06/05/11

O risco da senilidade precoce no Bloco

Parece que no Bloco de Esquerda se anda agora a descobrir o perigo do “voto útil” no PS que ameaça penalizar o Bloco e inaugurando a sua regressão eleitoral (pelo menos Rui Tavares e Ana Drago publicitaram esta preocupação). Ou seja, teme-se o “regresso às origens” dos votos que desandaram da banda esquerda do eleitorado tradicional do PS e que, por descontentamento com a viragem centrista socrática, rumaram para o Bloco. Naturalmente que o susto provocado pelo desaforo descontrolado e inepto do PSD que eleitoralmente promete (!) fazer pior e mais gravoso que o FMI tende a encaixar na táctica eleitoral armada por um Sócrates em perda de todo o decoro mas com uma estratégia eleitoral muito bem esgalhada em termos de polarização das culpas. Mas o próprio Bloco em vez de procurar culpas alheias devia repensar os seus disparates políticos, em particular a forma progressiva como tem descaracterizado as suas diferenças e se entranhou num processo de mimetização com o PCP como que em penitência pelo “desvio” da campanha por Alegre (que o PCP retribui, com manha de urso velho, suspendendo as diatribes sectárias dirigidas ao BE mas dando-lhe um papel de mero candidato a futuro Verdes II). A recusa de se encontrar com a “troika”, um acto de radicalidade inteiramente estúpida, foi a demonstração acabada da forma bloquista de se remeter para as margens do jogo político, comprometendo-se na representação da duplicidade democracia/revolução. O Bloco ao querer parecer-se com o PCP perde o apelo da sua marcha de identidade que foi o seu principal património eleitoral, o que liquida o seu papel de depósito de votos volantes (descontentes, de protesto) dos incapazes de hierarquizarem os valores da justiça social e da liberdade. Têm, naturalmente, o direito a sonharem integrar uma “CDU +”. Mas na hora de pedirem contas pelos efeitos do voto útil, não se devem esquecer que há sonhos que matam a vida. Na medida em que a tornam senil sob a forma de doença precoce.

7 comentários:

Ana Paula Fitas disse...

Bom texto, meu amigo... Bom texto!
... assim o leiam com a inteligência que lhe é devida - se lhes não faltar "engenho e arte"!
Um abraço.

Miguel Serras Pereira disse...

Sempre acutilante camarada João Tunes,

o que escreves é uma evidência, ainda que eu gostasse de insistir que o recuo não se traduz apenas - nem talvez principalmente - em perdas e danos eleitorais (mas, uma vez que o BE vai a votos, esse aspecto não só não pode ser contornado como é o sintoma mais visível da "descracterização" a que te referes).

Dito um pouco mais amenamente, o que se passa é que é um discurso desmobilizador o que sugere tacitamente que o importante é votar contra Sócrates e que perante isso as diferenças pouco contam ou devem ser postas entre parênteses - e, ainda por cima, sem acrescentar, como o PCP não se esquece de fazer, que se é a única força que dá garantias de travar consequentemente o combate.

Discurso desmobilizador e duplamente: no plano interno do campo de influência do BE, mas também, e em termos mais graves, no da consciência política dos cidadãos em geral, uma vez que tende a confortar a ideia de que, bem vistas as coisas, não há alternativa de transformação do regime senão nos termos em que o PCP a afirma.

Mete-se pelos olhos dentro que, neste momento, o alargamento de uma oposição política radical à reciclagem autoritária do regime, seria tão importante marcar diferenças de princípio em relação ao PCP, ao mesmo tempo que expor claramente um conjunto de pontos fundamentais que definissem uma plataforma de acção aberta à e promotora da participação de todos os que, independentemente das suas convicções partidárias ou apartidárias, a quisessem fazer sua, sem terem para isso que se subordinar à direcção do próprio BE. E aqui não seria só o discurso veiculado pelos porta-vozes autorizados do BE que teria de mudar, mas também o modo como se chega a ele, o regime interno de tomada de decisão e debate, os métodos de organização, e por aí fora.

Abraço amigo para ti

miguel(sp)

LAM disse...

Nem sempre se entende muito bem o que se quer dizer quando se fala em entendimentos entre o BE e PCP. As opiniões que se vão lendo sobre o assunto, não falam todas na mesma coisa.
(Curiosamente, quando estava a ler este post, estava o Gil Garcia a falar na tv). Gil Garcia defende aquilo que J. Tunes, e bem, considera o desastre para o Bloco: "juntar-se à CDU sem mais. Uma espécie de CDU+, como diz. Ora isso seria a perda de todo o capital de diferença com que se impôs até há bem pouco tempo, e poder de atracçaõ de grande parte da esquerda. Seria a curto prazo a fossilização do BE. Outra opinião sobre isso, na qual me incluo, é a criação de uma nova plataforma eleitoral que incluísse esses partidos e que abri-se o máximo possível à sociedade, integrando e destacando não só outras organizações política, como vozes apartidárias e/ou independentes. Esta será a única forma de sair do gueto político e social em que está a esquerda parlamentar e que, também assim, mantém toda a esquerda não representada. O defendido por Gil Garcia tem como efeito o contrário disto.

João Tunes disse...

Olá Ana Paula.

De acordo no essencial, Miguel (SP).

Percebo e acho teoricamente (ou seja, quanto a intenções) desejável o "plano" defendido pelo LAM. O problema é a questão da hegemonia.

Miguel Serras Pereira disse...

Caros João e LAM,

sobre as diferenças de tónica que há entre as nossas posições, talvez o problema seja eu tender a ver a "unidade na acção" e a "abertura" como devendo resultar mais de um conjunto estruturado e com princípios de medidas democratizadoras concretas (propostas a traduzir em reivindicações, etc.) do que da assinatura de acordos. Sem excluir, evidentemente, a possibilidade de adesão de várias forças e/ou militantes/simpatizantes delas a uma plataforma programática de medidas/exigências mínimas que não seja em si própria "partidária" ou simples efeito de uma "coligação" partidária.
Nesta perspectiva, a convergência terá de ter por alvo bases mais amplas do que as do PCP e BE e de se endereçar não às bases deste ou daquele partido, mas às convicções e aspirações das camadas populares e da grande maioria dos cidadãos.

Mas, como disse, creio que estas diferenças de tónica na formulação não implicam desacordo quanto ao essencial ou, mais prosaicamente, quanto aos pontos de partida.

Abraço democrático

miguel(sp)
P.S. Decepcionadíssimo - como já previa - com o discurso de Louçã e com permanência do céu nublado e encobridor de horizontes que prenuncia. A menos que… mas não vou pôr-me a divagar sobre o que seriam para mim surpresas benvindas numa organização da qual não sou membro. Limito-me a assinalar que a ocultação das diferenças não parece compensar, como decorre do discurso de Jerónimo sobre a "mania das grandezas" (leia-se "insuficiente vassalagem") do BE - e o pior é que receio que, uma vez mais, não haja répilca à altura

Ana Paula Fitas disse...

Olá meu bom amigo João Tunes :)
... pois... não resisti: fiz 2 links e deixo 2
Abraços :))

Anónimo disse...

Só se engana quem quer. O BE sempre foi a UDP, a LCI. o PCP-ML, o major Tomé (que esconderam na gaveta porque era incómodo). Pois o BE está a voltar às origens donde nunca deveria ter saído. São mentirosos, aldrabões q.b.. Um cáfila de incompetentes, sem ideias apenas à procura de tacho. Enfim, não fazem diferença nenhuma dos outros partidos, aliás como seria de esperar. Os portugueses são todos iguais e entram nos partidos que entendem à procura de melhor vida para eles próprios, claro. O resto é treta.