03/06/13

Para começar com inteligência uma semana que vai ser como as outras…



 Ignoro se todos os que acompanham o Vias de Facto lêem os pasquins que vão enchendo as bancas para acabar depois em papel reciclado …
Para quem não seja adicto a estas actividades pouco lúdicas e cada dia de pior qualidade, e também para quem o facto tenha passado despercebido, aqui se reproduz o texto corrosivo do amigo Luís Oliveira que o Público aceitou publicar no domingo, dia 2 de Junho. Que, justamente, destoa da parvoíce e do consenso dos comentários geralmente impressos. E fica-se espantado que uma direcção de jornal, tão respeitosa das instituições, cultura e costumes patrióticos tenha tido a ousadia de imprimir «nossa senhora de fátima» em minúsculas !? As dúvidas chegaram assim a este ponto ? Uma concessão que, se calhar, lhes vai custar algumas receitas publicitarias …


O obscurantismo está de volta

«Nós, que nos contentamos com o prazer da destruição, passaremos algures sobre os muros do silêncio face às decepções cruéis.»

Ribemont-Dessaignes

Somos (des)governados por homens de madeira – Portas e travessas, Cavacos que se atiram para a fogueira – e por animais – Coelhos et al.
Regressámos ao obscurantismo, vivemos sob o signo de nossa senhora de fátima – já Tomás da Fonseca falou disso na sua Cova dos Leões – e numa «democracia» cristã em que as pessoas estão possuídas pelo medo e pela angústia de um futuro incerto. Os governantes de Portugal podem ser classificados como supressores, que anulam qualquer manifestação de vida, venha ela da esquerda ou da direita, dois sistemas de dominação, claro, mas ainda assim onde pode haver vitalidade.
Voltámos, pois, às banalidades de base: somos invadidos quotidianamente pelo futebol em casa através da televisão, nos táxis, na rua, nos cafés, nas escolas, enfim, em todos os quadrantes da existência humana.
Todos aqueles que nos governam são ditadores encobertos, mas poderiam ser ditadores descobertos se tivessem condições para isso. Que não nos restem dúvidas!
Ancorados em eleições ganhas pelos seus partidos, partidos da alienação, reivindicam legitimidade para todo o tipo de arbitrariedades, de trafulhices e até de crimes.
São terroristas cobertos e encobertos ao serviço de comunidades com a cumplicidade daqueles que votam, por ignorância, por conveniência e até por ritual. Nesses não há inocentes, nunca houve. Já Émile Henry, quando um senhor juiz qualquer lhe perguntou porque esperou até às 21:00 para colocar uma bomba no café do Hotel Terminus em 1894, respondeu que às 18:00, hora a que lá estivera antes, ainda havia pouca gente.
«“E não acha que havia inocentes no café”, perguntou o senhor doutor juiz a Émile Henry. “Para mim não há inocentes, pois todos votaram.”»

Há países onde ainda não existe plebiscito, e esses também não são melhores do que aqueles onde esta farsa se pratica. Hoje, a igualdade entre ditadores e tiranos é uma evidência; não vale a pena gastar papel a discutir tal mediocridade já socializada.
O que podemos nós fazer então?
Resistir a todas as formas de opressão e de obscurantismo, ler cada vez mais obras contra o sistema dominante, desobedecer, à maneira de Thoreau, que não pagava impostos, declarando publicamente que o Estado não tinha nada que ver com a sua vida;
não alinhar com esta canalhada do poder, e insultá-los em todos os lugares onde se mostrarem;
exercer formas de luta nos locais de trabalho e fora deles;
manter uma atitude de entusiasmo face às decepções cruéis.

Luís Oliveira
Editor da Antígona


P.S. Agradeço que «nossa senhora de fátima» seja impresso como está, ou seja, em minúsculas.

1 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Sim, jorge é o Luís no seu melhor - escapou-me completamente a publicação, como penso que terá sucedido a outros que limitam ao mínimo a atenção à imprensa da região.
Aqui fica um abraço para ti - e um, à cautela, para o Luís, que talvez passe ocasionalmente os olhos pelo Vias

msp