveis ao progresso e que por vezes preferem-no à precipitação, particularmente quando ela pode significar um imediato retrocesso

E agora lembrei-me daquele título do Lenine que cito de cor: Um Passo em Frente Dois Passos Atrás (confesso que nunca li...)

Mas, para nos certificarmos da solidez dos seus (do acordo) fundamentos, talvez um avanço da nossa camarada Ana permitisse algum progresso avante.

Chegada aqui, só me apetece parafrasear o Gary, "desde que inventaram a emancipação feminina, só tenho tido chatices"

:-)