A eleição de uma deputada pelo Livre é uma boa notícia. Talvez seja mesmo a melhor notícia destas eleições.
Trata-se de alguém que foi escolhida pelos seus camaradas - desse ponto de vista o Livre é o mais democrático de todos os partidos - em vez de ter sido escolhida pela direcção partidária, ou até, como acontece muitas vezes, pelo secretário-geral do partido.
Além deste aspecto estamos perante uma mulher negra, que foi cabeça de lista no distrito de Lisboa, um distrito que é o reflexo claro das duas faces da mesma moeda.
A moeda é a desigualdade territorial e a desigualdade entre os que estão a ganhar e aqueles que estão, cada vez mais, a perder, com a forma como a democracia se vai (des)construíndo.
As duas faces são as seguintes: por um lado a desigualdade entre a Área Metropolitana de Lisboa e o resto do País - com excepção da Área Metropolitana do Porto; do lado oposto a desigualdade entre a inner city lisboeta e as periferias metropolitanas onde residem os trabalhadores, que são chamados diariamente a trabalhar na cidade, mas não podem aí viver. Trabalhadores que há décadas se sentem marginalizados e cujo nível de rendimento apenas permite uma vida de trabalho intenso. mal pago, uma vida de uma quase escravidão.
É desta face da moeda da desigualdade que se alimentam os fascistas, os xenófobos e os racistas, que estão sempre à espera que chegue a sua hora de espalhar o ódio que os domina.
Faz muita falta no Parlamento quem conheça a realidade daqueles que vivem nas diversas periferias da nossa democracia. Alguém que seja capaz de denunciar as políticas públicas que recorrem a paliativos mais ou menos retóricos para recusar a adopção de verdadeiras estratégias de combate à desigualdade e à sua chocante expressão territorial. Joacine Katar Moreira terá essa tarefa pela frente nos próximos anos.
07/10/19
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3 comentários:
"foi escolhida pelos seus camaradas". Por quantos camaradas? Qual o processo de "escolha"? Foi uma escolha espontânea? Por quantos camaradas? Não será que foi, antes, sugerida? Se sim, por quem?
Caro/Cara CULTURDANÇA qual é o objectivo do seu comentário? Tem alguma informação que queira partilhar? Ou alguma opinião? Disponha.
O meu objetivo é conhecer o processo de eleição que diz ser democrático, já que todos os outros teriam resultado de decisões de um grupo dirigente, logo não democrático. Parece-me que as questões que lhe coloco são pertinentes, mas responde se quiser.
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