20/12/10

E outras sentenças do mesmo género


Mas todos devem reconhecer comigo que mais vale que o inimigo conheça os desígnios honestos de um Estado do que permaneçam ocultos aos cidadãos os maus desígnios de um déspota. Os que podem tratar secretamente dos negócios do Estado têm-no inteiramente em seu poder e, em tempo de paz, estendem armadilhas aos cidadãos, como as estendem ao inimigo em tempo de guerra.
Que o silêncio seja frequentemente útil ao Estado, ninguém o pode negar; mas ninguém provará também que o Estado não pode subsistir sem o segredo. Entregar a alguém sem reservas a coisa pública e preservar a liberdade é completamente impossível e é loucura querer evitar um mal ligeiro para admitir um grande mal. O mote daqueles que ambicionam o poder absoluto foi sempre que é do interesse da Cidade que os seus negócio sejam tratados secretamente, e outras sentenças do mesmo género. Quanto mais estas se cobrem com o pretexto da utilidade, mais perigosamente tendem a estabelecer a escravidão.
Bento Espinoza, Tratado Político

10 comentários:

Anónimo disse...

clap clap clap clap clap (sem ironia)

Carlos Vidal disse...

Caríssimo
Achas que o pobre do João Lopes, o "Baudrillard para tias", leu alguma coisa do nosso compatriota Baruch? Aquilo é só fatinhos Massimo Dutti. Não passa dali. CV

Iohannesmaurus disse...

Parabens pela citaçäo do Espinosa: acho-a muito oportuna, mas nâo acredito que o Assange seja Espinosista. O Assange acredita na soberania e no poder como conspiraçâo, ao passo que para Espinosa o poder é simples correlaçâo de forças entre o soberano e a multidâo. Desenvolvi um bocado esta questâo no meu blog: http://iohannesmaurus.blogspot.com/2010/12/wikileaks-existe-un-obsceno-secreto-del.html
Acho que não é apenas quem pratica o segredo de Estado que reforça a soberania, mas tambem quem acredita no segredo.

Ana Cristina Leonardo disse...

O GRANDE Espinoza acabou mal (e nós não vamos para melhor).

misantropo e classista disse...

pois , o segredo dá lugar a 3 tipos de humanos : os super sujeitos , cheios de direitos ,até fazem as leis à maneira deles ; os sujeitos ( devem ser os tais de mediadores) de direitos e alguns deveres , sobretudo lamber botas dos super sujeitos ; e os não- sujeitos , a maioria , os que só servem para meter nas urnas cheques em branco e pagar as contas e que , coitados , só devem...
e não é uma maravilha ter tanta gente a dever ?

Ricardo Noronha disse...

«Baudrillard para tias» é rotundamente certeiro. Diria até que é uma definição do caravaggio.
Estava eu tranquilamente a ler o baruch quando deparo com esta passagem, minutos depois de ter escrito sobre os argumentos do João Lopes. Foi como se o messias tivesse passado à minha frente.

Ana Cristina Leonardo disse...

chamar "messias" ao espinoza não deixaria de fazer rir o filósofo.
:-)

M. Abrantes disse...

Está para se ver se o 'melão por abrir' Wikileaks está em contraponto com a musiquinha deste texto. O que menos precisamos, neste momento, é de maestros apressados.

Ricardo Noronha disse...

Não lhe chamei messias. Comparei apenas o impacto da sua leitura a uma experiência messiânica.

Ricardo Noronha disse...

Nesse caso, M.Abrantes (?), do que é que mais precisamos? Maestros indolentes?