Ao longo da história, quer deste feudo quer de outros, houve todo um conjunto de gente fixe que foi acusada de «traição à pátria». Utilizar tal menção honrosa no ataque a Gaspar é, no mínimo, ou falta de memória ou overdose de pátria. Convinha, deste ponto de vista, dar-lhe mais na classe do que na pátria. Com o risco de, qualquer dia, se acabar por fazer alianças com qualquer um - desde que seja da tal pátria. Tipo, sei lá, o Soares.
31/05/13
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3 comentários:
José Nuno,
Houve um tempo em que ser traidor à pátria era o título de orgulho de toda a extrema-esquerda, tanto anarquista como socialista. Aliás, foi essa a crítica de esquerda feita às sociais-democracias em 1914, a de não terem traído as respectivas pátrias. Fala-se muito do 25 de Abril como um movimento de libertação, mas em alguns casos não o foi, e todos os que eram desertores sabem as dificuldades que tivemos em nos legalizar. Aliás, o facto de a revolução ter sido militar contribuiu decisivamente para o funesto nacionalismo (ou patriotismo, como lhe quiserem chamar) da esquerda portuguesa actual.
O discurso «patriótico» já vem de longe na esquerda, desde a social-democracia europeia que abandonou o internacionalismo na I Guerra Mundial em favor dos seus nacionalismos até aos Partidos Comunistas que adoptaram o abertamente o discurso nacionalista a partir dos anos 30.
As obras de Cunhal a partir principalmente dos anos 60 estão marcados pelos apelos nacionalistas e patrióticos no que foi mais longe que qualquer outro dirigente comunista. No entanto, se pensarmos que as lutas de libertação na Ásia e em África também tiveram por eixo central o discurso patriótico, a começar pelos comunistas chineses, pode-se compreender como o internacionalismo fundador do socialismo do século XIX foi colocado na gaveta em resultado do pragmatismo táctico que pensava que há que ter um discurso «fácil» e «apelativo» para um povo formatado numa cultura nacionalista.
Acontece que hoje a retórica nacionalista não só é mais reaccionária que no passado como resulta em políticas impotentes face ao «internacionalismo» das elites e do Capital...
O Libertário fala com toda a razão sobre o facto de o discurso patriótico vir de longe. Mas aqui quero só fazer uma breve correcção e lembrar que as obras do Cunhal são fortemente nacionalistas não apenas nos anos 60 mas logo no início dos anos 40 aquando da reorganização do PCP. Basta lembrar que foi num informe ao III Congresso do PCP que Cunhal lança a palavra de ordem de união entre os portugueses honrados e chega mesmo ao ponto de propor que dissidentes fascistas da Legião Portuguesa se juntassem a essa aliança nacional.
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