Hoje foi divulgado um manifesto designado por "O que fazer quanto à dívida e ao euro?". Defende um posicionamento interessante: a resistência ao austeritarismo ao nível de cada Estado deve decorrer em função das condições locais, não se subordinando à necessária coordenação a nível europeu; tendo em conta a baixa probabilidade de ter lugar, por via dum consenso entre os Estados membros da UE, uma mudança radical de políticas a nível das suas instituições, nomeadamente Comissão e BCE, terá de ser através de situações de conflito geradas pelos Estados onde a Esquerda consiga colocar-se em posição de influência (por via de eleições ou através da rua) que será possível forçar tal mudança. No manifesto, são então mencionadas várias medidas que tais Estados poderiam tomar no âmbito desse conflito, sem descartar a ameaça e mesmo eventual concretização duma saída da zona euro. É, no entanto, defendido que essa saída não é desejável, nem deve ser por isso ponto de partida da Esquerda.
O que existe de mais original no manifesto é o elenco de medidas que um Estado em conflito com as instituições da UE poderia tomar para se tentar proteger duma quebra de financiamento da sua economia, sem ter de sair da zona euro. Infelizmente, parece-me que nenhuma seria particularmente eficaz. Aliás, o problema principal com que se depararia um Estado que enveredasse pela via do conflito com as instituições da UE seria uma imediata e brutal quebra de confiança dos agentes económicos (produtores, investidores e consumidores) e na solvabilidade do sistema financeiro. A degradação da situação económica seria ainda mais rápida do que a actual, levando à (quase) paralisia da actividade económica e ao desaparecimento dos fluxos de financiamento. Em tal situação apenas o Estado tem capacidade para manter a actividade económica e o financiamento da economia, para o que precisará de enormes quantidades de moeda. A não ser que as instituições da UE se vejam então obrigadas a mudar de política, numa questão de meses, a introdução duma nova (forma de) moeda nacional (que poderia existir a par do euro como moeda oficial, se bem que em violação dos tratados europeus) será inevitável. Espero que estejam também a reflectir sobre o melhor modo de o fazer.
06/05/13
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1 comentários:
Um manifesto que enuncia simplesmente uma estratégia política de governo dentro do rotativismo político da chamada democracia representativa...Quando o necessário era uma estratégia social, e internacionalista, de resistência assente na luta de classes.
Os dirigentes e militantes da esquerda, mesmo da chamada esquerda radical, sempre ficam centrados nas suas estratégias de governo, a luta social é um mero instrumento ao serviço do seu acesso ao Poder. Velha questão que já vem dos primórdios do movimento operário. No entanto já sabemos no que dá quando a luta social, e as ruas, servem as estratégias das elites políticas de tipo social-democrata ou das vanguardas revolucionárias.
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