Usando a matemática eleitoral como referência, 92 em cada 100 portugueses votantes não deseja ver-se “grego”. Mas para 8 em cada 100, por ideologia ou cumplicidade eleitoral, ansiosa por “porrada” que substitua o chato jogo democrático, a pior coisa que podia politicamente acontecer seria a estabilização da situação financeira, social e politica na Grécia, quando a expectativa é que os confrontos se prolonguem e alastrem Europa fora rumo ao apocalipse revolucionário com a violência vestida de parteira da história. E a Grécia prometia como foco depois do churrasco libertador de três trabalhadores bancários. É disso, não de “ajudas”, que se alimenta a paranóia dos revolucionários entediados com o debate de ideias e a medição pelo voto quando as tiranias iluminadas se aproximam nas brumas das condições objectivas e subjectivas. Porque votar, votar revolucionariamente, só assim. Sobretudo agora, depois de um 1º de Maio dos menos mobilizadores de que há memória. Nem votos nem ruas? Saltem brasas do churrasco grego.
(publicado também aqui)
07/05/10
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5 comentários:
O problema do voto é que ele se esgota. Repare que a maioria dos portugueses votou PS e não se revê no PEC uns meses depois das eleições. O mesmo na Grécia...
caro joão tunes,
esse uso da matemática eleitoral parece-me bastante "preconceituoso". Eu ainda percebo a crítica permanente à direcção do PCP (que não confundo com o partido). É uma crítica que percebo e que assino por-baixo em relação a vários pontos, embora não a todos e, não sei, talvez não os que tu considerarás mais importantes. Mas este salto do PCP para o eleitorado do PCP parece-me muito forçado...
Além de que, historicamente, tenho sérias dúvidas sobre se é possível aplicar ao PCP a tese do "quanto pior, melhor". (Sendo que, acrescento, o que é "pior" e o que é "melhor" não é nada de absolutamente claro...)
abç
o PEC é só o início do fim da social democracia.
A "horrível" social democracia, o sistema venal em que temos vivido melhor ou pior desde o derrube do fascismo e que trouxe um inegável aumento de qualidade de vida a milhões de pessoas.
Agora sim, o triunfo do "neoliberalismo" que se julgava varrido para o caixote do lixo da história.
Os gregos vão acabar por engolir a pastilha e nós idem, se não quisermos voltar para o campo cultivar hortas como os argentinos tiveram de fazer há uma década.
E isto acontece no meio daquilo que alguns viram como "o fim do capitalismo"...
Com a ficção do capitalismo "a desmoronar-se" que se viveu ao longo do último ano, qual foi a estratégia política dos nossos "partidos de esquerda"? Aliar-se à direita para abater por todos os pretextos (e usando, essencialmente, argumentos de direita) o único governo democraticamente eleito mais ou menos de esquerda, da forma mais ténue que se queira, que teremos, se calhar, nas próximas décadas.
Onde estão afinal as "alternativas"? Zero.
Restam estes actos simbólicos e o palavriado ôco herdado dos grandes movimentos sociais de há um século atrás, ou as fórmulas mumificadas do tipo "continuar abril" ou "fascismo nunca mais"...
resta a "insatisfação" das massas. Mas essa é só da boca para fora.
Camarada Zé Neves,
Nem com aspas te atiro uma etiqueta à cara a abrir (muito menos a fechar e nem pensar metê-la pelo meio). Porque embora seja transmontano criado no Barreiro, fatalidades que me deviam dar tesura no trato com a impertinência dialogante, gosto de tratar bem, de forma gregária e não grega, no respeito para com convicções alheias, os meus camaradas (no caso, camaradas de redacção deste blogue colectivo). E no momento em que me sentir tentado a etiquetar prosa alheia mas camarada, até porque o que me dá gozo neste blogue é a sua pluralidade (aprendo com isso e assim tempero as minhas convicções, desafio mais rico que mil salamaleques do monolitismo espiritual), sei que é hora de zarpar. E, por isso mesmo, é que desde que "aqui cheguei" ainda não tirei a mochila das costas.
Mas tenho uma razão adicional, além do fair-play na polémica, preciosismo intelectual e burguês que muito estimo, mais que churrascar trabalhadores bancários como se estes fossem demónios feito pessoas do capital financeiro, para não ir pelo teu caminho. E essa razão é que concordo que foi abusiva a equivalência que fiz entre as posições da direcção do PCP e o seu eleitorado. Até digo mais, esmiuçando a escala, o mesmo abuso seria de assinalar se feita entre a direcção do PCP e os seus militantes com cartão, quota paga e tarefas em dia. Só que esse "gap", que conheço tão bem como as palmas da minha mão, é um problema de cidadania dos da "não equivalência". Por isso o post, por isso não te recomendar a leitura regular do "Avante" nem seuqer a última entrevista da Judite ao Jerónimo na "parte grega".
Não percebi. Aqui o escriba ficou irritado com o voto do PC e feliz com as três mortes e a fraca mobilização do 1º de Maio?
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