10/02/11

Viagens

Sobre este post: é falso que só o PCP tenha combatido a ditadura. E é uma falsidade que não passa a ser verdade por existir muita gente que desvaloriza o papel do PCP no combate à ditadura. Aliás, de acordo com a narrativa do post os esforços frentistas de homens como Bento Gonçalves, entre outros, nunca existiram. Nem tão pouco tiveram razão de ser as estratégias unitárias levadas a cabo sob a direcção de Álvaro Cunhal. Ou então seria tudo fogo de vista.

No princípio dos anos 30, aliás, entre o reviralhismo de uns e os anarquismos de outros, o comunismo do PCP não só não era a única força que "optou" por combater a ditadura, como o mais certo, de acordo com o actual estado do conhecimento, será afirmar que era apenas uma entre as restantes forças que combatiam a ditadura.

Tenho um extraordinário respeito por todos os que lutaram contra o fascismo e, por razões pessoais, tenho uma admiração muito particular pelos militantes do PCP que estiveram nessa luta. Mas não tenho simpatia nehuma por quem viaja a esse passado (outros viajarão de outras formas, é certo) procurando nele as raízes do sectarismo de hoje.

21 comentários:

Filipe Diniz disse...

E, caro senhor, onde é que está nesse post a afirmação de que o PCP foi a única força que combateu o fascismo?
Não é por se encher a boca com o "sectarismo" que se atribui a outros que deixa de se praticar uma das formas mais violentas de sectarismo: a de falsificar as posições de outros para confirmar o seu próprio preconceito.

Zé Neves disse...

caro senhor,

está aqui: "Eram, então, os anos da construção da mais longa ditadura fascista da Europa. O povo português assistia ao esmagamento do movimento sindical e operário, à proibição dos partidos e ao encerramento dos seus jornais. Nesse contexto, só o PCP optou por resistir e prosseguir o combate"

passar bem

Anónimo disse...

No que respeita aos partidos políticos, a que se refere a frase transcrita, isso é um facto. Por exemplo, o velhinho partido socialista não sobreviveu à ilegalização determinada pela Constituição fascista de 1933.

Relendo o texto com mais atenção percebe-se que a negativa interpretação de Zé Neves é abusiva. E francamente disparatada na sua afirmação final.

Zé Neves disse...

anónimo,

O post diz:

"Eram, então, os anos da construção da mais longa ditadura fascista da Europa. O povo português assistia ao esmagamento do movimento sindical e operário, à proibição dos partidos e ao encerramento dos seus jornais. Nesse contexto, só o PCP optou por resistir e prosseguir o combate"

eu digo que é falso que só o PCP tenha resistido e combatido.


zero de abuso.

Anónimo disse...

zé neves

"eu digo que é falso que só o PCP tenha resistido e combatido."

venha a demonstração, então.

rg

Ricardo Noronha disse...

O Partido Socialista e a CGT atravessaram várias tentativas de reorganização falhadas durante os anos 40. A reorganização encetada no PCP em 1940-41 foi bem sucedida e praticamente criou um partido novo, afastando aquela que era a direcção em funções.
Uma vez que a escala temporal do Bruno Carvalho é Fevereiro de 1931, torna-se necessário dizer que em Agosto desse ano o Reviralho lançou o seu derradeiro levantamento militar. E em 1934 a greve geral contra o decreto sindical foi levada a cabo em conjunto por anarquistas, comunistas e socialistas. Se fôssemos para o pós-guerra a afirmação do Bruno Carvalho revelar-se-ia ainda mais frágil.
O mais caricato disto tudo é que este assunto já foi abordado no 5 Dias, com argumentos praticamente idênticos, mas inversos, pelo Ricardo Santos Pinto (http://5dias.net/2009/03/04/memorias-do-%C2%ABreviralho%C2%BB-i/ e http://5dias.net/2009/03/04/memorias-do-%C2%ABreviralho%C2%BB-ii/)

Miguel Serras Pereira disse...

Ó Zé e ó Ricardo, parece-me, malta, que vocês não estão a perceber o filme. Mas este é simples e conhecido. Só a delicadeza do Sr. Diniz e do Sr. Anónimo RG & Cia os leva a deixarem implícita, pedagogicamente, a tese que defendem.
Ou seja: "só o PCP optou por resistir e prosseguir o combate" quer dizer o seguinte: 1. Só o PCP se bateu correctamente; 2. Os outros que se bateram fizeram-no sob uma direcção errada e abusiva, inconsequente e divisionista, ao serviço de outros interesses de classe, contrariando os esforços do PCP; 3. Pondo em causa ou tentando enfraquecer a direcção da luta pelo PCP, que, só ele, podia "resistir e prosseguir o combate", a CGT e os outros acabaram por formar um conjunto de forças reaccionárias que optou por reforçar e apoiar a mais longa ditadura fascista da Europa.

Não é difícil, pois não?

Abrçs

miguel(sp)

Filipe Diniz disse...

Exemplar: o sr. Serras Pereira faz o favor de preencher os espaços que eu "por delicadeza" deixei em branco. Estão bem um para o outro. Um abusa do texto, o outro debate, não o que é dito, mas o que acha que foi dito. Vão longe, o sectarismo anti-PCP de braço dado com a desonestidade intelectual.

Zé Neves disse...

Filipe Deniz,

Vai reler o teu primeiro comentário e a minha resposta no segundo comentário.

E poupa-me ao "anti-PCP". Era o que faltava que por criticar um post do Bruno Carvalho e um comentário teu eu estivesse a ser anti-PCP. Não duvido da importância que tu e o Bruno Carvalho terão na organização, mas não confundas duas árvores com uma floresta.

Ricardo Noronha disse...

Ao menos já se distingue o "sectarismo anti-PCP" do "anticomunismo". As coisas começam a compor-se.
Caro Filipe Diniz, se, como afirma o Bruno, "só o PCP optou por resistir e prosseguir o combate" (ainda não percebi se subscreve ou não esta afirmação)então parece que isso equivale a dizer que "o PCP foi a única força que combateu o fascismo", pelo menos a partir do momento em que foi publicado o Avante!.Onde é que está aqui a desonestidade intelectual ou o abuso do texto?

Anónimo disse...

O Bruno referia-se aos partidos políticos que vinham da primeira república, que já agonizavam e viriam em breve (num máximo de dois anos) a extinguir de todo a sua actividade.

Ricardo Noronha disse...

Bom, então ainda bem que alguém que não o Bruno nos veio dizer o que é que ele queria realmente dizer.

Anónimo disse...

o texto do zé neves reafirma as preocupações do PCP sobre a iliteracia em Portugal.
Saber ler e interpretar dá jeito......

Bruno Carvalho disse...

Bem, é um facto que me referia à única força enquanto partido porque, naturalmente, houve muitos antifascistas sem partido que se bateram contra o regime. E a maioria deles bateu-se ao lado do PCP em organizações e movimentos de carácter unitário.

Ricardo Noronha disse...

É um facto que aquilo que escreveste ali não é o mesmo que estás a escrever agora. E que, ao longo dos anos 60 e até ao 25 de Abril, surgiram outros partidos que também combateram o fascismo.
Mas fica esclarecido que não achas que, naquele contexto "só o PCP optou por resistir e prosseguir o combate".
Siga a marinha.

Anónimo disse...

Se o Ricardo Noronha se der ao trabalho de ler a frase por duas vezes transcrita neste trilho de comentários pelo seu colega Zé Neves, poderá constatar que era claro (para os que querem compreender e não deturpar) que o Bruno se referia aos partidos políticos existentes, acabados de mencionar na frase anterior.

Mas surpreende-me sempre a capacidade notável desta gente para decretar como factos as suas torcidas opiniões e interpretações. Deve ser porque julgam que "contra factos não há argumentos"...

Miguel Serras Pereira disse...

Escrever: ""Eram, então, os anos da construção da mais longa ditadura fascista da Europa. O povo português assistia ao esmagamento do movimento sindical e operário, à proibição dos partidos e ao encerramento dos seus jornais. Nesse contexto, só o PCP optou por resistir e prosseguir o combate", é diferente de escrever: "é um facto que me referia à única força enquanto partido porque, naturalmente, houve muitos antifascistas sem partido que se bateram contra o regime. E a maioria deles bateu-se ao lado do PCP em organizações e movimentos de carácter unitário".
Mas a emenda, se é um pouco menos má do que a versão anterior do soneto, continua a não ser verdadeira.
Joga-se aqui com a palavra "partido" para sugerir que, além do PCP, terão decerto existido "muitos antifascistas sem partido que se bateram contra o regime", mas que o PCP foi a única organização ou a única força organizada a fazê-lo. Ora, no período em apreço, exstiram, como o Ricardo Noronha já explicitou, não só antifascistas avulsos e "unitários", mas forças organizadas e activas que, com iniciativa própria, também se bateram contra a ditadura - e, a seu modo, contestaram e disputaram a legitimidade da direcção da "unidade" proclamada pelo PCP.
Se considerarmos o período que vai de 1931 a 1974, teremos de falar, em termos variáveis conforme os subperíodos, de socialistas, de forças republicanas, da CGT, de diversos movimentos "católicos", das dissidências comunistas, da FPLN, da Acção Socialista, da LUAR, do PRP-BR… para citar por atacado só estas organizações. E é isto que a reformulação do BC continua a escamotear.

msp

Bruno Carvalho disse...

Sinceramente, não vou contribuir para este peditório. "Nesse contexto, só o PCP optou por resistir e prosseguir o combate". E que contexto foi esse? O contexto referido na frase anterior: "O povo português assistia ao esmagamento do movimento sindical e operário, à proibição dos partidos e ao encerramento dos seus jornais". Ou seja, todos os partidos até aí existentes acabam paulatinamente por desistir do combate. Posteriormente, mais tarde, começam a surgir outras organizações, já noutro contexto. Sobre este assunto, sintam-se esclarecidos ou então vitimizem-se à vontade e insistam que estaria a falar em todo o período que vai até 1974.

Miguel Serras Pereira disse...

BC,
não vai insistir mais neste peditório? Nem uma moedinha para a CGT? Eu sei que não era um partido propriamente dito, mas nem por isso pode ser reduzida a meia-dúzia de antifascistas (se é que você lhes reconhece ao menos esse título) avulsos…
Também sei que o espectro do anarquismo, sobretudo quando organizado e através das suas propostas de organização - do regime das lutas - incomoda muita gente - não vá o seu passado revelar-se ainda vindouro.

msp

Ricardo Alves disse...

Bruno Carvalho,
se se refere, por exemplo, ao Partido Democrático da primeira República, vá ver muito bem se «abandonaram» a luta depois de 1926. É que a revolta de janeiro/fevereiro de 1927, mais ameaçadora para a ditadura do que qq coisa que o PCP tenha feito, foi obra dos republicanos. Que nessa ocasião foram fuzilado, presos, deportados.
Houve dezenas, senão centenas, de mortos. Entre eles, civis dos centros republicanos de Lisboa e alhures (as estruturas de base que sobravam do PRP).
E as conspirações e revoltas continuaram até 1931, ano em que a Madeira chegou a estar nas mãos do reviralho durante semanas. Não tenho conhecimento de que o PCP alguma vez tenha «libertado» uma parcela do território nacional, mas talvez me possa elucidar.
E mesmo depois de 1931 as conspirações e movimentações continuaram, embora cada vez mais clandestinas e dependentes dos exilados.
«Abandonaram»?!
Não. Foram derrotados. Presos, deportados, demitidos das forças armadas, etc. Não se esqueça de que estamos a falar de redes constituídas por militantes já conhecidos e identificados por duas ou três décadas de activismo político.
Recomendo a leitura do Luís Farinha.

Quanto ao sector sindicalista revolucionário da resistência ao fascismo, tem uma história honrosa, que inclui um papel muito maior do que o que o PCP lhe concede, por exemplo na revolta de 1934. E houve o atentado ao Salazar. Que poderia ter mudado radicalmente o regime.

Tudo dito, reconheço que o PCP se tornou hegemónico na resistência organizada ao Estado Novo. Mas só a partir de 1940. E só porque os outros foram reprimidos duramente.

Ricardo Noronha disse...

De tudo isto se conclui que as palavras são importantes e nada custa meditar um pouco acerca de quais poderão exprimir mais rigorosamente aquilo que se pretende afirmar.
O que o Bruno pretendia escrever é pacífico. O que o Bruno efectivamente escreveu é falso.
Vitimizações, má-fé e etc. são apenas choraminguices para contornar esta evidência.