O 25 de Abril foi uma grande mudança. Que mudança maior pode existir do que passar de uma ditadura de 50 anos, carregada de repressão, com uma guerra colonial às costas, uma ditadura salazarenta, que fazia de Portugal um país amordaçado, para uma democracia, com o povo na rua a festejar a liberdade, a construir a mudança?
Desde então coisas extraordinárias aconteceram e muitas coisas correram menos bem. Os capitães de Abril, os revolucionários de então, os que tinham lutado pela liberdade, alguns pagando com a vida, não imaginariam que 43 anos depois, a sociedade portuguesa estivesse tão marcada pela desigualdade. Tão desigual. Tão pouco solidária. Com tanto espaço conquistado pela caridade e perdido pela solidariedade.
O 25 de Abril é uma data que celebra a liberdade e a mudança. É a prova de que tudo muda, nada é definitivo para o bem e para o mal.
É possível voltar a celebrar o 25 de Abril num país mais justo do que aquele que temos neste momento. Numa sociedade mais democrática, mais inclusiva, mais progressista. É possível porque Todo Cambia. Aos cidadãos compete serem os sujeitos da mudança, das mudanças necessárias.
A sensação com que fiquei do concerto foi a de que estava "meia-casa", meia praça do Comércio para ser optimista. Mas posso estar a ser injusto. No contexto da área metropolitana, com todos os concelhos a celebraram Abril, com concertos em todos eles, Lisboa canta para a sua população, que encolheu brutalmente desde o 25 de Abril.
A mesma sensação retirei no dia seguinte no desfile comemorativo que, como habitualmente, liga o Marquês ao Rossio. Depois do final do desfile, subindo o Chiado com o meu filho, com os nossos cravos, pouca gente encontrei com o cravo ao peito ou na mão. Pouca gente a falar a língua de Camões. Recordei-me outra vez da canção.
Todo Cambia. Nem sempre no melhor sentido. A rarefação de portugueses nesta nobre zona da cidade não é boa. Tem um significado politico. A cidade democrática, inclusiva, progressista, não pode sê-lo se se constrói à custa de expulsar os seus para as periferias. Essa segregação espacial imposta aos cidadãos em função do seu nível de rendimentos é chocante e viola o espírito de Abril.Mas é real. Existe e podemos senti-la, verificá-la.
Temos que ter esperança e contribuir para mudar. Sim, porque Todo Cambia. Mais tarde ou mais cedo.
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