No entanto, a dificuldade acima descrita, também decorre da ausência duma visão alternativa do tipo de relações económicas desejadas numa sociedade, e em particular, que possa ser apresentada de modo simples e facilmente apreendida no âmbito duma discussão pública. É que não basta dizer, ou insinuar, que não queremos empreendedores. Á maior parte das pessoas isso soa o mesmo que afirmar que não queremos que exista quem tenha iniciativa, implicitamente deixando a entender que no tipo de sistema económico desejado as pessoas não precisariam de a ter porque haveria um Estado omnipresente que a todos empregaria. Para quem, como eu (e o Libertário), não acha tal desejável, a ênfase deve então ser colocada no interesse social da iniciativa individual, que é importante, mas apenas se as consequências forem socialmente positivas, o que requer cooperação entre todos os envolvidos, democracia na tomada de decisões e justiça na distribuição dos resultados obtidos.
24/05/13
Sobre o empreendedorismo
por
Pedro Viana
Empreendedorismo é um neologismo, criado para reforçar a ilusão de que o Capitalismo é um sistema onde qualquer pessoa pode enriquecer, bastando para isso ter iniciativa. Sendo este último conceito tido habitualmente como positivo, não devia espantar a dificuldade à Esquerda em construir um discurso capaz de desmontar a ilusão do empreendedorismo. Não que muitos nessa Esquerda se importem. Há sem dúvida quem prefira atirar sempre com a mesma "cassete", ensaiada vezes sem conta, até porque lhes parece mais confortável a "sua barricada", em vez de optar por construir uma narrativa que não contrariando frontalmente o "senso-comum", leve as pessoas a reflectir sobre as suas convicções.
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2 comentários:
O que pretendo é chamar a atenção que está na hora dos que não se reconhecem na submissão ao trabalho assalariado capitalista debater a possibilidade de construir formas de produção cooperativas e auto-gestionárias não obstante o cerco capitalista. A meu ver tal como na história passada vimos novas formas de organização e produção burguesas surgirem no Antigo Regime, novas formas de vida, produção e organização, podem, e devem, surgir dentro do capitalismo e do Estado.
É uma velha discussão travada desde o século XIX no movimento socialista sobre as comunidades e cooperativas que vale a pena ser retomada. Até porque cada vez mais o Estado e o Capitalismo nada tem a oferecer, pelo menos no campo do trabalho, aos desempregados. Obviamente poderão sempre se manifestar nas ruas, mendigar, suicidar-se ou roubar...
Esta capacidade de acção, iniciativa e risco das pessoas, que os liberais querem direccionar para tal «emprendedorismo» capitalista, infelizmente é cada vez menos comum numa certa esquerda que deseja um Estado que lhes garanta a sobrevivência e o futuro.
Para os que detestam o sistema capitalista e o Estado penso que resta a autonomia e auto-organização. A todos os níveis...
Concordo completamente.
No entanto, devemos interrogarmo-nos porque é que tal via, apesar de trilhada desde sempre (aliás, o Estado e o Capitalismo cresceram em cima duma rede de comunidades localizadas e cooperativas, que desde então têm ajudado a destruir), nunca conseguiu que o Estado e o Capitalismo desaparecessem. Julgo que a resposta está na falta de ambição e coordenação de esforços. Tais comunidades e cooperativas, habitualmente, acabam por se centrar exclusivamente na resolução dos seus problemas, não percebendo que muitos deles não se resolverão, ou mesmo agravar-se-ão, na ausência dum esforço colectivo. Que não deve apenas manifestar-se sob a forma de ajuda mútua, mas que tem também de contribuir para o desenvolvimento duma contra-narrativa coerente que faça frente à ideologia dominante, permitindo alargar o apoio social ao ponto em que a oligarquia perde o controlo do Estado e dos mecanismos que lhe permitem impôr o Capitalismo.
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