Uma parte da esquerda portuguesa rendeu-se recentemente aos encantos do Brexit. Não há nenhuma explicação razoável para fundamentar esta simpatia. Em resumo -estamos perante posições vincadamente "resumidas" - estando a União Europeia tão degradada, tão longe da ideia fundadora, alguma coisa tem que ser feita, e, quem sabe, o Brexit pode ser um toque a rebate que permita relançar a ideia de progresso e de justiça social no território europeu. De certo modo o mais substancial dos argumentos que se pode escutar resume-se no slogan popularizado pelo clown brasileiro que apelava ao voto no Tiririka já que "pior do que está não fica".
O problema é que quem apela ao voto no Brexit, quem liderou a campanha do Brexit, não foi o Tiririca, foram os racistas ingleses, foram os xenófobos ingleses, é a ala mais radical do partido conservador. Esta esquerda, eternamente adiantada mental, recusa-se a perceber que defendendo o Brexit, está ao lado das facções mais xenófobas que pululam pela Europa, e que apelam a um nacionalismo feroz, de antanho, de carácter senão fascista, pelo menos pré-fascista.
É por isso que esta esquerda revela uma dificuldade enorme em perceber o que se tem estado a passar no Reino-Unido. Uma divisão entre as facções mais moderadas e mais extremistas dos conservadores, que levaria à vitória do Brexit, não fora a posição do Labour. Um conflito entre a xenofobia soft de Cameron e a xenofobia hard de Boris Johnson e de Nigel Farage, mas entre dois pólos igualmente xenófobos. A vitória, que eu antecipo, do Remain, é, neste contexto de divisão da direita, uma enorme vitória do Labour - o partido socialista com a direcção mais à esquerda no contexto europeu - e abre grandes possibilidades a um futuro próximo regresso ao poder dos trabalhistas e a mudanças na governação da UE. Com Corbyn na liderança do Governo de sua Majestade, o capitalismo não irá acabar, nem de perto nem de longe, mas, isso é seguro, a oligarquia que tem dominado a Europa nas últimas décadas e os seus clones vão ter uma vida dificil. Por isso esta é uma oportunidade para a reconstrução da ideia original da Europa, para o reforço da democracia. Esta é uma grande oportunidade para a democracia e para os cidadãos, para a construção de uma nova Europa que olhe para os cidadãos como os actores da politica, os que exigem ser os actores na construção da sociedade na qual querem viver.
ADENDA: o BREXIT venceu para gáudio dos neoconservadores britânicos e da extrema-direita europeia ( e de alguma esquerda portuguesa, que se tomou de amores pelo nacionalismo, à lá Farage) O medo e a recusa do outros, a identificação dos refugiados e dos imigrantes com todos os males que afectam as pessoas. O desemprego, a perda de direitos sociais, a crise da habitação, o aumento da desigualdade não são culpa das opções politicas, internas e externas, são resultado da imigração excessiva e de fronteiras abertas para receber refugiados. Com o Brexit todos os problemas se resolvem.
23/06/16
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