Ignoro
se todos os que acompanham o Vias de Facto lêem os pasquins que vão enchendo as
bancas para acabar depois em papel reciclado …
Para
quem não seja adicto a estas actividades pouco lúdicas e cada dia de pior
qualidade, e também para quem o facto tenha passado despercebido, aqui se
reproduz o texto corrosivo do amigo Luís Oliveira que o Público aceitou publicar
no domingo, dia 2 de Junho. Que, justamente, destoa da parvoíce e do consenso
dos comentários geralmente impressos. E fica-se espantado que uma direcção de
jornal, tão respeitosa das instituições, cultura e costumes patrióticos tenha
tido a ousadia de imprimir «nossa senhora de fátima» em minúsculas !? As
dúvidas chegaram assim a este ponto ? Uma concessão que, se calhar, lhes
vai custar algumas receitas publicitarias …
O obscurantismo está de volta
«Nós, que nos contentamos com o prazer da
destruição, passaremos algures sobre os muros do silêncio face às decepções
cruéis.»
Ribemont-Dessaignes
Somos (des)governados por homens de madeira –
Portas e travessas, Cavacos que se atiram para a fogueira – e por animais –
Coelhos et al.
Regressámos ao obscurantismo, vivemos sob o signo
de nossa senhora de fátima – já Tomás da Fonseca falou disso na sua Cova dos
Leões – e numa «democracia» cristã em que as pessoas estão possuídas pelo medo
e pela angústia de um futuro incerto. Os governantes de Portugal podem ser
classificados como supressores, que anulam qualquer manifestação de vida, venha
ela da esquerda ou da direita, dois sistemas de dominação, claro, mas ainda
assim onde pode haver vitalidade.
Voltámos, pois, às banalidades de base: somos
invadidos quotidianamente pelo futebol em casa através da televisão, nos táxis,
na rua, nos cafés, nas escolas, enfim, em todos os quadrantes da existência
humana.
Todos aqueles que nos governam são ditadores
encobertos, mas poderiam ser ditadores descobertos se tivessem condições para
isso. Que não nos restem dúvidas!
Ancorados em eleições ganhas pelos seus partidos,
partidos da alienação, reivindicam legitimidade para todo o tipo de
arbitrariedades, de trafulhices e até de crimes.
São terroristas cobertos e encobertos ao serviço de
comunidades com a cumplicidade daqueles que votam, por ignorância, por
conveniência e até por ritual. Nesses não há inocentes, nunca houve. Já Émile
Henry, quando um senhor juiz qualquer lhe perguntou porque esperou até às 21:00
para colocar uma bomba no café do Hotel Terminus em 1894, respondeu que às
18:00, hora a que lá estivera antes, ainda havia pouca gente.
«“E não acha que havia inocentes no café”,
perguntou o senhor doutor juiz a Émile Henry. “Para mim não há inocentes, pois
todos votaram.”»
Há países onde ainda não existe plebiscito, e esses
também não são melhores do que aqueles onde esta farsa se pratica. Hoje, a
igualdade entre ditadores e tiranos é uma evidência; não vale a pena gastar
papel a discutir tal mediocridade já socializada.
O que podemos nós fazer então?
Resistir a todas as formas de opressão e de
obscurantismo, ler cada vez mais obras contra o sistema dominante, desobedecer,
à maneira de Thoreau, que não pagava impostos, declarando publicamente que o
Estado não tinha nada que ver com a sua vida;
não alinhar com esta canalhada do poder, e insultá-los
em todos os lugares onde se mostrarem;
exercer formas de luta nos locais de trabalho e
fora deles;
manter uma atitude de entusiasmo face às decepções
cruéis.
Luís Oliveira
Editor da Antígona
P.S. Agradeço que «nossa
senhora de fátima» seja impresso como está, ou seja, em minúsculas.
1 comentários:
Sim, jorge é o Luís no seu melhor - escapou-me completamente a publicação, como penso que terá sucedido a outros que limitam ao mínimo a atenção à imprensa da região.
Aqui fica um abraço para ti - e um, à cautela, para o Luís, que talvez passe ocasionalmente os olhos pelo Vias
msp
Enviar um comentário