25/05/10

Bloquear a economia para começar a viver

 
Patrões de todo o mundo, tenham medo, tenham muito medo.
Dos motins de 2001 na Argélia e na Argentina, ao incêndio dos subúrbios de Paris, à revolta generalizada na Grécia, uma história secreta tem percorrido estes anos: a guerra social regressou. Algo tem marcado esta primeira década do século: a revolta popular, tão inesperada como descontrolada, que afronta o Poder. Afinal a história não acabou. A guerra e as suas barricadas, até há poucos anos limitadas às periferias do império, vêm brotando nas grandes metrópoles do capitalismo supostamente rico, democrata e feliz.
Da nossa barricada - a dos explorados e despojados - surgem de novo belas perguntas: Como ocupar a rua de forma persistente e o que fazer dela? Como auto-organizar as nossas vidas? Como bloquear a economia para começar a viver? Do outro lado estão polícias, governos, patrões e exércitos. E todos dependem dos trabalhadores para manter a máquina a funcionar.
Pressentimos tudo isto quando vemos a Acrópole, como aconteceu a 5 de Maio na greve geral grega, envolta por uma declaração simples e sensata: PEOPLES OF EUROPE, RISE UP.
O internacionalismo está de volta e recomenda-se. É preciso sair do isolamento e demolir todas as fronteiras, estabelecer afinidades, reinventar a luta. A Grécia é mesmo aqui ao lado. A Grécia está em todo o lado.
Aqui, nesta zona do território europeu subjugada pela crise, as lutas têm sido reféns da obsessão legalista da esquerda parlamentar e dos sindicatos, de uma solidariedade vaga e que raramente se manifesta. No presente estado de coisas, toda a inteligência será pouca. Inteligência para comunicar e organizar, bloquear e sabotar, ferir o poder dos poderosos.
PORQUE A ÚNICA RESPOSTA À CRISE É O COMBATE
PORQUE ESSE COMBATE NÃO SE TRAVA COM AS MEDIDAS PONTUAIS EXIGIDAS PELOS SINDICATOS E PELA ESQUERDA REFORMISTA
PORQUE TEM DE SE ELEVAR O TOM DA LUTA
PORQUE ESTAMOS FARTOS DE MENDIGAR POR MAIS TRABALHO
PORQUE EXIGIMOS A RUA COMO NOSSA

18 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Ricardo,
lido o teu post, aqui estou eu a subscrever as palavras de ordem que o rematam:

PORQUE A ÚNICA RESPOSTA À CRISE É O COMBATE
PORQUE ESSE COMBATE NÃO SE TRAVA COM AS MEDIDAS PONTUAIS EXIGIDAS PELOS SINDICATOS E PELA ESQUERDA REFORMISTA
PORQUE TEM DE SE ELEVAR O TOM DA LUTA
PORQUE ESTAMOS FARTOS DE MENDIGAR POR MAIS TRABALHO
PORQUE EXIGIMOS A RUA COMO NOSSA

Mas a última, "porque exigimos a rua como nossa", obriga-nos a ir mais longe: exigimos ser nós a integrar as assembleias e outros órgãos de decisão política. Porque a única democracia é o autogoverno colectivo dos governados. Porque o poder dos representantes é a resignação dos representados. Porque onde o poder desta economia governa não pode haver democracia.
Deixo ao teu cuidado formular o que aqui em cima digo da maneira que melhor te pareça. SMas acrescentar qualquer coisa do género seria mais claro e daria mais sentido, mais força, à hipótese da rua. Afinal, queremos um pouco mais do que ser uma força de pressão que a oligarquia governante tenha de ter em conta - embora sê-lo, limitando o seu poder seja já alguma coisa e abra caminho a mais. Falei bem, camarada?

Pela democracia dos produtores associados

Pela cidadania governante

Abraço grande

miguel sp

Ricardo Noronha disse...

Falaste bem. Mas este é o texto de um panfleto que anda a circular pela net. Suponho que não poderia dizer tudo o que é necessário, mas apenas o fundamental.
Um abraço

xatoo disse...

como respondeu o Poder a esta ameaça?
(apesar dos congelamentos na função pública em POrtugal) 90 altos quadros da PSP receberam esta semana aumentos de salários na ordem de 500 euros mensais
As perspectivas não são animadoras. Na Tailândia eram 20 mil manifestantes em luta por uma coisa tão simples como novas eleições...e apesar disso...

Manuel Vilarinho Pires disse...

"Do outro lado estão polícias, governos, patrões e exércitos."
Mas não só.
Já lhe passou pela mente que do outro lado está o Povo?

Júlio Silva Costa disse...

Sim, sim , dêem irresponsavelmente bastante corda a estas coisas mas depois não se queixem que essa rapaziada resolva ganhar destaque nos telejornais (matando tudo o resto)com umas «violências» que a Polícia agradecerá e o governo intimamente abençoará.

Joana Lopes disse...

Ricardo,
Já vi este panfleto em vários blogues, mas de onde vem ele? QUEM convoca «a manifestação anti-capitalista»?

Confesso que julguei tratar-se de uma brincadeira quando li, pela primeira vez, o início do texto:
«Patrões de todo o mundo, tenham medo, tenham muito medo.» Assim do tipo: «vem aí o lobo mau!»

Anónimo disse...

Xatoo: Para se ser desmancha-prazeres é, como sabe, preciso ter muita categoria. Oh, deuses, o conflito da Tailândia é do género " ópera-bufa " de sinistros contornos , manipulada à distância por um antigo capo da polícia e ex- PM, Thaksin Shinawatra, que se refugiou na Inglaterra por ter sido condenado por roubo e outras venalidades, no valor de biliões de dólares.Niet

Ricardo Noronha disse...

Como as coisas estão são os trabalhadores que estão com medo, Joana. Espero que manifestações destas invertam a relação de forças e, nesse sentido, assustem o patronato.
Não percebo muito bem a importância do QUEM. As coisas são o que são, assine-as quem as assinar. Aliás, de comunicados assinados com declarações megalómanas se tem feito a nossa história. E todos sabemos quão bem tem corrido...

Miguel Serras Pereira disse...

Ricardo e Joana,

já disse que subscrevo as palavras de ordem e que até acrescentaria mais uma ou duas - para não dar margem às leituras como as do MVP que entende, numa falha da perspicácia a que nos habituou, que se trata de impor por uma espécie de golpe de Estado a ditadura de um punhado de dirigentes à maioria da população.
Mas, dito isto, é verdade que o tom dos considerandos desafina mais do que seria desejável, em vez de falar clara e razoavelmente dos objectivos mais do que razoáveis a que alude.
Eu até percebo a ideia, só que acho que não é a melhor. Se é verdade, como o Ricardo diz, que são os trabalhadores - precários e precarizados . que estão com medo, é compreensível o reflexo de lhes recomendar que se mostrem "assustadores". Só receio que isso assuste ainda mais quem está assustado e sabe que o vizinho o está também, e talvez ainda mais. Uma considerável vitória neste momento seria, não a rua "assustadora", mas a rua demonstrando a capacidade de organizar lucidamente a sua força e de dar lições de democracia.
Abrç para ambos

miguel sp

Manuel Vilarinho Pires disse...

Caro Miguel,

A minha falha de perspicácia não me faz pensar que isto é uma tentativa de um punhado de dirigentes imporem uma ditadura à maioria da população por uma espécie de golpe de estado.
Faz-me pensar que é uma tentativa de um punhado de "bloggers" fantasiarem com a maioria da população a acompanhá-los num sonho que ela não partilha e que sacudiu como indesejável em devido tempo.
E que é sempre aproveitada por alguns "hooligans", que eles toleram, mesmo que depois digam que é uma pena o que aconteceu, para lançar fogo a empregados bancários ou partirem uns vidros de automóveis...
O Povo vai na asneira e responde-lhes, elegendo temporariamente Sarkosys, só porque são os que falam com voz mais grossa e lhe prometem ir às fuças aos "hooligans"...

Saudações revolucionárias!

Anónimo disse...

Nuno Ramos de Almeida em retrato: No post de Rafael Fortes- De que lado estás na luta? -5Dias- NR de Almeida demarca-se de forma espectacular e corajosa do cancro da ideologia marxista-leninista-totalitária! Trata-se de uma tomada de posição inequívoca e fulgurante, rápida e brilhante como o relâmpago da criatividade.Saudemos, pois, esta magnífica atitude e intenção revolucionária ! Niet

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Manuel,
não me parece que esteja a ver bem.
O punhado de bloggers não defende uma vanguarda, uma direcção revolucionária, ume equipa de governantes sábios e justos que exerçam o poder de decidir em conformidade com o que definem como sendo o melhor para a população. Requerem mais democracia, mais exercício de cidadania activa. E isso, como é óbvio, não é antidemocrático apresentar como proposta aos nossos concidadãos, pois que enquanto eles o não quiserem assim, nada a fazer: deixar-se-ão pastorear pelos mesmos zagais, sonharão com pastores mais compassivos, com chefes providenciais ou "defensores das liberdades" que só os próprios poderiam garantir, e deixar-se-ão conduzir à tosquia ou ao matadouro, infelizes mas ordeiros.
Abrç crítico e cordial

miguel sp

Manuel Vilarinho Pires disse...

Caro Miguel,

Pode-me sempre responder que, em eleições livres, o Povo escolheu Hitler... eu responderei que é a excepção que confirma a regra, que a democracia é o sistema político mais imperfeito com excepção de todos os outros, que nunca garantirá a ninguém que uma escolha livre do Povo não possa ser uma asneira, e que até ilustrei o meu comentário com o que me parece ser uma.

E responder isto a quê?

Ao meu comentário de que o Povo faz a melhor escolha quando escolhe em liberdade.
A alternativa a abraçar as vossas propostas, democraticamente apresentadas, de aprofundamento da democracia e de um exercício de cidadania mais activo, não é deixar-se pastorear até ao matadouro, é escolher em liberdade os modelos de governo que prefere, e que lhe parece preservarem a liberdade que, é verdade, só ele pode garantir, mas de que o aspecto mais nuclear é justamente o de poder escolher em liberdade.

Mas o texto do panfleto aqui publicado não é um apelo à apresentação democrática de propostas aos concidadãos que o punhado de "bloguers" deste "blogue" defende (ou, pelo menos, o Miguel), nem era a eles especificamente que eu dirigi a minha análise anterior quando falei de "bloguers", mas sim aos proponentes do panfleto.
O panfleto é a manifestação de um entusiasmo ressabiado com a "rua", que o Povo relegou para um plano menor como arena de discussão política, talvez porque tenha percebido que a dinâmica da "rua" faz ascender lideranças com posições que não são as suas, porque na "rua" há maiorias silenciosas (quer o conceito e a memória do conceito vos agrade, quer não) que não ousam afrontar publicamente as minorias "esclarecidas" (e armadas, os cocktails Molotov servem para mostrar quem manda) em votações, normalmente, de braço no ar.
É a esperança de que a "rua" reapareça como forma de decisão política, com as infinitas possibilidades de manipulação que permitem, aí sim, conduzir o rebanho à tosquia e ao matadouro.
E por isto, e porque suponho que não é isto que o Miguel no fundo quer, vou ousar responder-lhe que se calhar é o Miguel que pode não estar a ver bem...

Um abraço

Joana Lopes disse...

Miguel SP,
Pelo muito que o M. Vilarinho Pires já escreveu na C. de Comentários deste blogue, não vejo como possas falar, a seu respeito, da «falha da perspicácia a que nos habituou». Podes discordar dele – e eu discordo quase todos os dias – mas isso é outra coisa. Se há algo que não lhe falta é perspicácia.

Manuel VP,
Não existe «o punhado de "bloguers" deste "blogue"», mas sim um conjunto de pessoas, com afinidades mas também com muitas diferenças, e cada um assume a responsabilidade pelo que assina. E, no caso concreto deste «post», já manifestei, ali mais para cima, que não me identifico, de todo, com o estilo deste panfleto.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Joana,

Obrigado pelas simpáticas palavras, que podem talvez pecar por injustas...
Eu não levei a mal a qualificação do Miguel, se calhar até por vaidade, interpretei-as sim como a "falar para dentro do grupo", correndo também o risco de estar a ser injusto na minha apreciação.
E também se calhar mereci alguma desqualificação porque, como te lembras, ainda há poucos dias escrevi que as "bloggers" deste "blogue" eram mais perspicazes do que os "bloggers"...

Uma das coisas que me irritam é quando alguém me qualifica como integrante de um grupo de que não faço parte, e a tua observação merece-me por isso a maior atenção.
Quando usei o termo (até algo depreciativo) punhado de "bloggers" não me referia às pessoas deste "blogue", mas aos proponentes do panfleto.
E vi que tu não concordas com ele.
É verdade que depois, no último comentário, acabei por aplicar o termo ao colectivo deste "blogue", e espero que se tenha percebido que sem a carga depreciativa da utilização original, agora associando-os a uma causa genérica de aprofundamento da democracia e de exercício da cidadania mais activo, que é normalmente verbalizado pelo Miguel, e me parece relativamente consensual entre vós, se bem que também possa nisso ter errado.
Se errei, peço desculpa da minha forma habitual e, infelizmente, frequente, dizendo "point taken".
Um abraço

Anónimo disse...

MV Pires: Lembra-se quando me pôs a chorar " lágrimas de sangue " por dizer mal dos anarquistas? Tem todo o direito de exprimir o que quer. Nos limites da lógica constitucional da República Portuguesa pos 25/4, no entanto. E agora vou-lhe dar- gratuita e amigávelmente - um conselho: o J.M. Keynes disse um dia- e cito de memória-que a melhor receita para ultrapassar a crise é a dinâmica imparável criada pela procura/debate e concretização de ideias, conceitos e proposições tendo em vista tentar ultrapassá-la.E a nossa crise é estrutural: económica, política e cultural! Já vi que se exprime muito bem, por que não tentar aperfeiçoar os seus grandes- imagino!- conhecimentos de economia ou da área do sua formação? Cordialmente, Niet

Manuel Vilarinho Pires disse...

Caro niet,

Está a dizer que eu sou bem falante, mas ignorante.
Mas como o diz dentro dos limites permitidos pela Constituição da República Portuguesa pós 25 de Abril, eu não só aceito a opinião, mesmo discordando, como sou capaz de me bater, dentro das minhas possibilidades, pela sua liberdade de a exprimir.
E discordo na parte em que diz que me exprimo muito bem!

Não sendo economista, não tenho uma bagagem por aí além de tiradas de economistas para usar em discussões... mas já percebi, e ao partilhar isto vou procurar agradecer o seu conselho gratuito e amigável, que políticos gastadores gostam de evocar Keynes, que ajudou a tirar a economia do abismo nos anos 30, para justificar a sua propensão permanente e incontrolável para gastar, que nos conduziu ao abismo em que agora estamos. Por isso, quando ouço evocar Keynes (não por si, evidentemente) deito logo a mão ao bolso da carteira para ver se algum político de mão de veludo e pé leve não se terá antecipado a agarrar nela...
Um abraço

Anónimo disse...

Caro MV Pires: Um breve flash final! A minha irmã mais velha - que estudou em Coimbra- pôs-me nas minhas mãos- tinha eu 16 anitos- a peça de teatro do A. Camus- Os Justos. Foi uma revolução para mim, percebe o feeling? Fraternalmente, Niet