24/06/16

Poderá a Inglaterra vir a manter-se na União Europeia?

O voto a favor da permanência na União Europeia foi claramente maioritário nas regiões escocesa e do norte da irlanda. Parece-me inevitável que no prazo de 1 a 2 anos, sejam feitos referendos nessas regiões sobre por um lado a saída do Reino Unido, e por outro o ingresso na União Europeia (no caso do norte da irlanda, possivelmente através da reunificação com a república da irlanda). Por sua vez, tal colocaria enorme pressão sobre o País de Gales, que apesar de quem nele vive ter votado maioritariamente pela saída da União Europeia, não quererá ficar numa união claramente desequilibrada com a Inglaterra. A desintegração do Reino Unido colocará enorme pressão sobre a Inglaterra, que verá muitas das suas empresas re-localizar a sua sede, e os seus impostos, para a Escócia, como meio de assegurarem acesso à União Europeia. Ao mesmo tempo, o cisma na direita inglesa abrirá caminho à vitória do partido trabalhista, mais que não seja devido ao peculiar sistema eleitoral inglês. Desfeito o Reino Unido, com os seus antigos vizinhos (de volta) na União Europeia, afundando-se a economia inglesa na incerteza, com o partido trabalhista mais à esquerda em muito tempo no poder, e a pressão da fração mais jovem da população, re-politizada pela intensa discussão que se irá desencadear sobre a posição da Inglaterra no mundo, é uma possibilidade não tão inverosímil como isso o governo inglês vir a propor um referendo sobre a manutenção da região inglesa na União Europeia, antes de terminarem as negociações para a sua desvinculação desta.

2 comentários:

Miguel Madeira disse...

"Ao mesmo tempo, o cisma na direita inglesa abrirá caminho à vitória do partido trabalhista, mais que não seja devido ao peculiar sistema eleitoral inglês."

Mas com este referendo o cisma não terá acabado? Isto é, a partir da agora os Conservadores pró-UE já não se distinguem dos Conservadores anti-UE e do UKIP, já que a questão está aparentemente resolvida.

Pedro Viana disse...

Olá Miguel,

Haverá por parte das elites neo-liberais uma enorme pressão para que o Reino Unido consiga uma saída "soft", ou seja, mantenha acesso livre ao mercado europeu. Exigência que da parte dos Estados da União Europeia (note-se que os termos da saída do Reino Unido têm de ser retificados por todos os Estados da União Europeia) irá redundar numa contra-exigência do Reino Unido continuar a obedecer a muitas regras económicas e sociais em vigor da União Europeia. Tal não será aceitável para o UKIP, nem para os mais extremistas defensores da saída do Reino Unido da União Europeia no partido conservador. Portanto, a "guerra civil" no seio do partido conservador continuará. De qualquer modo, a instabilidade económica, e seu impacto social, impedirá qualquer possibilidade de renovação da maioria parlamentar do partido conservador. Devido ao sistema eleitoral britânico o UKIP não tem qualquer hipótese de conseguir um número de lugares significativo no parlamento, pelo menos a médio prazo, enquanto não conseguir provar que quem nele vota não está a "desperdiçar" o seu voto, contribuindo para a eleição de deputados à Esquerda.

Abraço,

Pedro