23/07/10

Blasfémias contra a realidade

Paulo Morais também anda em cruzada contra a existência do Estado. E para tal recorre às mais poderosas das armas: a imaginação e a demagogia. Aparentemente, a crise resolvia-se com «a redução drástica do número de políticos, pelo menos para metade». Claro que, para gáudio do povão, esta classificação abarca «directores-gerais, funcionários superiores, assessores, administradores e outros doutores.» Brilhante: é doutor, logo é político, logo merece um corte.
O homem encarniça-se contra ministérios e reduz a pó as freguesias: «autarquias sem sentido, cujas competências próprias são pouco mais do que a gestão de cemitérios e cuja principal actividade é mendigar apoios às câmaras»;  convencendo-nos de que não tem ideia do que é a vida em Portugal, pelo menos a mais de cem metros do seu umbigo.
Fica-se até a pensar que o blasfemo nem sabe grande coisa do que comenta quando se lê uma passagem assim: «coexistam concelhos com quatro mil habitantes e outros com 200 mil, cujas câmaras dispõem do mesmíssimo modelo de gestão». Ora coisas elementares como o número de vereadores (e os que desempenham o cargo em exclusividade) dependem do número de habitantes de cada concelho. O que parece indiciar que o modelo de gestão poderá não ser invariante, mas enfim.
A receita continua a refulgir o simplismo do costume: «Privatize-se o sector empresarial do Estado, fonte de todos os prejuízos, de toda a corrupção e compadrio, ninho de escândalos como o "Face Oculta"». Todos os prejuízos do mundo vêm do Estado (incluindo os da CGD, por exemplo) e os escândalos até nem envolvem privados.
Deve ser tão reconfortante morar num mundinho tão singelo, claro e pequeno...

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