24/02/11

Internacionalismo letárgico ou selectivo?

O sempre vibrante e atento CPPC parece ainda não ter dado pelo que se passa na Líbia. Aguardamos em jubilosa esperança que também por ali se venham a lamentar as décadas de «repressão, sem liberdade de expressão ou associação ou reunião», «de miséria e desemprego para o povo, mas de corrupção e obsceno enriquecimento da classe dirigente», antes apontadas ao ogre Mubarak.
Enquanto não chegam instruções vindas das catacumbas da Soeiro, aquela malta deve estar a analisar com atenção a tese de Fidel, segundo a qual Kadafi está a defender o seu feliz país de uma terrível invasão dos esbirros da Nato.
É mais uma careca que se descobre ao imperialismo: afinal, são aviões americanos disfarçados que andam a massacrar os manifestantes líbios.

14 comentários:

Luis Rainha disse...

Estou a ser mauzinho: lá pela Soeiro até já condenaram a repressão, também na Líbia.

josé manuel faria disse...

Sem citar o nome do ditador e muito preocupados com a perda de integridade da Líbia. Até parece que Khadafi era um bom líder, pois mantinha o povo no seu devido lugar.

Luis Rainha disse...

O PCP condena a repressão que se faz sentir em países como o Iémen, Bahrein, Argélia, Marrocos e Líbia. Apela à resolução pacífica dos conflitos internos na Líbia, chama a atenção para os perigos que, no quadro de uma grave situação interna, pendem sobre a independência e integridade territorial deste País e alerta para as manobras protagonizadas pelos EUA, União Europeia e NATO que, demonstrativas da sua política de dois pesos e duas medidas, suscitam profunda inquietação quanto aos riscos de intervenção externa neste País.

Anónimo disse...

O comentário de José Manuel Faria revela algum incómodo. É que, com a sua desonestidade intelectual característica (que, falando francamente, já mete nojo), tinha reproduzido no seu blog o parágrafo do comunicado do PCP citado no comentário seguinte do Luis Rainha, mas eliminando cirurgicamente a primeira frase, precisamente a que continha a referência explícita à repressão na Líbia e a partir da qual se fazia a ligação para o resto do parágrafo.

Anónimo disse...

Luís Rainha: tenha um mínimo de seriedade e dê-se ao respeito, se quer que os outros o respeitem. As suas observações sobre o que disse o Fidel têm um nome - deturpação.

Fidel chamou a atenção para a forte possibilidade duma intervenção dos USA/NATO na Líbia. Na própria Aljazeera já noticiam isso...

http://english.aljazeera.net/news/americas/2011/02/2011223225218542841.html

anónimo que assina miguel disse...

Parece que o Fidel está mais bem informado do que o Rainha: Obama admite intervenção na Líbia

Miguel Serras Pereira disse...

Fidel fala do crime que seria uma intervenção da NATO na Líbia; mas não fala de crime a propósito da repressão exercida por Kadhafi e o seu regime. Do mesmo modo, põe a "independência nacional" - entendida como sinónimo da soberania do regime líbio - acima da defesa dos direitos e liberdades da população do país.
E o PCP, um pouco mais cautamente, perante a insurreição apela à solução pacífica dos conflitos, para marcar a sua equidistância relativamente às partes, sem apoiar sequer a reivindicação popular que pede o afastamento do ditador. Ou seja, assume, perante o que se passa na Líbia, a posição inicial do governo português - e a posição inicial dos EUA perante a insurreição egípcia. Digamos que, no essencial, a sua posição é, neste caso, a de Berlusconi: dessolidarizar-se dos "excessos" do tirano sem incorrer no "excesso" de reclamar a sua queda.

msp

Anónimo disse...

Miguel Serras Pereira...

Fidel afirmou taxativamente: "ninguém no mundo jamais ficará de acordo com a morte de civis indefesos».

Pode confirmar: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=10&id_news=496192

Mas ao contrário do si, o Fidel consegue perceber isto:

«Nada teria de estranho a intervenção militar na Líbia, com o que, além disso, garantiria à Europa quase dois milhões de barris diários do petróleo».

finalmente, numa nota de optimismo e crença na força dos povos setencia: «A política de saque promovida pelos Estados Unidos e os seus aliados da NATO no Médio Oriente entrou em crise».

Ficou claro ou é preciso um desenho? É que você tem tanta coisa por onde pegar que nem precisa de inventar: retempere os gulgas e tianamen - são sempre êxitos garantidos

Miguel Serras Pereira disse...

Anónimo das 16 e 29

Sim, Fidel afirmou taxativamente tudo isso e muito mais. Nomeadamente, falou de crime a propósito de um cenário hipotético e absteve-se de falar dos crimes efectivamente em vias de comissão pelo regime líbio.

Quanto ao resto, se a política dos EUA para a região "entrou em crise" e se os EUA tentam agora reorientá-la, isso é já uma vitória parcial das revoltas. Impor aos EUA, se houver força para tanto, uma outra atitude não é coisa de somenos.

msp

Luis Rainha disse...

Miguel,

Não me parece que adiante muito argumentar contra quem vê no Fidel um arauto da verdade.
Mais lhes valia admitirem a verdade: o PCP sempre olhou com desconfiança para as amizades que o CPPC mantinha com o regime líbio. Mas sempre ia sendo um amiguinho mais ou menos clandestino e incómodo.

Miguel Serras Pereira disse...

Tens razão, Luis. E, em abono da verdade, houve em sectores, estranhos ao PCP, que se reclamavam (por antífrase) da "revolução socialista", cumplicidades com a Líbia mais pesadas. Mas lá que o ardor que mostram, militantes ou companheiros de jornada do PCP, no apoio aos revoltosos do Egipto e da Tunísia se tempera notavelmente - para dizer pouco - no caso da Líbia é um facto incontestável, politicamente eloquente e, para nosso mal, nada inesperado.
Abrç

msp

Anónimo disse...

Estas vossas deambulações roçam o SURRRREAL.

Luis Rainha disse...

"Surreal" implica coisa boa, certo?

Anónimo disse...

Os tentáculos do polvo imperialista já estão na Líbia... Se calhar o Fidel sabia o que estava a dizer quando defendia que eram os interesses (leia-se petróleo) dos EUA e dos seus lacaios que estavam em jogo.