Pedro Santos Guerreiro escreveu um bom editorial sobre a impenetrável opacidade do acampamento do Rossio para os nossos media. Em Madrid há notícias, no Rossio há, quando muito, um fait divers.
Mas ele remata a peça de forma algo desfocada: «Os jornais não podem ser parte do sistema ensimesmado. Porque os jornais são protectores das libertações e das democracias. Como aconteceu em Tahrir.»
O que acontecia no Egipto era que os maiores órgãos de comunicação tinham o governo como accionista; sendo a sua independência extremamente restrita. O que aconteceu durante os protestos foi que só a meio dos acontecimentos é que as redacções deixaram de tratar os insurrectos como "traidores" ou "agentes estrangeiros" – quando os seus editores começaram a ser substituídos, seguindo o desabar do regime de Mubarak. Ou seja, os media egípcios comportaram-se como mais uma peça do edifício de domínio estatal; não como entidades angelicais, imunes aos ditames deste mundo, livres para propiciarem a sua desinteressada protecção aos justos e aos livres.
No papel de veias por onde correu a informação e a organização dos protestos, surgiram novos canais, descentrados, com legiões de autores, tão livres quanto multíplices. E de nada adiantou a Mubarak querer silenciar o Twitter ou desligar toda a internet; nem de nada adianta hoje tentar recuperar um estatuto sobre-humano de patrono da liberdade para o jornalismo.
27/05/11
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1 comentários:
Não são anjos.
São moscas.
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