26/02/11

As pessoas decentes deviam emigrar* [excepto os porcos nas casas celtiberas perseguidos pela ASAE, mudou o quê?]

A Portugal

Esta é a ditosa pátria minha amada.
Não, nem é ditosa porque o não merece,
nem minha amada, porque é só madrasta
nem pátria minha, porque eu não mereço
a pouca sorte de ter nascido nela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
Quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela
Saudosamente nela,
Mas amigos são por serem meus amigos
e mais nada.
Torpe dejecto de romano império,
Babugem de invasões,
Salsujem porca de esgoto atlântico,
Irrisória face de lama, de cobiça e de vileza,
De mesquinhez, de fátua ignorância.
Terra de escravos, de cú para o ar,
Ouvindo ranger no nevoeiro a nau do Encoberto.
Terra de funcionários e de prostitutas,
Devotos todos do Milagre,
Castos nas horas vagas, de doença oculta.
Terra de heróis a peso de ouro e sangue,
E santos com balcão de secos e molhados,
No fundo da virtude.
Terra triste à luz do Sol caiada,
Arrebicada, pulha,
Cheia de afáveis para os estrangeiros,
Que deixam moedas e transportam pulgas
(Oh!, pulgas lusitanas!) pela Europa.
Terra de monumentos
em que o povo assina a merda
o seu anonimato.
Terra-museu em que se vive ainda
com porcos pela rua em casas celtiberas.
Terra de poetas tão sentimentais
Que o cheiro de um sovaco os põe em transe.
Terra de pedras esburgadas,
Secas como esses sentimentos
De oito séculos de roubos e patrões,
Barões ou condes.
Oh! Terra de ninguém, ninguém, ninguém!
Eu te pertenço.
És cabra! És badalhoca!
És mais que cachorra pelo cio!
És peste e fome, e guerra e dor de coração!
Eu te pertenço!
Mas seres minha, não!
Jorge de Sena

* a propósito da "polémica" sobre a "geração parva" e de certos comentários, como por exemplo este, que provam à saciedade que há uma estupidez especificamente portuguesa (e eu nem acho graça à música)

6 comentários:

Luis Rainha disse...

A haver uma "geração parva", só pode ser a da tal Stilwell...

António Geraldo Dias disse...

Dizia o poeta guatmalteco Luiz Cardoza y Aragón que a poesia é a única prova concreta da existência do homem.

P.A. Lerma disse...

Bem havia 1582 comentários com vários graus de parvoeira que tal como o de Jorge de Sena, têm as pequenas razões e pequenas irracionalidades.

Porquê? Porque mesmo se os receios do Stupid Power fossem verdadeiros e se tivéssemos sido atingidos em grande por uma explosão de stupid power, ao longo dos séculos houve sempre a hipótese de fazer alguma coisa.

Há sempre três grupos de pessoas estúpidas, aquelas que nada sofrem com as crises e olham de alto os miseráveis, aqueles que estão ao abrigo do estado ou dos seus empregos e comendas e se conformem
e os estúpidos que sofrem nos tempos de vacas magras e que morrem, suicidam-se, arrastam-se na existência, juntam-se em bandos e tornam mais miserável de outros miseráveis ou formam associações à zé do telhado ou emigram.

Em qualquer caso todos fazem afirmações estúpidas para libertar pressão e õ medo de perderem o muito ou o pouco que têm.

Pois a vida é incerta e a morte tudo tira e excepto para os deuses a morte chega depressa

Por isso é melhor preocuparmo-nos com a nossa estupidez pessoal, que todos a temos e menos com a dos outros, colectiva ou individual

Assi as coisas melhoram

Anónimo disse...

josé agostinho baptista
Minha amiga Catarina (perdão, minha amiga Cristina da mui digna Olhão) ouve uma coisa pois não duro sempre: cada vez há menos gente a pensar como tu, a sentir como tu e,sobretudo, a ter a coragem de dizer publicamente o rei vai nu (isto é, na REPÚBLICA DOS BANANAS, o presidente vai nu, o engenheiro (?) vai nu, tudo vai nu), a árvore só dá frutos podres, o que importa é o tacho, lixar o parceiro, trepar um degrau, comprar mais um carro, mais um apartamento, ir 10 dias ao Brasil, papar jantares sobre caminhas de ervas, com postinhas, linguadinhos, legumezinhos, lombinhos, inhos, inhos. Dá-lhes um tiro. Ou esquece. Mergulha no mar, navega, canta. Eles não te merecem. A malta, a maltinha, os filhos de São Valentim, do Halloween, e qualquer dia do 4 de Julai.

Ámen.

Anónimo disse...

Palermas e rainhas já nós temos cá, o MSP quando virá?

"Só sábios eramos sete" - De um livro de Fiolsofia pós 25 de Abril.

Sentida homenagem a um País que não ensinou nada a esta gente, que falhou no passado, não aprende no presente e hoje projecta-se na Deolinda.

Anónimo disse...

off topic:

http://4.bp.blogspot.com/-ITbVNtWT9uI/TWgoYlMzhgI/AAAAAAAAJ4s/RsbehbvKbZY/s1600/Jornadasedi%25C3%25A7ao.jpg